PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Museus e acervos históricos de Campo Grande são vistoriados após incêndio no Museu Nacional

Museu José Antônio Pereira e Biblioteca Municipal necessitam de restauração para garantir segurança aos visitantes e adequação para conservação do material

Danielle Matos, Ethieny Karen, Rafaela Flôr e Thiago Rezende23/10/2018 - 16h08
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O Museu José Antônio Pereira e a Biblioteca Pública Municipal estão com os certificados de vistoria do Corpo de Bombeiros atrasados. Segundo a chefe da Divisão de Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), Joelma Arguelho os dois prédios históricos estão em fase de regularização para continuarem em atividade. Após dois meses do incêndio ocorrido no Museu Nacional, órgãos governamentais como o Ministério Público Estadual iniciaram medidas para manutenção de prédios históricos.  

O tenente do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), Marcos Meza afirma que nenhum museu em Campo Grande tem alvará. Meza afirma que os riscos de incêndio nos museus da capital são menores. “Os museus são mais modernos, diferente do Museu Nacional que era mais antigo com forro de madeira. Não tem perigo em Campo Grande de acontecer na mesma magnitude.”

A coordenadora do Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco), Lucia Monte Serrat afirma que como instituição pública, a administração recebe pouco investimento financeiro. “A gente luta com dificuldades como todo órgão público, toda rede de cultura. A gente não consegue fazer tudo que gostaria de fazer, mas fazemos um trabalho de formiguinha e todo dinheiro que a gente recebe de oficina, usamos para comprar lâmpada, pra arrumar algumas coisas”.

Lucia Monte Serrat afirma que está previsto repasse de verbas do governo estadual para a manutenção de equipamentos como o sistema de ar-condicionado do Marco. A coordenadora do Marco ressalta que este é um dos principais problemas do local e que se o ambiente está muito quente, compromete a integridade das obras de arte do acervo. “Elas não podem ficar no muito calor, ou muito frio, porque senão elas vão se deteriorando”.

O diretor do Museu das Culturas Dom Bosco e professor do curso de História da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Dirceu Van Lonkhuijzen afirma que a preservação do patrimônio nos museus deve incluir a documentação do acervo para evitar que tragédias como a do Museu Nacional aconteçam nos museus sul-mato-grossenses. "É importante a gente ter a ideia macro de que o acervo não são só as peças, os objetos, e sim o conjunto que parte desde os documentos, imagens, fotografias, e outros materiais que estão agregados junto às diferentes coleções desses acervos".

Para Van Lonkhuijzen, a análise de condições ideais para exposição de objetos de material orgânico, como temperatura adequada, umidade, iluminação correta para que as cores permaneçam as mesmas, precisa ser feita e acompanhada por profissionais que trabalham com conservação de patrimônio e acervos públicos. "Muitas vezes uma luz quente em uma ave pode fazer com que as cores da pluma se percam. Já com o mineral não, é até interessante para ressaltar aquela cor e dar um brilho". Van Lonkhuijzen explica que um dos papéis dos museus é salvaguardar o patrimônio e que o hábito de visitá-los auxilia na manutenção e na administração das instituições.

O historiador e coordenador do Sistema Estadual de Museus de Mato Grosso do Sul, Douglas Alves afirma que o Ministério Público Estadual, em parceria com as prefeituras, realiza um levantamento para detalhar a situação das instituições responsáveis pelos prédios históricos e acervos culturais do estado. "O Ministério Público entrou em contato conosco porque ele tem essa função fiscalizadora e com isso estamos buscando novas informações. Devemos ter um laudo, algo mais concreto até o final do ano".

Segundo Alves, Mato Grosso do Sul necessita de uma política para destinação de recursos à museus ou instituições que administram prédios históricos. Para o historiador, se os gestores públicos tiverem sob sua responsabilidade a gerência de um recurso próprio para atividades de conservação, sejam municipais, estaduais ou federais, diminuiriam as chances de acontecerem tragédias como a do Museu Nacional. "Os recursos pra cultura precisam existir e eles precisam ser empregados na cultura. É necessário recurso para artistas, para eventos e para cuidar do patrimonio cultural".

A chefe da Divisão de Patrimônio Natural, Cultural e Arqueológico da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campo Grande, Joelma Arguelho explica que, para evitar tragédias como a do Museu Nacional, os técnicos realizam e participam de capacitação na área de museologia, arquivologia, zeladoria, conservação dos bens edificados e educação patrimonial. "A preservação consiste em ações periódicas e não apenas em intervenção de restauro. Para um edifício manter sua integridade física é necessário um processo composto de noções de conservação preventiva, zeladoria, manutenção constante e diagnóstico de danos".

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