CULTURA

Memorial da Cultura Indígena é revitalizado pela Prefeitura com o apoio do governo do Canadá

Projeto foi realizado em parceiria com o governo canadense por meio do programa "Fundo Canadá para Iniciativas Locais"

Diego Eubank, João Victor Reis e Raira Rembi10/04/2018 - 13h52
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O Memorial da Cultura Indígena foi revitalizado em parceria da Prefeitura de Campo Grande com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR) e com o Governo do Canadá. O projeto faz parte do “Fundo Canadá para Iniciativas Locais”,  que realiza trabalhos humanitários e investe em ações promovidas por governos locais em países em desenvolvimento. Artistas canadenses, brasileiros e indígenas estiveram presentes na reinauguração do Memorial revitalizado.

A gerente de patrimônio cultural da SECTUR, Lenilde Ramos afirma que o Memorial é o ponto de encontro de todas as etnias presentes em Campo Grande. “Na Capital existem nove aldeias urbanas e cerca de dez mil indígenas. Esse memorial foi construído para que todas essas etnias possam ter uma forma de conviver com a sua cultura, bem como desenvolve-la e estudá-la”. O Memorial estava abandonado e vandalizado, para Lenilde Ramos isso representava a situação de muitas aldeias, “Muitas aldeias são desassistidos, violadas em seus direitos. A reconstrução desse memorial significa também a responsabilidade que a secretaria do município tem com a reconstrução das culturas indígenas presentes em Campo Grande e no estado”.

Segundo Lenilde Ramos, o Memorial sediará vários cursos dedicados a revitalização e manutenção das culturas indígenas, "Haverá cursos de indumentária, no qual os indígenas aprenderam a reconstruírem seus trajes típicos. As crianças terão curso de idioma e arte". De acordo com a gerente de patrimônio cultural, a embaixada do Canadá incentiva a revitalização das culturas indígenas, "A prefeitura da cidade precisava fazer isso e o embaixador do Canadá concedeu o recurso necessário para que a prefeitura pudesse esse projeto".

De acordo com o embaixador do Canadá, Riccardo Savone em sua primeira visita teve oportunidade de conhecer a aldeia Marçal de Souza. “Na minha visita a Campo Grande eu tive a oportunidade de conhecer essa aldeia e o Cacique Daniel, que estava muito triste, porque a oca estava sem condições de receber convidados, para ter reuniões da comunidade, para expor a cultura local, combinamos que íamos fazer um projeto juntos para restaurar a oca e o museu”. Segundo o embaixador, a restauração do Memorial irá contribuir para o turismo da cidade e em outros aspectos para os indígenas. “Em qualquer comunidade seja indígena ou não, precisamos ter orgulho da nossa comunidade um espaço para poder mostrar nossas capacidades, compartilhar idéias e nos beneficiar de arte, além disso o memorial é um ponto turístico, alguém que estiver visitando Campo Grande vai ter acesso e saber mais sobre a cultura indígena do estado da cidade”.

Ainda segundo o embaixador, a população indígena do Canadá enfrenta problemas semelhantes ao Brasil. “O Canadá tem uma população indígena muito importante, temos os mesmos desafios e oportunidades que o Brasil. Trouxemos uma líder da comunidade indígena do Canadá para ela compartilhar o que está enfrentando, problemas de saúde, de criminalidade, econômicos e ela veio para compartilhar suas ideias, experiências e soluções.”

Para a indígena da tribo canadense Mik'maq e advogada da juventude da Associação das Mulheres Nativas do Canadá (NWAC),  Carrington Christmas é importante para os indígenas  se conectarem com os seus costumes. “Depois da colonização, os hábitos, a vida que as tribos tinham foi se perdendo um pouco. Mesmo o Brasil e o Canadá estando distante, os dois povos dividem as mesmas dores. É importante trocar esses saberes para manter a lembrança viva”. Segundo Carrington Christmas, as mulheres indígenas no Canadá são cinco vezes mais suscetíveis a sofrer violência. “Há muito o que fazer em termos de respeito da sociedade em relação aos indígenas. No momento no meu país, milhares de indígenas estão desaparecidos ou foram assassinados, que sofreram violência e depois não foram mais vistos”. 

De acordo com a representante dos direitos das NWAC, o governo canadense realiza projetos e programas políticos em prol das tribos indígenas, ainda são insuficientes. “O governo atual canadense tem feito muito mais do que o governo anterior. Mas tem muita fala e pouca ação, muitas promessas que ainda precisam ser cumpridas. No momento tem programas sendo oferecidos, mas as comunidades isoladas são difíceis de serem atingidas por essas ações.” Um exemplo de programa oferecido pelo governo canadense citado por Carrington Christmas é o “Friendship Center”. “É um programa oferecido aos povos indígenas, contendo serviço de saúde, oferecendo emprego, moradia, cerimônias fúnebres para aqueles indígenas que moram nas áreas urbanas. Assim como no Canadá, as mulheres no Brasil precisam de muito apoio de políticas do governo.”

Durante o evento houve mostras de danças e músicas indigenas. Foto: João Victor 

O secretário do Estado de Cultura e Cidadania, Athayde Nery ressalva como a primeira aldeia urbana em Campo Grande a  estava antes da reinauguração do memorial indígena. “Campo Grande tem mais de 10 mil indígenas e esse bairro aqui mesmo sendo a primeira aldeia, faltava tratamento sanitário, todos os bairros tinham esgotamento sanitário, asfalto menos aqui, existia um tratamento discriminado. Depois de uma intervenção da Cacique Inir o esgotamento sanitário foi feito, foi na base da luta”.

Ainda segundo Nery, Campo Grande precisa de uma inclusão social para os indígenas. “É preciso mexer com a questão da escola, saúde, na habitação, a produção, na inclusão institucional dos indígenas em todos esses aspectos. O Canadá também já teve um tratamento de absoluto extermínio indígena e hoje recupera isso e fazendo esse intercâmbio nós podemos evoluir muito nesse aspecto”.

Para o secretário a parceria com o Canadá pode ajudar os povos indígenas na questão econômica.”Nós podemos ter com o Canadá uma série de intercâmbios culturais, gastronômicos, de interação que signifique geração de renda e possibilita que a comunidade indígena consiga viver do seu território e isso é importante, acredito que a gente pode incorporar muitas ideias e ações que ajudem a comunidade indígena se firmar como um povo que temos respeito”.

Para o advogado e atual prefeito de Campo Grande, Marcos Marcelo Trad a  revitalização é um gesto de acolhimento à esses povos indígenas. “É um indicativo de que existem pessoas que querem a paz, homens que administram com a coletividade. O indígena é um irmão nosso, a revitalização do memorial é a demonstração mais positiva de amor ao próximo sem diferenciação.” Segundo Trad, a intenção é que as tribos consigam reafirmar sua cultura por meio do Memorial. “A história registra atos tumultuosos em relação a esse povo, mas a nova geração há de pacificar isso. Devolve a auto estima deles, esse espaço foi totalmente abandonado pela gestão anterior. Antes isso era tudo derrubado, não tinha piso, havia animais, restos de comidas, pessoas morando. Nós inserimos ele no roteiro do SECTUR.”

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