Artistas de Campo Grande organizaram atos em defesa da liberdade artística, após apreensão do quadro ‘Pedofilia’, integrante da série ‘Cadafalso’, que estava exposto no Museu de Arte Contemporânea (Marco), no Parque das Nações Indígenas. As manifestações e intervenções artísticas tiveram como objetivo protestar contra a censura à obras de arte, além de demonstrar solidariedade à artista mineira Alessandra Cunha, responsável pela obra. A tela, denunciada por suposto incentivo à pedofilia, estava em exposição no Marco desde julho.
O quadro foi apreendido pela Polícia Civil no dia 14 de setembro, após denúncia dos deputados estaduais Paulo Siufi (PMDB), Herculano Borges (SD) e Coronel David (PSC), à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), sob alegação de que o quadro faz apologia ao abuso sexual contra crianças e adolescentes. O quadro retornou ao museu no dia seguinte, liberado pelo delegado Fábio Sampaio, a pedido do titular da Secretaria de Estado de Cultura e Cidadania (SECC), Athayde Nery.
O Fórum Municipal de Cultura divulgou nota de repúdio no mesmo dia da retirada da obra do museu. De acordo com a nota, o gesto revela arbitrariedade das autoridades competentes e “uma extremada posição do pensamento ultraconservador que não oferece chances ao diálogo e ao entendimento do que sejam obras de arte”.
Ainda segundo o documento, a exposição tinha como objetivo denunciar o abuso sexual, e não incitá-lo. “A exposição visa a denúncia contra a pedofilia e alerta para os males que isso possa causar. As obras pictóricas são um reflexo de nosso tempo e suas contradições. As linguagens da arte são diversas, ampliam a construção do conhecimento e a liberdade criativa. As telas de Alessandra despertam debate, e nada justifica a censura porque limita a criação artística e a liberdade de pensamento”.
Acadêmicos do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) organizaram o Sarau “Não Cale a Arte”, realizado no Restaurante da Lenir, ou "Bar da Tia", localizado próximo à universidade, na semana seguinte da apreensão. No evento, foram exibidas pinturas, apresentações de dança, performances teatrais, apresentações musicais, entre outras manifestações artísticas.
De acordo com o organizador do evento, Glauber Portman a quinta edição do "Sarau da Tia" teve o intuito de defender a liberdade artística e abrir espaço para artistas independentes exibirem suas obras e apresentações. “O objetivo é não calar a arte nesse tempo que a gente está retrocedendo tanto, que está voltando a censura para casos medíocres, ... E não está entendendo o real sentido da arte, que é a liberdade de expressão, de falar a verdade, de expor isso e gritar. A arte está aí para revolucionar. Então esse foi o intuito central dessa edição”.