A Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) em Campo Grande registra, por dia, mais de 70 crimes de violência contra a mulher. A DEAM registrou 1.361 boletins de ocorrência de janeiro até agora. Grande parte acontece nos fins de semana e feriados e no período noturno. A dependência financeira no salário do cônjuge é um dos fatores que restringem as agressões ao ambiente doméstico.
A administradora Eduarda Ferraz, 45 também foi vítima de agressão doméstica e afirma "se não é rotineiro, dá para esquecer." Para ela "quando a família tem uma imagem social, um status a zelar, a mulher se acomoda. Nestes casos o divorcio significa instabilidade, má fama”.
A psicóloga especialista em terapia de casais, Maria Eduarda Ranzan afirma que "a opção por não denunciar os abusos cometidos pelo infrator se justifica pela dependência financeira feminina e fator emocional. A vítima não denuncia porque tem medo de perder o conforto patrocinado pelo companheiro. Algumas preferem ficar com o ‘príncipe espancador’ do que só." Segundo ela, a violência familiar presenciada pela criança tem forte indício de se repetir no próprio casamento, principalmente com os homens. De acordo com a Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, cidades que têm de 500 mil a 1 milhão de habitantes devem dispor de quatro delegacias especializadas de Atendimento à Mulher.
Em Campo Grande, com mais de 800 mil habitantes, apenas uma delegacia presta este atendimento. No Estado, ao todo, são 12. A Lei Maria da Penha fez aumentar a procura das mulheres por delegacias especializadas. Amparadas pela lei, as vítimas ganharam segurança no Estado para proteger e punir seus agressores. Segundo a delegada Rosely Molina, o número de inquéritos instaurados aumentou de 2.063, em 2011, para 3.448 no ano passado. Este ano, das 974 ocorrências, em torno de 300 resultaram em inquéritos.
Segundo a norma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em situações de flagrante, o agressor deve ser autuado e levado em prisão preventiva, mas em razão do alto volume de serviço, as delegacias de atendimento geral não conseguem suprir a demanda de atendimento. A capital ocupa a 24° posição entre os estados com o maior índice de assassinatos de mulheres. A vereadora Luíza Ribeiro propôs a criação o Comitê “Delegacia 24 horas” com o objetivo de mudar essa realidade.
A meta é organizar um abaixo-assinado que será encaminhado ao governador André Puccinelli e ao secretário de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini, com o relatório que demonstra a necessidade de extensão do atendimento das delegacias. A Delegacia de Proteção à Criança e Adolescentes (DPCA) e Delegacia de Atendimento a Infância e Juventude (DEAIJ) não atendem 24 horas. A Delegacia da Mulher de Campo Grande funciona apenas de segunda a sexta, das 8h às 18h.
A delegada Rosely Molina salienta que "apesar do trabalho das delegacias, a maioria dos crimes de violência contra a mulher acontecem no período da noite". Mato Grosso do Sul ocupa o 5º lugar entre os estados com maior índice de assassinatos de mulheres, com taxa de homicídio acima da média nacional, que é de 4,4.
As denúncias podem ser feitas a qualquer momento no LIGUE 180 - Central de Atendimento à Mulher. Depoimento A cozinheira Marizete Alves, 38, desde a infância presenciou cenas de agressão e abuso sexual de seu pai contra sua mãe. Se casou aos 12 anos para fugir dos episódios de embriaguez seguidos de espancamento paterno, e se tornou vítima do próprio marido.
Em entrevista ao Primeira Notícia, Marizete desabafa a respeito das agressões.
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Repórter: Isabela Nogueira Fotógrafa: Debora Bah Editor: Carlos Henrique