A pesquisa "Risco de Extinção da Fauna Brasileira", do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), identificou que 1302 espécies no Pantanal estão classificadas como fora de perigo de extinção. O número corresponde a 93,7% do total de espécies avaliadas pelo Instituto no bioma. A pesquisa indica que o Pantanal é o bioma brasileiro com o menor número de espécies em risco de extinção.
A pesquisa do Instituto apresentou um caso de extinção regional entre as espécies supervisionadas pelo ICMBio. A espécie migratória maçarico-esquimó, ave nativa da América do Norte, é o único caso de extinção registrado no Pantanal. O Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve) mostra que cinco espécies pantaneiras estão em situação de risco, entre elas, o peixe-anual, que é encontrado nesse ecossistema.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, na Internet, informações que indicam o Pantanal como o menor bioma brasileiro em dimensão territorial, e abrange 1,8% da área do país. O coordenador do projeto Felinos Pantaneiros do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), médico veterinário Diego Viana explica que os altos índices de preservação da fauna pantaneira são decorrentes das barreiras naturais do bioma para a ocupação e exploração humana. “Os possíveis motivos para o Pantanal ser o bioma que mais preserva animais silvestres, eu acho que é uma soma de fatores. Mas eu destacaria primeiro os limites que o Pantanal sempre impôs à ocupação humana, esse ciclo de cheia e seca que nunca foi constante e isso acaba limitando essa expansão da ocupação humana e também a forma com que os pantaneiros sempre se relacionaram principalmente com a planície pantaneira e toda a fauna, enfim, todo o Pantanal”.
O diretor de Comunicação do Instituto SOS Pantanal, biólogo Gustavo Figueirôa explica que “os maiores desafios para a preservação do bioma são em nível territorial”. Informações divulgadas pelo projeto Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), baseadas na análise de imagens via satélite, demonstram que o bioma Pantanal registrou uma redução de 12% de área total nos últimos 37 anos. Figueirôa explica que “o primeiro [desafio] é o desmatamento, a perda de habitat, segundo, a colisão nas estradas, terceiro, a caça das onças no geral e quarto, assuntos relacionados ao tráfico. Não só a caça para levar os animais ou parte deles para o exterior, mas também o tráfico de animais vivos para serem criados como pets no mundo afora. Então, acho que essas são as quatro principais ameaças para a fauna do Pantanal”.
O analista ambiental do ICMBio, Eduardo Marques Júnior explica que o Instituto elabora e executa os Planos de Ação Nacionais (PAN), políticas públicas que objetivam reduzir as ameaças de espécies em risco de extinção. Marques informa que 15 PANs estão em execução na região do Pantanal sul-mato-grossense. “Fatores de sucesso percebidos, podem estar relacionados a progressos oriundos, tanto da qualificação do processo de avaliação do risco, como dos PAN’s geridos pelo ICMBio que ajudam na melhoria do estado de conservação das espécies ameaçadas. Cada um dos PANs é elaborado em conjunto com entes estaduais, comunidade científica, grupos econômicos e a sociedade, garantindo o caráter participativo”.
Informações do projeto Bandeiras & Rodovias, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas), indicam que 12.400 animais silvestres foram atropelados por veículos entre 2017 e 2020 em rodovias de Mato Grosso do Sul. A pesquisa monitorou quatro estradas BR-267, BR-262, MS-040 e a MS-338 durante o período de três anos. O biólogo Gustavo Figueirôa destaca que “é importante dizer que não foram todas [as estradas], foram apenas algumas, e o levantamento de animais mortos. Então, são números assustadores. Dos poucos lugares que eles fizeram esse monitoramento durante três anos, os números são alarmantes. A quantidade de animal que morre é um número altíssimo, e isso ainda é muito sub contabilizado”.
Gustavo Figueirôa pondera que os índices de preservação da fauna do Pantanal são elevados “se o poder público e a sociedade civil realmente trabalharem juntos para manter o Pantanal preservado. Porque, do mesmo jeito que o Pantanal é um berço de biodiversidade, ele é muito frágil, ele depende das águas que estão em torno, da preservação da vegetação no seio interior, na planície”. A diretora operacional do Grupo de Resgate Técnico Animal (Gretap), bióloga e médica veterinária Paula Helena Santa Rita enfatiza que os índices de preservação das espécies alteram rapidamente, e que por isso devem ser monitorados em pesquisas realizadas a longo prazo. “Tem que lembrar que são dados aglomerados de um determinado período… então, os grupos de trabalho, de pesquisa em cima dessa diversidade não podem parar as suas atividades, porque aí sim sinaliza pra gente. Vamos esperar que essa balança continue positiva para o nosso lado, mas que para isso ocorra, a mudança já tem que estar em andamento. Então a gente precisa dos grupos monitorando, dos trabalhos intensos nas escolas, da fiscalização do governo, das polícias, para que a gente consiga minimizar os impactos”.