VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Mato Grosso do Sul registra aumento de casos de violência doméstica

O estado registrou 11.244 ocorrências de violência contra mulheres desde o início do ano, um terço de todas as denúncias registradas foram de ameaças e agressões físicas, cometidas por ex-companheiros

João Pedro Buchara; Lizandra Rocha; Douglas Rebelato; Allana Souza26/08/2023 - 20h37
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Os casos de violência doméstica aumentaram 9,2% em Mato Grosso do Sul de janeiro a agosto deste ano em comparação ao mesmo período de 2022. As delegacias policiais registraram cerca de 11 mil denúncias. A capital é o município com maior número de casos, com 4.335 ocorrências.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que a quantidade de  Medidas Protetivas de Urgência  por meio da Lei Maria da Penha no estado durante o ano de 2022 ultrapassa as de 2021. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul concedeu, no mesmo ano, mais de 10 mil medidas. Ameaças e agressões físicas cometidas por ex-companheiros somam a maior parte dos pedidos.

O anuário produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela que 2021 foi o ano com maior registro de casos de violência doméstica, durante o período de isolamento da Covid 19. De acordo com a coordenadora do Centro de Atendimento da Mulher (Ceam), Sidnéia Catarina Tobias o estado fiscaliza o cumprimento das  medidas de proteção à mulheres. "Mato Grosso do Sul está à frente de muitos estados brasileiros atualmente, apesar dos nossos números serem relevantes. As campanhas educativas, o trabalho que está sendo feito pela própria polícia e pelas redes de atendimentos ajudam na eficácia da causa". 

Segundo a coordenadora, o CEAM atendeu 379 mulheres em risco de morte de janeiro a junho deste ano, com acolhimento psicossocial e abrigo. "Atendemos todas as mulheres de diferentes realidades sociais, e uma das coisas que procurei saber em uma roda de conversa que realizamos é a quantidade de mulheres que foram vítimas de agressão direta e indiretamente na adolescência. Mais de 70% cresceram em um ambiente agressivo". Sidneia Tobias explica que é importante as pessoas evitarem esse ciclo de violência na infância. 

 

A psicóloga Vanessa Camilo relata que a parentalidade interfere no comportamento das pessoas. Vanessa Camilo destacou que homens com a infância marcada pela violência doméstica têm mais chances de se tornarem agressores com o gênero feminino. "Se esse ambiente familiar for adoecido pela violência, com certeza atingirá e afetará o crescimento e a formação dessa criança, e quando se tornar um adulto vai ter em mente que a agressão é uma demonstração de amor, em geral dito pelos pais". 

Vanessa Camilo explica que a violência inicia por verbalizações de ofenças ameaças e manipulações, que  evolui até chegar ao último estágio, que é a agressão. "Nas palavras ofensivas sempre há indícios de uma violência, e essa é uma característica que a mulher precisa estar atenta, visto que essa atitude gera um ciclo de sofrimentos que pode tornar algo pior com o passar do tempo". As manipulações psicológicas podem favorecer o sentimento de culpa que algumas mulheres vítimas da relação sentem.   

Primeira Notícia · Vanessa Camilo explica como as Medidas Protetivas garantem a integridade das mulheres.

As cartilhas e propagandas produzidas por instituições como a Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres auxiliam a população a ter conhecimento do que é a violência doméstica e como agir nesses casos. A coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública (Nudem), Zeliana Luzia Sabala destaca que "a divulgação é a única maneira que podemos fazer a mulher entender que merece muito mais do que estar em um relacionamento abusivo e de maneira alguma deve sentir culpa". Zeliana Sabala relata que é necessário capacitar os oficiais da Policia para que sejam acolhedores e respeitosos, para a mulher sentir segurança ao denunciar. 

A violência doméstica de estereótipos  ocorre no momento em que a mulher está vulnerável sem rede de apoio. A coordenadora explica que mulheres trans, lésbicas e bissexuais também são acolhidas e protegidas pela Lei Maria da Penha. "As mulheres LBTs são recebidas pela Defensoria com dignidade e respeito, pois, para além de serem alcançadas pelos direitos e garantias previstas na LMP, são pessoas que merecem acolhimento humanizado quaisquer que sejam as demandas".

A estudante da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Fernanda Montes* percebeu que estava em uma relação abusiva à medida que o excesso de cuidados se transformou em controle. "A cada cinco minutos meu parceiro mandava mensagens de texto pelo WhatsApp com o intuito de saber onde eu estava, com quem e que horas voltaria para casa. Foi a partir dessas pressões psicológicas que percebi que algo estava errado". Os abusos psicológicos partiram para agressões físicas a estudante tem a marca de uma mordida nas costas que gera gatilhos emocionais e a impede de se relacionar com outras pessoas. 

A estudante ressalta que teve o apoio da família após relatar a situação para os pais. "Quando estamos em uma relação abusiva a pessoa sente insegurança em falar, e foi exatamente o meu caso. Evitei dizer, abafei o caso e só contei para meus pais quando cheguei no limite". As manipulações psicológicas geraram sentimento de culpa e a vítima só conseguiu sair da relação após outras pessoas presenciarem uma das agressões e levá-la até uma delegacia para registrar Boletim de Ocorrência

*Nome fictício utilizado para preservar a identidade da vitima

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