ESTIAGEM

Governo de Mato Grosso do Sul decreta situação de emergência por estiagem severa

Réguas de medição da Marinha do Brasil nos rios de Porto Murtinho, Ladário, Corumbá, Porto Esperança e Bela Vista estão classificadas como em situação de seca extrema; Ladário registrou o pior índice da história no dia 17 de outubro, com -0,69cm

Giovanna Fernandes, João Vitor Marques, Livía Medina e Keyla Santos 5/11/2024 - 11h00
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O governador Eduardo Riedel decretou no dia 18 de outubro situação de emergência nos 79 municípios de Mato Grosso do Sul devido à seca e à estiagem, pelo prazo de 180 dias. O Decreto de Emergência autoriza os órgãos do Poder Executivo a destinarem recursos humanos, financeiros e materiais para abastecimento de água nos municípios, e a mobilização de todos os órgãos estaduais para auxiliarem a Defesa Civil na contenção do cenário de seca. Os municípios ficarão dispensados, neste período, de realizar licitação para aquisição de bens necessários, prestação de serviços e obras relacionados à situação emergencial.

O rio Paraguai, que compõe a principal bacia hidrográfica do Pantanal, registrou no mês de outubro os níveis mais baixos desde o início das medições em 1900. O pior índice ocorreu no dia 17 de outubro, com -0,69cm, registrado na régua de medição instalada pela Marinha do Brasil no município de Ladário. A bacia do rio Paraguai tem 18 réguas de medição em 2.695 km de extensão. As réguas de Porto Murtinho, Ladário, Corumbá, Porto Esperança e Bela Vista, estão classificadas como em situação de seca extrema.

O coordenador geral da Defesa Civil, Coronel Hugo Djan Leite comenta que, após a decretação de estiagem em Mato Grosso do Sul, a instituição iniciou o acompanhamento do monitoramento das regiões mais críticas. Leite explica que é necessário estabelecer uma normalidade na época de chuvas para descaracterizar a situação de estiagem. “A maioria das bacias do nosso estado ainda se encontram fora da normalidade e a umidade relativa do ar se encontra abaixo do normal no período. Essas condições juntas caracterizam a estiagem no Estado”.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal, Carlos Padovani explica que a situação atual da bacia do Rio Paraguai é marcada por uma estiagem severa, que se mantém desde 2019 e atingiu em 2024 o recorde histórico. Padovani afirma que a tendência é que as chuvas sejam normais ou acima da média nos próximos meses, e que o nível do Rio Paraguai comece a subir. "Essas estiagens são de certa forma recorrentes, mas não regulares, o que gera uma grande imprevisibilidade sobre o que pode acontecer no futuro".

PRIMEIRA NOTÍCIA · Carlos Padovani - Pesquisador da Embrapa Pantanal

O biólogo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Sérgio Barreto explica que a estiagem teve início em 2019 e indica continuidade até 2025. Barreto destaca que o IHP realiza trabalho contínuo de monitoramento no Pantanal e acompanhamento de nascentes. "Estamos atuando para a correção de uso do solo em nascentes do rio Aquidauana, em São Gabriel do Oeste. Há também um monitoramento nos rios Miranda, da Prata, Betione, Salobra, do Peixe e Negro". O biólogo acrescenta que a estiagem favorece grandes incêndios que impactam o Pantanal e as comunidades ao redor. "Além do fogo, a fumaça está causando sérios danos para as pessoas de comunidades indígenas e tradicionais, e o IHP atua com voluntários da saúde na Comunidade Indígena Barra do São Lourenço e no Aterro do Binega".

O professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Ariel Gomes explica que para minimizar o impacto da seca são necessárias ações como "mobilizar esforços conjuntos entre os agentes estaduais e federais, fiscalizar rigorosamente as regras de uso das águas e monitorar continuamente os níveis de rios e as condições climáticas". Gomes afirma que a seca no Pantanal "possui impactos negativos, como o comprometimento da captação de água para abastecimento humano e a dessedentação de animais". Gomes destaca que "a seca no Pantanal é agravada por fatores como desmatamento, erosão e sedimentação, e esses fatores concorrem para o risco da perda da biodiversidade, afetando fauna e flora".

O funcionário público Vilson Rolon de Campos, morador de Porto Murtinho, afirma que o período de chuvas é imprescindível para a economia local. Campos comenta que a captação e a distribuição de água na cidade estava normalizada com o baixo nível do rio. "Os desafios econômicos são grandes, pois o foco da cidade é a agropecuária e o transporte hídrico. Com essa seca, as áreas rurais têm muita dificuldade em manter as produções pecuária e agrícola".

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