O jornalista e diretor-presidente da Fundação Luiz Chagas de Rádio e Televisão de Mato Grosso do Sul (Fertel), João Bosco de Castro Martins acredita que o trabalho de Roberto Higa deveria ser mais valorizado devido a importância dos registros do fotógrafo “Realmente era necessário ele já virar o palestrante de si mesmo. Ele tem muita história para contar, já era para ele receber por consultoria. Quando você valoriza o aspecto cultural do seu estado, quando você registra, resgata, quando a memória de um país é relevante, o Higa já era para estar nesse primeiro patamar dos grandes nomes”. Para Martins a história do Estado se mescla com a do fotógrafo. “Não há como você narrar a história do Mato Grosso do Sul sem passar por esse olhar enviesado do Higa”.
Para o fotógrafo Bolívar Porto, o acervo de Roberto Higa é o único que acompanhou a história e desenvolvimento do estado de Mato Grosso do Sul, pois o fotógrafo estava em acontecimentos importantes do cenário político. “Em todos os eventos, até as reuniões mais “secretas” do governo, ele fez o registro, e hoje, ele está perdendo essa memória por falta de investimento. Higa teve todas as vantagens de estar na presença sempre dos políticos, e estes, não o ajudam e nem querem saber desses registros, por falta de interesse. É uma pena quando o assunto é cultura, o governo do estado deixa como secundária todas as questões, inclusive aquelas que contam a própria história”.
A filha de Roberto Higa, Akemy Higa, que trabalhou sete anos no escritório do pai, realizou campanhas em redes sociais no ano passado para salvar o arquivo histórico do fotógrafo. "Mesmo com a repercussão da mídia, não apareceram interessados em ajudar a manter o arquivo. Fomos até o governo para reuniões, mas nada aconteceu. Quando terminaram as matérias nos veículos de comunicação a respeito do meu pai e do acervo, acabou o interesse do estado”.
Para Akemy Higa, os registros fotográficos estão em processo de perda. "A população da capital, em sua maioria, não sabem da história da cidade, e por isso não entendem a importância de preservar os registros fotográficos do meu pai, que é a própria história de Mato Grosso do Sul. Não há incentivos governamentais, o que faz com que apenas nossa família e o meu próprio pai cuide do acervo hoje".
Para o secretário de Estado de Cultura e Cidadania, Athayde Nery o acervo fotográfico de Roberto Higa necessita de uma atenção cautelosa do governo para o resgate de suas obras. “Sua fotografia é única no registro histórico, e já perdemos muitas fotografias de profissionais que não tiveram o apoio nem do governo e nem familiar para a construção de um acervo. Roberto Higa hoje é o único que tem a história dos grandes acontecimentos, desde a criação do estados às enchentes de Porto Murtinho, da intimidade com Manoel de Barros e a fotografia dos grandes festivais que revelaram artistas como Tetê Espíndola. Se houver esse descuido, as fotografias dele irão se perder com o tempo, e a história do estado também”.
Método criado por Higa para armazenar negativos antigos (Maria Pereira)
O fotógrafo Alisson Gonçalves acredita que a procura dos familiares de Roberto Higa e do próprio fotógrafo por editais de fomento à cultura para auxiliar nas exposições fotográficas é uma falta de respeito ao profissional. “Para quem registrou quarenta anos de história do estado, fotografou artistas como Délio e Delinha, Geraldo Roca, Manoel de Barros, Tetê Espíndola e a própria criação do estado, da construção de ruas e bairros de Campo Grande e tentar um edital para, talvez, conseguir um incentivo financeiro, é um desrespeito ao profissional. Dos quase cinquenta anos como fotojornalista, ele passar pela primeira vez em um fundo de investimento prova que o governo não se interessa em dar manutenção aos registros históricos, o que é um retrocesso para o setor cultural, não só para Roberto Higa, mas muitos artistas que marcaram história e não tiveram investimentos pelos editais”.
Para armazenar as fotos dos filmes negativos, Roberto Higa criou uma maneira de digitalizar as fotografias. Com o auxílio de um negatoscópio, aparelho com iluminação especial para a observação de chapas radiográficas ou negativos, e uma câmera fotográfica digital, Higa tira fotos dos filmes negativos e salva as imagens em arquivos digitais.