ASSISTÊNCIA SOCIAL

Projeto da Prefeitura pretende ressocializar moradores de rua

O "Campo Grande Acolhedora" teve início em março e inclui ações de combate às situações de vulnerabilidade de moradores de rua na capital

Fernanda Sandoval, Lorrayna Farias e Talita Oliveira22/04/2018 - 19h40
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O projeto "Campo Grande Acolhedora" é uma ação da Prefeitura Municipal de Campo Grande para prestar assistência a moradores de rua na cidade e atende ao decreto federal n° 7.053 de 23 de dezembro de 2009 que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua. De acordo com o coordenador do Centro de Referência Especializado à População em Situação de Rua (POP), Artêmio Versoza, o projeto é um modo de unificar as políticas públicas de assistência social, segurança, habitação, educação, trabalho e lazer para o encaminhamento de moradores de rua para o atendimento em centros terapêuticos da capital.

O "Campo Grande Acolhedora" garante 100 vagas em comunidades terapêuticas para acompanhamento psicológico de pessoas recolhidas voluntariamente das ruas. Campo Grande possui três locais específicos para apoio a essas pessoas, o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e o Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante e População de Rua (Cetremi).

Artêmio Versoza explica que o Centro realizou o atendimento a 144 pessoas no mês de fevereiro deste ano. "A Secretaria de Assistência Social hoje atende ao requisito da política nacional, tendo no município um Centro POP plantado que funciona diariamente no atendimento a pessoas de rua. Aqui eles recebem o atendimento técnico, com assistente social, psicólogo, advogado e acesso à documentação básica como RG, CPF, carteira de trabalho, título de eleitor, toda a documentação necessária para a inserção no mercado de trabalho".

O Centro POP atende a área central da cidade, foco do projeto Campo Grande Acolhedora. Segundo o coordenador, a iniciativa é um conjunto de ações integradas que leva atividades e oportunidades aos centros de acolhimento para pessoas em situação de rua. Ele ressalta a necessidade de mais iniciativas para integrar as políticas públicas. "A população de rua demanda de ações integradas entre políticas públicas. Nós não podemos pensar apenas na política de assistência social e política de saúde, que fazem seu trabalho, nós temos que chamar outras políticas e garantias de direito para que possamos conseguir minimizar essa situação que é crescente".

O Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste, localizado na antiga rodoviária, foi o primeiro de Campo Grande, por se tratar de um local que contém salas comercias. A síndica do Centro Comercial, Rosane Nely Lima afirma que quando a rodoviária era ativa o movimento do comércio era de cinco mil pessoas por dia. Após a rodoviária ser desativada, em 2010, o impacto econômico gerado foi grande e o moradores de rua passaram a ocupar o local. “Devido a retirada da rodoviária muitos comércios, principalmente os da frente da plataforma de embarque e desembarque, fecharam todos, teve um impacto econômico e um abandono do espaço. Hoje a gente tem um problema social muito grande em torno do prédio que causa preocupação e insegurança”.

Segundo Rosane Lima, "a situação atual do prédio e a da região causam problemas no comércio do local. A gente não consegue mais locar as salas, nem vender. Os proprietários por sua vez não conseguem pagar suas dívidas de condomínio e IPTU, por conta da sala estar fechada há muito tempo. Já são oito anos que a rodoviária saiu dali e não tem nenhum projeto para essas áreas públicas”.

Rosane Lima procurou a Subsecretaria de Defesa de Direitos Humanos para solucionar o problema. O projeto Programa de Ação Integrada e Continuada surgiu com parceria entre entidades e organizações que trabalham com pessoas em situação de rua, igrejas, e secretarias públicas. O Centro Comercial ofereceu salas para as equipes trabalharem no local. Rosane Lima afirma que hoje existem mais de mil moradores de rua e usuários de drogas no centro da cidade.

A síndica ressalva que a maioria dos comerciantes que estão no prédio aprenderam a conviver com os moradores de rua, eles esperam que o projeto resolva o problema e que as áreas públicas sejam ocupadas para valorizar o comércio. Ela explica que todos as noites, oito carros de diferentes igrejas levam alimentos, roupas e calçados para os moradores de rua, o que atrai cada vez mais pessoas em situação de rua e usuários de droga para a região. “Assim como eles e os usuários têm direitos, nós trabalhadores também temos o direito de ter o nosso comércio funcionando, de trabalhar dignamente. Essa decadência que está acontecendo aqui no entorno prejudica muitos trabalhadores. O comércio está morrendo com esse problema”.

O jornalista Leopoldo Neto reside na região central da cidade e destaca a importância do projeto para  alguns moradores de rua na região.  "Quando eu me locomovo no centro, em alguns lugares eu encontro pessoas que fazem parte desses dois grupos [moradores de rua e usuários de drogas], tanto na região da antiga rodoviária, quanto na da Praça Ary Coelho". Para ele, o projeto é importante para tratar o problema social, insuficiente para resolver o problema. "É um projeto interessante, mas acredito que a solução tenha que ser interdisciplinar, multidisciplinar e tenha que envolver todos os setores da sociedade".

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