Campo Grande possui 2.815 animais resgatados sob cuidados de organizações Não Governamentais (ONGs) e abrigos independentes que tem superlotação e alto índice de endividamento. Os animais foram resgatados das ruas, vítimas de maus tratos entre abril e agosto de 2022. Falta de apoio financeiro e dificuldades na adoção dos animais sobrecarregam os abrigos e impossibilita novos resgates.
Dirigentes de Organizações Não Governamentais (ONGs) e protetores autônomos denunciam a falta de responsabilização aos tutores que maltratam ou abandonam os animais na rua e a ausência de reconhecimento dos resgates e amparo aos animais. Os abrigos dependem do custeio próprio para manter os animais, pois o trabalho é voluntário, sem apoio financeiro do poder público. As principais despesas são com rações, medicamentos, consultas com veterinários e tratamento, principalmente para os animais que foram vítimas de negligência ou maus tratos e chegam aos abrigos debilitados.
Campo Grande possui quatro ONGs de proteção animal, 46 protetores independentes e 2.815 animais resgatados cadastrados na Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Mato Grosso do Sul (CDDA-OAB/MS). A advogada e presidente da Comissão Adriana Carvalho explica que a Comissão tem por objetivo dar transparência para os problemas vividos pelos protetores de animais. A Comissão é formada por advogados e advogadas engajados com a causa animal e prestam trabalho voluntário para a pesquisa.
A advogada e presidente da Comissão explica que a pesquisa deve encerrar ao atingir 100 abrigos cadastrados. O documento final será encaminhado ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS) para análise. Adriana Carvalho destaca que "a importância da pesquisa se dá pelos números que vêm sendo levantados, o que comprova que o que existe de políticas públicas é inefetivo".
A protetora independente Michelle Vaz, 28 anos, é responsável por administrar sete abrigos em Campo Grande que possuem 450 animais, entre cães e gatos. O custeio de alimentos, tratamento veterinário, consultas e medicamentos são custeados pela própria protetora e por outros nove parceiros que ajudam a cuidar dos animais. Os gastos mensais são de aproximadamente R$ 20 mil. Michelle Vaz realiza bazares, rifas, parcerias com clínicas, petshops e pede doações para arrecadar parte do valor necessário na manutenção dos abrigos.
De acordo com a protetora independente, os animais muitas vezes chegam debilitados, doentes e vítimas de maus tratos e negligência. "Mesmo as vezes não tendo condições, eu faço o socorro, levo para a clínica e para internação. Aí eu corro atrás de doações para conseguir pagar, porque só com o meu salário eu não consigo bancar tudo".
A fundadora do projeto Amigo dos Bichos, Yara Deckner, 27 anos, afirma que desde o início do projeto, há dois anos, atendeu mais de 100 cães e gatos. A protetora independente atua diretamente no resgate dos animais abandonados e encaminha para o atendimento veterinário quando necessário. Os cães e gatos atendidos são levados para lares temporários e ficam disponíveis para adoção após se recuperarem. "A gente pede doações de ração, de dinheiro. Com esse valor doado, faço a castração dos animais. Como tudo depende de doação e não tenho local pra colocar os animais, faço todo o atendimento na minha casa".
A professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Taís Fenelon é responsável pelo projeto Proteção Felina que reúne servidores da Instituição engajados na proteção animal. O projeto cuida de cerca de 170 gatos que vivem nas dependências da Universidade e sobrevivem de doações. Taís Fenelon esclarece que "sem as doações realizadas por servidores, alunos e pela comunidade externa, que possuem essa sensibilidade para a causa animal, seria impossível alimentar e manter esses animais".
A professora ressalta que o abandono de animais é crime e revela que presenciou alguns casos de gatos abandonados por tutores na Universidade. Taís Fenelon relata que, quando esses abandonos são flagrados, o crime é denunciado para que seja investigado. A professora explica que "a Universidade não é um local para esses gatos morarem, não é adaptado para eles. Não é porque esses gatos vivem aqui e são cuidados que a Universidade tem responsabilidade com os gatos da cidade".