CIDADANIA

Crianças sem sobrenome paterno representam 6,6% dos nascimentos em Mato Grosso do Sul

O estado, nos últimos 12 meses, teve mais de dois mil recém-nascidos registrados com o nome da mãe na Certidão de Nascimento, equivalente a 6,6% de crianças nascidas nesse período

João Pedro Buchara; Lizandra Rocha; Douglas Rebelato; Allana Souza 7/09/2023 - 13h19
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Mato Grosso do Sul é o terceiro estado do Centro-Oeste com a maior taxa de crianças registradas sem o nome do pai. Os cartórios do estado documentaram mais de dois mil recém-nascidos com o nome da mãe nos últimos 12 meses. A proporção de crianças sem o registro do nome paterno na certidão equivalem a 6,6% dos nascimentos. 

A capital lidera a quantidade de registros de nascimento, seguido pelos municípios de Dourados e Ponta Porã. Mulheres negras em vulnerabilidade social é o grupo social mais afetado pela ausência do pai na criação dos filhos. O abandono paterno se caracteriza como material, sem apoio financeiro; intelectual sem participação no processo educacional e afetivo e interferem na vida da criança até a fase adulta.

A dona de casa e mãe solo Fabricia Maidana afirma que tem dificuldades em conciliar a vida pessoal com a criação dos seis filhos. "Minha vida pessoal ficou um pouco para trás, e agora é mais difícil fazer as coisas que costumava fazer, porque penso mais neles do que em mim". Fabricia Maidana comenta que o apoio da mãe, que também foi mãe solo, é essencial e foi a única pessoa do ciclo familiar a oferecer auxílio para a criação dos filhos.

Segundo a psicóloga Mariana Taconni, a criação do filho sem o amparo paterno resulta na sobrecarga emocional da mulher, devido a dupla de jornada de trabalho. "A mãe pode sofrer cobranças externas que consequentemente causam uma sobrecarga emocional nem sempre visível e uma das coisas mais difícies em ser mãe solo é conseguir um tempo para cuidar de suas próprias necessidades". Mariana Taconni ressalta que "a mãe pode tentar suprir a ausência paterna para a criança por meio de boas vivências ou de forma material e finanaceira por acreditar que dessa maneira a criança sentirá menos a falta do pai, mas essas substituições podem fazer com que a criança projete em outra pessoa do sexo masculino essa carência e ausência".

A psicóloga diz que uma parcela das mulheres atendidas no consultório relatam serem julgadas por familiares e pessoas desconhecidas. "Quando esse sentimento de estar certa ou errada fica muito eminente a todo momento, gera nessa mãe a insegurança sobre as próprias atitudes e decisões mediante ao filho, que além dos sentimentos presentes, essa cobrança também irá contribuir para o desenvolvimento de uma sobrecarga emocional".  A psicóloga comenta que "a mulher dedica muito tempo ao filho e aos outros afazeres domésticos de modo a ter insatisfação pessoal associado com a autoestima". 

A consultora de Projetos Sociais Helaine Bitencourt é mãe de três filhas, duas maiores de dezoito anos e uma de onze anos. A consultora destacou as dificuldades, como os problemas financeiros, que teve ao cuidar das filhas sem o apoio do pai. "Enfrentei muito preconceito, dificuldade financeira, aceitação em outros relacionamentos, jornada de trabalho dupla e falta de rede de apoio. Passei por muitos momentos desafiadores que me fizeram questionar se tinha feito a escolha certa em me tornar mãe, pois iria cuidar de outra vida totalmente dependente de mim".

Primeira Notícia · Consultora Social Helaine Bitencourt explica os valores familiares ensinados por uma mãe solo

 

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