CONHECIMENTO

Grupo de pesquisa da UFMS disponibiliza livros de poesia clássica

O grupo de pesquisa do curso de Artes Visuais, Emancipação Humana oferece livros de poesia clássica para escola pública em malas de viagem

Fernanda Sandoval, Lorrayna Farias e Talita Oliveira24/09/2017 - 20h36
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O projeto Liberdade e Poesia disponibiliza livros da literatura clássica a bairros periféricos de Campo Grande em malas de viagem doadas. O projeto é desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Emancipação Humana do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,  com o grupo de rap La-Firma e a Escola Estadual Lino Villachá, do bairro Nova Lima . A primeira edição do evento aconteceu no dia dois de setembro, com apresentações de rap e oficinas de poesia.

As doações de livros

Duas malas com 89 livros de literatura e poesia doados foram disponibilizadas na escola parceira do projeto. Segundo o professor do curso de Artes Visuais da UFMS, Paulo Duarte Paes o número vai aumentar quando outros livros doados forem catalogados. “A ideia é que a gente tenha muitas malas rodando em vários bairros da periferia, ligando a poesia a uma crítica ao sistema que concentra riqueza, junto com a riqueza material, a riqueza espiritual”.

As malas também são doações
(Foto: Lorrayna Farias)

As doações são feitas no Sarau de Segunda, que acontece às segundas-feiras na Praça dos Imigrantes, no Bloco 8 da UFMS ou por intermédio da página do Facebook Grupo Coli$ão. Os responsáveis pelo projeto na escola fazem um registro do aluno e do livro emprestado e o prazo para devolver ou renovar o empréstimo é de 15 dias. Para Paes, o objetivo do projeto é que todos tenham acesso ao conhecimento e ele não fique concentrado em um lugar só. “A idéia é que o livro não seja uma propriedade, o livro tem que ser uma liberdade, então a pessoa usa, devolve e pega outro”.

O projeto

O acadêmico do curso de Artes Visuais da UFMS, integrante do Emancipação Humana, Nicholas Ferdinand explica que o projeto pretende atingir principalmente os alunos em situação de evasão escolar. O objetivo é aumentar a prática de leitura dos jovens, "que é pouco comum hoje em dia com a era digital e a falta de tempo em que vive a sociedade".

Segundo Ferdinand, o projeto e a prática de leitura de clássicos da literatura podem influenciar na formação pessoal dos alunos por levar conhecimento teórico a partir da universidade e mostrar que existem outras oportunidades além da que eles têm na comunidade. “Como a gente vai cobrar de um jovem ali da comunidade seguir um caminho que ele não conhece? As pessoas que são referência para eles estão ali dentro e as ações que são referência também estão. Então levar algo diferente e que eles nunca tiveram oportunidade de conhecer mais a fundo é importante”.

A escola

O diretor da Escola Estadual Lino Villachá, Olivio Mangolim explica que com a antiga gestão nenhum tipo de atividade era realizada em prol dos estudantes. Ele ressalta que agora a escola está sempre aberta a receber projetos que beneficiem os alunos e que possam mudar a antiga imagem.

Mangolim afirma que o aluno deve saber que é capaz de se tornar o que quiser e o projeto leva a eles essa possibilidade. Para o diretor, a leitura é a melhor forma de aprender. Ele destaca que um projeto realizado junto à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que disponibilize livros da literatura clássica para um bairro periférico é muito importante para a formação desses jovens na sociedade e para a participação da comunidade com a escola, que prioriza o conhecimento.

O professor do curso de Artes Visuais da UFMS, Paulo Duarte Paes procurou a professora de História da escola, Karinne Martins Esteves para propor a realização do projeto. Ela e a professora de Matemática, Francielle Cristina Pereira dos Santos ressaltam a divulgação dos eventos e a forma de fazer os alunos se interessarem. Elas afirmam que os alunos duvidaram da veracidade do projeto, por não ter algo parecido antes e que o objetivo é fazer com que mais pessoas participem.

Para Karinne Esteves, o projeto é importante para "mostrar uma nova visão aos alunos no contexto em que vivem, que a leitura transforma e é símbolo de resistência". O projeto despertou interesse dos alunos e a escola pretende estendê-lo à comunidade.

As malas

Para Francielle dos Santos, a proposta dos livros disponibilizados em malas é poética. "É uma mala que te leva para outros lugares, para outros mundos, cheia de livros".

La-Firma

Os rappers Junior Orneles, Lucas Ferreira, Abraao Barreto, Rodrigo Camargo e Luan Fioravante são integrantes do grupo La-Firma, convivem com os alunos durante as ações do projeto. Fioravante é morador do bairro Nova Lima e ex-aluno da Escola Estadual Lino Villachá e ressalva que “por incrível que pareça eu acho que teve um maior acesso pelos alunos que são ruins nas matérias. As pessoas que mais pegaram livros são as pessoas que não se dão bem na escola”. Para ele, esse acesso à leitura pode ajudar o aluno a se identificar mais com a escola e a falta de acesso fez diferença no tempo em que ele estudava “Me fez sair daqui [escola], fez com que eu não entendesse a escola, não entendesse o social”.

   Um dos integrantes do La-Firma é ex-aluno da escola
   (Foto: Fernanda Sandoval)

Fioravante destaca que a leitura traz vários benefícios e um deles é fundamental. “A importância que eu acho maior é romper o paradigma social e pessoal e o acesso à leitura faz muito isso. O seu pessoal com o seu celular é você, Facebook e várias pessoas, o seu pessoal e o livro é você e sua consciência”. Para Camargo, os livros são uma forma de aprendizagem à parte e oportunidade de dar a própria interpretação ao que foi lido. “O importante é essa oportunidade de estar aberto ao conhecimento. Um livro aberto é um cérebro falando, um professor”.

Eles ressaltam que os alunos se interessam em participar mais quando veem que se trata de um projeto diferente, realizado por pessoas de fora da escola, além das professoras, e que assim a divulgação e empréstimo de livros tem um resultado maior. 

O evento

A Escola Lino Villachá realizará, no dia 29 de setembro, intervenções artísticas no intervalo das aulas e uma oficina teórica sobre o grafite, que antecede a oficina prática no dia sete de outubro, data do próximo evento. O grupo Emancipação Humana pretende levar o projeto para outros bairros periféricos de Campo Grande, além do Nova Lima.

 

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