Mato Grosso do Sul apresentou alto índice de maus tratos contra crianças e adolescentes em 2023. O estado teve uma média de 215 casos para cada 100 mil habitantes, com um aumento de 46% em relação a 2022. Os dados foram divulgados no 18° Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
As crianças mais vulneráveis aos maus tratos são as que se encontram entre cinco a nove anos, que constituem 35,7% das vítimas pela divisão por faixa etária. Entre as vítimas, 54% são crianças brancas. Os principais agressores, em 93,8% dos casos, são os familiares.
Número de casos em 2023 foi maior do que 2022 (Crédito: Ana Beatriz Leal)
De acordo com a policial da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), Anne Karine Trevizan o aumento aconteceu devido a percepção das crianças dos crimes e dos momentos em que se encontram em situações de violência. “Sabemos que, hoje, muitas pessoas entendem o que são agressões, violências contra elas, e, sabendo que são crimes, a demanda acaba aumentando assim como o número de denúncias”. A cartilha da Depca sobre tipos de violência, como estupro de vulnerável e maus-tratos, é uma das maneiras de conscientizar crianças e adolescentes.
Segundo o presidente da Associação de Conselheiros Tutelares do Mato Grosso do Sul, Adriano Vargas os episódios recentes de maus-tratos no estado e o isolamento social devido à pandemia da COVID-19 foram importantes fatores para o aumento. "Após a constante proximidade com abusadores, muitas vezes familiares, durante o isolamento, ocorreu uma maior verbalização das vítimas sobre seus casos quando voltaram ao convívio social". Segundo Vargas a violência intrafamiliar acontece de forma sutil. “O familiar ganha a confiança aos poucos, seduzindo a criança de diferentes formas para que ela não se dê conta da situação, por isso esses casos geralmente acontecem com alguém que é próximo à criança. Por isso é importante prestar atenção a quem a criança tem uma relação direta”.
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul (OAB/MS), Maria Isabela Saldanha relata que o principal desafio legal no combate à violência contra criança e o adolescente é a conscientização da sociedade. “É muito difícil fazer com que a população entenda a necessidade de existir na nossa assembleia legislativa pessoas com essa intenção, de proteger a criança, de trabalhar para essa proteção, isso é pouco divulgado”.