AMBIENTE

Pesquisa monitora presença de antas em Campo Grande

O material coletado na cidade será utilizado para identificar locais com maior presença dos animais e auxiliar em estratégias de conservação da espécie

Alíria Aristides, Lidiane Antunes e Nélida Navarro 11/06/2021 - 18h27
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Pesquisa da Iniciativa Nacional para Conservação da Anta Brasileira (INCAB) analisa a presença de antas em Campo Grande, local com aparecimento recorrente da espécie. O intuito da pesquisa promovida pelo INCAB, programa do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), é reunir informações sobre as antas para monitorar a saúde, comportamento e possíveis impactos para os animais que vivem em perímetro urbano e periurbano. Dados da pesquisa recolhidos até o momento mostram que as antas são avistadas com maior frequência nas áreas periféricas da cidade onde há vegetação preservada.  

A primeira etapa do projeto ‘Antas Urbanas’ envolve a coleta de relatos de moradores locais, monitoramento de matérias jornalísticas sobre o aparecimento do animal na cidade e acompanhamento de registros da Polícia Militar Ambiental (PMA) do estado de Mato Grosso do Sul. A participação ativa de campo-grandenses é uma das metodologias utilizadas para desenvolvimento da pesquisa. O material coletado será utilizado para identificar os locais onde as antas aparecem com maior frequência e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de conservação da espécie na região. 

Biólogo responsável pela pesquisa, Felipe Fantacini afirma que ainda há pouca informação sobre o modo de vida das antas urbanas. “O intuito é realmente entender como a anta, que é um animal tão grande, o maior animal da América do Sul, consegue viver em um ambiente com modificação humana intensa, em uma área densamente povoada”. Segundo Fantacini, as antas são vistas com maior frequência próximas à reservas ambientais, onde existe vegetação preservada. “Em Campo Grande existem dois parques estaduais, o Parque Matas do Segredo e o Parque do Prosa, são áreas preservadas de Cerrado. Provavelmente esses são os hábitats desses animais que acabam saindo das áreas e adentrando a cidade”.

Doutor em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e chefe de Comunicação da Polícia Militar Ambiental, o tenente-coronel Ednilson Queiroz afirma que diversas situações favorecem a presença de animais silvestres na cidade. “Campo Grande optou por manter a flora, mesmo que fragmentada, em unidades de conservação e áreas verdes municipais e estaduais. A cidade também deixou de canalizar córregos e manteve parques lineares. Paralelamente, a gente tem visto ao longo dos anos uma preocupação maior com a questão ambiental. São todos fatores que contribuem para a conservação da fauna local”.

O tenente-coronel afirma que a PMA costuma receber chamados de ocorrências que envolvem a presença de antas na cidade. “A gente percebe uma grande quantidade de antas que migram desses fragmentos preservados dentro da cidade. Elas vêm migrando cada vez mais em busca de alimento e acabam adentrando ao perímetro urbano. Há alguns anos a gente chegou a fazer a retirada de um animal no centro da cidade, no meio da Avenida Afonso Pena”.

Segundo Queiroz, a captura e retirada de animais silvestres é realizada após análise de riscos para os animais e pessoas. “Muitas vezes não é caso de captura, muitos casos são só de orientação. Às vezes, o animal atravessa a rua e entra um pouco no perímetro urbano e a população quer que vá capturar. Isso causa um grande estresse para o animal e se levar ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, o Centro vai examiná-lo e vai levá-lo ao mesmo local, porque ali é o habitat dele”. De acordo com o tenente-coronel, a recomendação é contatar a Polícia Militar Ambiental em caso de dúvidas sobre possíveis capturas.  

Primeira Notícia · Tenente-coronel Queiroz, da PMA, explica como agir ao encontrar animal silvestre

Ciência Cidadã é o nome dado à parceria entre cidadãos e pesquisadores para realização da coleta de dados. Segundo o biólogo Felipe Fantacini, cerca de 80 campo-grandenses entraram em contato com os pesquisadores para relatar encontros com antas até o momento. "Esse é o caminho para a gente ter contato direto com a comunidade e também levar informações científicas. As pessoas se sentem envolvidas e são uma parte fundamental da pesquisa. Se as pessoas não estivessem mandando relatos de antas pela cidade, a nossa equipe não teria condições de desenvolver o trabalho”.  

Administrador de empresas, Roberto Pellizer colaborou com o projeto ao enviar seu relato de encontro com uma anta. Pellizzer trabalha no Hospital São Julião, localizado em uma área de reserva ambiental com presença de animais silvestres. O administrador relata que costuma fotografar a fauna local e que, em 2019, encontrou rastros de antas na região. “Em uma tarde de 2020, tive a sorte de avistar e fotografar, não só as pegadas. Mesmo a certa distância, consegui fazer a fotografia. Foi muito rápido, de surpresa. Ela estava tomando banho em uma área onde a água mina dentro da reserva, que forma quase uma banheira. Ela estava lá relaxando, tranquila”. 

Registro fotográfico da anta foi enviado para equipe de pesquisadoresRegistro fotográfico da anta foi enviado para equipe de pesquisadores
(Foto: Roberto Pellizzer)

Pellizzer afirma que os animais encontram um espaço para sobreviver longe de riscos como atropelamento e fome na reserva do hospital. O administrador acredita que o projeto é uma oportunidade de conscientizar a população local sobre a importância de preservar a fauna existente em Campo Grande. “Quis ajudar para que as pessoas soubessem da quantidade, da beleza desses animais que a nossa cidade tem e que estão sempre causando encontros maravilhosos. As pessoas conhecendo vão poder ajudar a preservar para que essas antas tenham a oportunidade de ter uma vida tranquila”. 

O biólogo responsável pelo projeto explica que a equipe deve realizar a captura de animais em etapas
seguintes da iniciativa. Fantacini explica que a captura é feita para que os animais recebam rádio-colares. “Os colares enviam informações por satélite e a gente recebe no computador dados de movimentação dos bichos. Assim dá para entender quais são as áreas que eles usam, se eles entram na cidade por acaso ou se sabem o que estão fazendo, se estão em busca de alguma coisa. Depois de um ano, esse colar cai sozinho e a gente consegue encontrar e recolher o equipamento”. 

Segundo Fantacini, a captura é importante para avaliar a saúde dos animais e compreender quais são os impactos que os animais sofrem por viverem próximos à cidade. “O animal é anestesiado pela equipe de veterinários no procedimento de colocar o colar. Nesse momento, a gente aproveita para fazer um checkup da saúde desses animais, exames de sangue, de toxicologia, de microplásticos”. O biólogo explica que a iniciativa deve incluir ações de conscientização ambiental com a população de Campo Grande. “A anta ainda é um animal pouco conhecido, ainda é um termo pejorativo. A gente tenta mudar isso porque é um animal super inteligente, super importante. Envolver a comunidade com a pesquisa é uma forma de fazer as pessoas gostarem mais do animal, de divulgar a importância do animal na natureza”.

Fantacini explica que os relatos enviados para a equipe devem ter dados como horário e local do aparecimento do animal. “Não importa se a pessoa viu o bicho passando, mas não conseguiu tirar foto. Basta nos mandar que viu e a gente tenta se certificar de que foi realmente uma anta. Se a pessoa tiver mais dados, também pode nos passar. Vamos agregar o máximo de informação possível para auxiliar no monitoramento desses animais”.

Serviço

Contato por meio do número (67) 993-370-799, 
E-mail fantacini@ipe.org.br e redes sociais da INCAB.

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