RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE

Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul promoveu mutirão para reconhecimento de paternidade

Os defensores públicos auxiliaram interessados em regularizar o registro de paternidade na certidão de nascimento, com serviços de reconhecimento de paternidade biológica, socioafetiva e multiparentalidade

Beatriz Saltão e Roberta Martins22/08/2023 - 13h24
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A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul realizou mutirão para regularização de certidão de nascimento para pessoas sem registro do pai. Os defensores públicos também fizeram a coleta do material genético para encaminhamento do teste de DNA, nos casos em que todos os envolvidos estavam presentes. O mutirão foi realizado no último sábado para auxiliar quem não poderia comparecer em outros dias da semana e ocorreu na Defensoria Pública da Família.

A ação foi promovida pelo Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) em parceria com as defensorias públicas dos estados. O evento aconteceu em sete cidades do Mato Grosso do Sul. Pessoas maiores de 18 anos sem o nome do pai no registro de nascimento também puderam participar, seja por meio de acordos extrajudiciais ou ações judiciais

De acordo com o defensor público, Carlos Felipe Bariani os serviços realizados no Dia D de Atendimento incluíram o reconhecimento de paternidade biológica, socioafetiva e multiparentalidade. “Apesar da Defensoria Pública já fazer esse trabalho cotidianamente, hoje, o Dia D, objetiva facilitar para aquelas pessoas que não conseguem nos procurar durante a semana, por algum motivo, seja trabalho ou alguma coisa do tipo”. O mutirão aconteceu nas cidades de Campo GrandeTrês Lagoas, CoximDouradosNova Andradina, Inocência e Caarapó.

Segundo Bariani, o total de agendamentos em Campo Grande foi 41, com 28 atendimentos e um acordo de paternidade. O número de casos de paternidade socioafetiva, quando ocorre o reconhecimento com base no afeto, eram cinco e de paternidade biológica, 23. “Já faz aqui o reconhecimento de paternidade, discute-se o fator de pensão, se tiver a possibilidade. Se não, a gente encaminha para a coleta do exame de DNA e, assim que tiver o resultado, a gente entra em contato para termos uma segunda conversa”.

Patrícia Carvalho compareceu ao local para realizar o registro do seu neto, para o seu filho, que é menor de idade. "Eu vim, na verdade, para fazer o reconhecimento da paternidade da criança que a gente está cuidando em casa, que é do meu filho. Por ele ser menor de idade, eu que vou fazer esse processo todo. Eu acredito que a Defensoria Pública está dando o apoio certo e vai dar tudo certo no final. É gratificante ter um apoio assim”.

Patrícia Carvalho participou da campanha para realizar o reconhecimento de paternidade para o seu filhoPatrícia Carvalho participou da Campanha para realizar o reconhecimento de paternidade para o seu filho – Foto: Beatriz Saltão

Segundo dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), 1.852 recém-nascidos foram registrados sem o nome do pai em 2023 em Mato Grosso do Sul. De acordo com a psicóloga infantil Ana Flávia Weis, os responsáveis devem ter uma "abordagem clara" sobre a ausência paterna, para que a criança compreenda a situação. A psicóloga também destaca que as famílias monoparentais, quando uma pessoa assume a parentalidade de outra, devem estar preparadas para os problemas financeiros e emocionais. "Enfrentar esses desafios exige uma abordagem sensível, comunicação aberta e, quando necessário, buscar orientação profissional, como terapia familiar, para lidar com as complexidades da situação. A superação desses obstáculos pode contribuir para o bem-estar emocional e psicológico tanto dos pais quanto das crianças".

A publicitária Márcia Scherer não tem o registro do pai na Certidão de Nascimento e encoraja as pessoas a não internalizarem a ausência paterna. "Nós que não temos o nome do pai no nosso registro, não somos únicos, não somos dois, três, meia dúzia; nós somos milhares. E o que eu digo para as pessoas? Não sofra com isso. Concentre-se na sua mãe, concentre-se nos seus avós, nos seus tios, quem é que esteja do seu lado, concentre-se nos seus filhos e, principalmente, concentre-se em você".

A advogada familiarista e presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM/MS), Líbera Copetti destacou que o registro de nascimento é relevante para garantir direitos e deveres das famílias. “Uma criança sem registro é uma criança violada de seus direitos fundamentais. O registro de nascimento confere à criança sua efetiva existência para o Estado, incluindo uma série de direitos inerentes a sua peculiar condição de ser humano em desenvolvimento. Direitos estes garantidos constitucionalmente e infraconstitucionalmente, como direito à Saúde, Educação e lazer”.

Líbera Copetti explica que os pais que desejam realizar o reconhecimento de paternidade após a ausência inicial no registro de nascimento têm alternativas legais para isso. "O pai poderá fazer diretamente no cartório, munido do seu documento pessoal e do documento da mãe da criança, ou acompanhado da mesma, além da certidão de nascimento da criança. Caso o pai não possa comparecer pessoalmente, ele poderá reconhecer a paternidade por meio de uma declaração que deve estar com firma reconhecida, ou concedendo procuração específica e registrada em cartório para que se faça o registro". Segundo o Provimento nº 63 e o Provimento nº 83 do Conselho Nacional de Justiça, também é possível realizar o reconhecimento de paternidade socioafetiva no cartório, em casos que o padrasto mantém um vínculo afetivo e estabelece uma relação paterna sólida com a criança ou adolescente acima de 12 anos.

Primeira Notícia · Advogada explica como funciona o reconhecimento de paternidade para padrastos
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