Animais silvestres são atropelados diariamente nas rodovias de Mato Grosso do Sul. O excesso de velocidade dos condutores e a falta de sinalização nas vias estão entre as principais causas do alto número de acidentes com animais. Muitos vão a óbito na estrada e outros passam por reabilitação para voltar à natureza.
O atropelamento de animais é um acidente que acontece em rodovias que atravessam áreas habitadas por animais silvestres, como o caso da BR-262 que cruza o Pantanal. Os animais atropelados nas rodovias do estado são encaminhados para tratamento veterinário no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), localizado em Campo Grande, no Parque Estadual do Prosa. Os animais silvestres passam pela reabilitação com o objetivo de serem devolvidos a seu habitat natural.
O Cras recebe animais atropelados e oriundos do tráfico para tratamento e desenvolvimento de pesquisas científicas. Os resgates e encaminhamento para a reabilitação da fauna são feitos pela Polícia Militar Ambiental do estado em rodovias estaduais, federais e nas áreas urbanas. O local deixou de ser aberto a visitação do público em 2017, para não haver contato com seres humanos fora do quadro de veterinários e biólogos.
De acordo com uma pesquisa realizada pelos professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em parceria com o Laboratório de Ecologia e Biogeografia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a fauna atropelada na BR-262 é composta principalmente por carnívoros, tamanduás e tatus. A Polícia Militar Ambiental resgatou mais de 1.900 animais silvestres vítimas de atropelamentos em rodovias e vias urbanas de Mato Grosso do Sul em 2022. Campo Grande é a cidade com maior número de atropelamentos registrados em todo o estado.
Segundo o médico veterinário e responsável técnico do Cras, Lucas Cazati o animal que é encaminhado para reabilitação no cras passa por um processo de quarentena, para que seja avaliada a necessidade de exames. Cazati afirma que cerca de 230 animais estão em recuperação no local . "As aves são a maioria nos atendimentos aqui, por atropelamento ou tráfico. Outros animais de maior porte e gravidade também são atendidos, como onça parda, onça pintada e antas, que são vítimas tanto de atropelamento, como de caça. Aqui nós recebemos todos os tipos de animais traumatizados e politraumatizados".
Crédito: Amanda Gonzalez
A Polícia Militar Ambiental e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), realizaram no mês de março uma ação de orientação para alertar os condutores sobre a velocidade e os riscos de atropelamento e morte de animais na BR 262, rodovia que dá acesso ao Pantanal. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a velocidade máxima permitida para carros em rodovias é de 110km/h e para motocicletas é de 90km/h. Os animais atropelados em reabilitação no Cras passam por análise para identificar se há condições de voltarem ao seu habitat após a recuperação.
A professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Thyara de Deco explica que o Hospital Veterinário (HV - Famez) oferece apoio ao Cras em casos graves e de alta complexidade nos animais resgatados. "Nós realizamos esse tipo de atendimento nos animais, mas o fluxo normal de atendimento é que encaminhem ao CRAS, que é a unidade de referência para o tratamento. Auxiliamos com exames complementares ou casos que necessitem de especialidades e cirurgias complexas, por não ter estrutura para internação e espaços de recinto".
De acordo com informações divulgadas pelo projeto Bandeiras e Rodovias, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), em Mato Grosso do Sul foram encontradas cerca de 12.400 carcaças de animais silvestres vítimas de atropelamento até maio de 2022. O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Tércio Baggio afirma que a BR -262 é um trecho que exige atenção redobrada dos condutores. "O risco de atropelamento existe em qualquer rodovia do Estado e do Brasil, mas na BR -262 a gente tem o Pantanal, onde há um alto fluxo de animais silvestres que atravessam a rodovia. É um prejuízo para a vida silvestre e também para os condutores um atropelamento".
A professora Thyara de Deco ressalta que a orientação é que as pessoas não tentem fazer o resgate de animais sozinhas em caso de algum acidente. "A Polícia Militar Ambiental tem equipamentos, técnicas e cuidados corretos. As vezes as pessoas com a boa intenção de socorrer o animal podem ser atacadas por não saber o modo correto de agir, ou até mesmo por algum caso de doença, vírus que o animal possa ter, o ideal é não encostar". O Tenente-Coronel da Polícia Militar Ambiental, Ednilson Queiroz explica que em caso de atropelamento o condutor deve parar o veículo e verificar se o animal está vivo. "A retirada do animal atropelado da pista é necessária para não causar outros acidentes. O condutor também deve acionar a PMA caso o animal precise de socorro. Atropelar um animal silvestre com intencionalidade é considerado crime de caça".