A Associação “Amigos do Parque” iniciou movimento para proteger os arredores do Parque Estadual do Prosa (PEP) contra projetos de construções imobiliárias. A Associação elaborou uma petição no mês de setembro para coletar assinaturas e evitar que haja as construções dos prédios. Esta semana o abaixo-assinado chegou as 500 assinaturas.
A Associação pressiona, desde o início do ano passado, o governo para impedir as construções dos prédios. A edificação dos prédios altos, isto é, acima dos três andares, impactará a região do Parque que abriga inúmeras espécies da fauna e da flora, especialmente aves nativas. Estes imóveis limitarão a passagem de luz solar até os parques, além dos revestimentos materiais das construções que contrariam a preservação ambiental.
O Parque Estadual do Prosa abriga as sedes do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), o Córrego Prosa e o Parque das Nações Indígenas. A Associação Amigos do Parque é um grupo de 238 integrantes, a maioria moradores da região, criada com o objetivo de defender o Parque do Prosa. Eles também coordenam ações de lazer que acontecem no Parque dos Poderes, como o fechamento de vias aos finais de semana e feriados para a prática desportiva.
O presidente do Amigos do Parque, Leonardo Campos fala que a Associação surgiu após a alteração do plano diretor de Campo Grande, em 2019. “Tomamos conhecimento de que incorporadoras estavam em busca de áreas na região do Parque Estadual do Prosa, onde está situado o Parque dos Poderes. Assim, os moradores da região começaram a se mobilizar para iniciar um movimento de conscientização da população quanto aos danos ambiental e social que a construção de prédios acima de três andares provocam ao Parque”.
O professor do Instituto de Biociências (INBIO) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Paulo Robson explica que o plano diretor que surgiu para ordenar o crescimento da cidade mudou várias vezes. “A gente que mora em Campo Grande há anos, já viu o plano diretor mudar inúmeras vezes para atender às grandes corporações e os grandes empreendimentos imobiliários”. Robson explica que se os prédios fossem construídos próximos a reserva, afetaria diratamente o Parque. “A influência seria direta no trânsito de pessoas e carros, além da poluição sonora."
De acordo com o biólogo, para toda Unidade de Conservação, a legislação exige uma Zona de Amortecimento , que é uma área no entorno de uma unidade de conservação, como parques e reservas. “A unidade de conservação tem que ter essa Zona de Amortecimento, ela é necessária pois se trata de uma área onde nada se constrói, nada se faz. A Zona funciona como um cinturão para impedir que ocorra uma influência do meio externo dentro da área de conservação”.
Paulo Robson também fala que o desmatamento pode trazer prejuízos para além da região do Parque. "Campo Grande ganhou notoriedade mundial por ser uma cidade arborizada. Eu acho inconcebível termos praticamente no centro da cidade um desmatamento para atendimento à expansão imobiliária. Nós não precisamos retirar a vegetação nativa de Campo Grande, ao contrário, os campo-grandenses e os gestores da cidade deveriam ser incentivados a usar cada vez mais a flora nativa e as árvores que ocorrem nas intermediações de Campo Grande para arborizar a cidade”.
O doutor em Ensino de Ciências pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Marcos Vinicius Campelo Junior complementa que o Parque Estadual do Prosa é essencial para Campo Grande. "Dificilmente você vai encontrar em outro grande centro urbano do Brasil, como uma capital ou uma cidade de grande porte, as configurações que o Parque Estadual do Prosa tem”.
Leonardo Campos fala que a Associação realiza ações para evitar que as construções imobiliárias ocorram ao redor do Parque. “Recentemente fizemos a contratação de alguns outdoors no entorno do Parque dos Poderes, na avenida do Poeta, com conteúdo informativo quanto ao perigo que estamos correndo, já que não existe nenhuma lei municipal ou estadual vedando ou limitando a edificação de prédios altos. Tanto o estado quanto o município tem competência para vedar a edificação, mas até agora nada foi feito.”
Campos explica como a população pode ajudar a Associação. “A população primeiro deve se conscientizar do risco que a região do parque se encontra, pois está totalmente ‘desabrigada’ de qualquer legislação que a proteja, portanto todo cidadão que gosta de frequentar a região aos finais de semanas e feriados deve aderir às nossas campanhas e conversar com os pais, parentes, amigos e políticos, e expor os perigos que edificações de grande porte geram para fauna, flora e a sociedade como um todo”.