Os comerciantes da região do Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu, antiga rodoviária, reclamam de abandono e queda de faturamento das vendas. A situação foi debatida na audiência pública “Recuperação da Região do Antigo Terminal Rodoviário”, realizada na Câmara Municipal de Campo Grande, na segunda-feira (26). Representantes do comércio e moradores do bairro Amambaí criaram uma comissão para apresentar as principais reivindicações ao prefeito Marcos Marcello Trad.
As reivindicações de lojistas e moradores do entorno da antiga rodoviária ocorrem há oito anos, desde a inauguração do Terminal Rodoviário Senador Antonio Mendes Canale, localizado na Avenida Gury Marques, na saída para São Paulo.
O bairro Amambaí, o mais antigo e um dos mais populosos de Campo Grande, que abriga o antigo terminal rodoviário, concentra 8.190 habitantes, de acordo com dados do Censo demográfico do Brasil de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para a proponente da audiência, vereadora Enfermeira Cida Amaral (Podemos-MS), a atual estrutura física do local e o fato de a antiga rodoviária estar num dos pontos centrais e ser cartão postal da cidade são as principais questões que devem ser entregues ao prefeito. “As condições atuais da antiga rodoviária precisam ser revistas com urgência. Hoje, o local está, literalmente, abandonado e não posso deixar nesse estado um cartão postal, que está no centro da capital, perto da Afonso Pena, da 14 de Julho. No entorno, ainda existem muitas residências e comércios fechados, isso tudo traz prejuízo para o município, pois com aquele grande prédio desativado, a cidade deixa de gerar emprego e renda. Vou bater na mesma tecla, pois quero que área seja revitalizada. Além disso, os moradores dizem ter muitas recordações do local movimentado e que agora está numa situação muito triste”.
A vereadora ainda afirmou que o ponto mais importante do conjunto de propostas, que será encaminhado ao prefeito, é uma ação social para os dependentes químicos que ocupam a área. “Fui pessoalmente até o local e, para mim, é um problema social e de saúde pública. Nós da comissão pedimos que a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) realize uma campanha de acolhimento àquelas pessoas na região e que firme parcerias com demais órgãos para levar o atendimento necessário. Triste saber que o local é intitulado por muitos como ‘cracolândia’ da cidade e devemos criar medidas públicas para resgatar essas pessoas em situação de rua, não podemos admitir deixá-las”.
(Foto: Adrian Albuquerque)
De acordo com a síndica do Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste, Rosane Nely o primeiro impacto após a mudança do terminal rodoviário foi o econômico. “Quando a rodoviária saiu daqui fecharam mais de 25 lojas aqui na frente, que eram todas prestadoras de serviços específicos para a rodoviária. No momento em que a rodoviária fechou, todo o comércio fechou junto. Não tenho nem uma estimativa para te dar de quanto foi a perda, mas foi imensa. Aflige todas as áreas”.
A síndica destacou também que, atualmente, o prédio está com mais de 80% de inadimplência, pois poucos condôminos conseguem pagar a taxa de condomínio. “Quem está aqui e trabalha, paga, porque precisa dos serviços do condomínio, mas nas salas fechadas a maioria não paga. Uns não pagam, porque acham que não devem pagar enquanto a situação não for resolvida, outros não pagam, porque realmente não têm condições de pagar IPTU e de pagar a taxa de condomínio para usufruir de uma sala naquele estado”.
Rosane Nely afirma que o prédio do atual Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste, com área de com espaço de cinco mil metros quadrados, corresponde a 9% da prefeitura e o restante, 91%, pertence à iniciativa privada.
A diretora comercial da Associação dos Lojistas e Prestadores de Serviços do Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste (ACCCTO) e proprietária de salas comerciais no prédio, Heloisa Cury tem histórica relação com o local, onde também criou seus filhos. “Cheguei aqui com 20 anos. Durante minha gravidez, vendia pipoca, sorvete com meu marido numa cidade desconhecida para nós. Então, tudo foi feito aqui dentro. Todos os meus filhos foram criados aqui. Então, após a morte do meu marido, eu quis retomar esse patrimônio, porque não é justo. Meus amigos acham que estou completamente fora da minha estabilidade mental para enfrentar tudo isso, mas não desisto, porque tenho patrimônio e uma história de vida aqui. Ainda sonho em ver esse prédio gerar lazer, cultura, emprego. Na minha idade, não vou ficar rica mais com isso, é um prazer pessoal, um desejo”.
Heloisa Cury, que aluga salas comerciais há mais de 15 anos no local, relata que, antigamente, o aluguel equivalia ao preço de uma prestação de um carro do ano. “Nos dias atuais, não consigo nem alugar pelo preço do condomínio. Na época, até recebia cheque em branco de pessoas que queriam ‘segurar’ o ponto. Hoje, nem de graça, tem sala aqui que ofereço de graça. Quero ver as pessoas circularem, mas nem de graça eles vêm”.
Segundo a diretora Comercial da ACCCTO, o Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste possui 236 lojas, que pertencem a 125 pessoas. Atualmente, apenas 58 estão ativas, além de lanchonetes que funcionam no período noturno.