Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019 aponta que 2% da população com 18 anos ou mais se autodeclara homossexual ou bissexual em Mato Grosso do Sul. A pesquisa mostra que 3,7% dos entrevistados de Campo Grande se consideram homossexuais ou bissexuais, enquanto 90,9% da população se autodeclara heterossexual. A pesquisa analisa a estimativa do tamanho da população homossexual e bissexual de acordo com características socioeconômicas e níveis territoriais.
A pesquisa teve abrangência nacional e os entrevistadores visitaram 108 mil domicílios. A pesquisa está sujeita a subnotificações e pode representar um número de pessoas LGBTQIA+ menor do que a realidade. Mato Grosso do Sul tinha 1,98 milhões de habitantes com 18 anos ou mais em 2019. De acordo com o panorama do IBGE, Mato Grosso tem cerca de 2,8 milhões de habitantes.
O subsecretário de Políticas Públicas LGBT de Mato Grosso do Sul, Leonardo Bastos explica que os dados do IBGE retratam com imprecisão o número de pessoas bissexuais e homossexuais do estado. Ele afirma que pessoas LGBTQIA+ entraram em contato com a Secretaria para denunciar que deixaram de ser procuradas pelos pesquisadores do IBGE. “O Brasil de uma forma geral tem deficiência em dados oficiais ou censitários sobre a população LGBT. Isso é fundamental para que a gente conheça o nosso território e tenha estimativas oficiais sobre o número dessa população, para, a partir disso, ir direcionando e construindo indicadores para as nossas políticas públicas LGBT. Por se tratar de uma Pesquisa Nacional de Saúde, sabemos que esse dado de Mato Grosso do Sul é um dado subnotificado. Quando a notícia saiu, muitos LGBTQIA+ e instituições entraram em contato com a Secretaria relatando que não responderam a pesquisa”.
Segundo o professor do curso de Ciências Sociais e líder do Grupo de Pesquisa em Gênero, Sexualidade e Diferenças da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Thiago Duque a sexualidade é um tema pouco debatido em todo o território nacional. Ele explica que muitas pessoas escondem a própria orientação sexual por medo da violência ou por falta de conhecimento sobre o assunto. “Nós estamos em um momento em que a sexualidade não é debatida publicamente de um jeito sério como deveria ser. Há violência contra homossexuais e bissexuais no Brasil, e não só em Mato Grosso do Sul. Boa parte das pessoas preferem negar que sejam homossexuais e bissexuais, ou dizer que não sabe ou não se sente à vontade. Considerando que a gente não ocupou ainda todos os espaços de formação sobre sexualiade, há que se considerar que muita gente não sabe o que de fato significa ser homossexual e bissexual".
Duque afirma que o poder público deve criar políticas públicas que visem o ensino sobre questões de sexualidade à população, e a fiscalização das leis existentes para punir pessoas que cometem LGBTfobia. Ele argumenta que a formação sexual também deve acontecer em âmbito técnico e científico dentro das escolas. “A intolerância ainda existe no Brasil porque nós fomos construídos enquanto nação para sermos intolerantes. É preciso muito mais esforços para uma mudança identitária mesmo. Não só em termos de sexualidade e gênero, como em raça e etnia, para que as pessoas consigam, enquanto diferentes, viver com segurança”.
O maquiador e ativista LGBTQIA+, Edwin Salas afirma que o número de entrevistados que se recusaram a responder à pesquisa do IBGE representa uma parte da população de Mato Grosso do Sul que teme a violência após se autodeclarar LGBTQIA+. Dossiê do Observatório de Mortes e Violência Contra LGBTQI+ no Brasil aponta que o assassinato de homossexuais, mulheres transgênero e travestis entre 20 e 39 anos teve um crescimento de 33% no Brasil. “Em sua maioria, [Mato Grosso do Sul] é muito conservador e isso reflete nas nossas vivências e no nosso comportamento”.