AGRONEGÓCIO

Universidades de Mato Grosso do Sul recebem recursos para pesquisas em tecnologia na agricultura

A Universidade Católica Dom Bosco e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul realizam estudos sobre agronegócio e biotecnologia e se tornam referência internacional

Gabriela Dalago e Gabrielle Tavares Rodrigues12/10/2019 - 16h21
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Projetos de pesquisa que objetivam implementar a Agricultura 4.0 receberam recursos financeiros para o desenvolvimento dos trabalhos. Grupos de pesquisadores da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) tiveram apoio financeiro para ampliar e consolidar o estudos nessa área. O Governo do Estado liberou cerca de R$ 800 mil para o projeto de pesquisa em Biotecnologia para a criação de novos medicamentos para equinos e bovinos, na UCDB. Na UFMS, outro projeto, o Vantagro-MS, tem pesquisa focada no uso de drones no campo e os resultados preliminares foram apresentados em agosto no Japão, com o apoio do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE).

A pesquisa realizada na UCDB é a Bioinspiration Bioinspir — Bioinspired molecules applied to increase the production and quality of animal protein (Moléculas bioinspiradas aplicadas para aumentar a produção e a qualidade da proteína animal), coordenada pelo professor Octávio Luiz Franco, iniciada em 2014. O objetivo do estudo é produzir medicamentos com base em produtos encontrados na natureza para aumentar a produção e a qualidade da proteína animal.

O pesquisador relata que o controle de bactérias resistentes a antibióticos é um dos maiores problemas na agropecuária, pois geram alta mortalidade nas produções e dificultam a exportação por causa dos resíduos que os antibióticos deixam na carne.Os pesquisadores coletam moléculas novas no cerrado e no Pantanal, aprimoram por meio de tecnologias de bioinformática e fazem testes nas bactérias. “Uma das alternativas, que é a que propomos no instituto, é buscar na natureza possibilidades para controlar as bactérias multirresistentes. Eu pego o conhecimento de antibióticos naturais, transformo eles de maneira a melhorar e tornar factível gerar um produto, e testo nas bactérias para ver o que acontece”. 

O projeto é pioneiro na área de biotecnologia agropecuária, conta com aproximadamente 230 pessoas, e com o apoio de instituições de pesquisa do estado, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a UFMS, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e a Universidade Anhanguera Uniderp, além de outras 26 instituições no Brasil e em 22 países.“Acredito que tenha pouquíssimos centros de Bioinspiração no mundo, a gente é o pioneiro. Possivelmente somos o único do país”.

O professor explica que o produto da pesquisa demorará para ser disponibilizado no mercado. “O desenvolvimento leva em torno de 10 anos para acontecer e acho que já chegamos na metade do caminho. É importante falar que não vamos vender, a gente vai desenvolver para as empresas captarem e fazerem a segunda parte”. A expectativa do coordenador é criar um produto novo que contribua com o desenvolvimento econômico do estado e do país. “Gostaria de ter um produto que fosse para o criador, que ele conseguisse usar de uma forma eficiente e solucionar um problema. Essa é minha perspectiva, chegar em um antibiótico que pudesse contribuir na produção de gado, de ovino, de frango ou o que quer que seja”.

Franco explica que a necessidade de trabalhar com produtos caros para tratar animais em grande escala, como uma produção de gado é a principal dificuldade. “Quando a gente pensa em animais de produção, são muitos né. Então o valor tem que ser menor, uma das nossas maiores batalhas é baratear o produto para que possa chegar no produtor”.

A projeto recebeu investimentos da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o que totaliza R$ 7 milhões. Franco afirma que o valor recebido até o momento para desenvolver o projeto é insuficiente. “Ainda falta uma parcela de valor razoável para repassarem para gente. Então recebemos uma quantia, mas está longe de ser o que precisamos para tocar o projeto”.

O projeto interdisciplinar Vantagro MS da UFMS, outro projeto de Agro 4.0, busca o desenvolvimento de um drone que, por meio da análise de imagens, identifique e apresente soluções em tempo real para o controle de pragas em espécies arbóreas, como na soja. O estudo recebeu apoio do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE), da Fundect e coolaboração de um grupo de pesquisas da UCDB. A previsão é de que a solução esteja pronta até março de 2020, os resultados preliminares foram apresentados em julho no International Geoscience and Remote Sensing Symposiumem em Yokohama, no Japão, e foi uma das cinco equipes em todo mundo contempladas com recursos financeiros do congresso para realizar a viagem.

O professor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura Urbanismo e Geografia (Faeng) da UFMS e coordenador do projeto, José Marcato Junior destaca que o processamento rápido é o principal diferencial do estudo. “Se você pega a soja, por exemplo, o tempo de cultivo é muito curto, se a gente demorar muito para processar as informações e ter um resultado, vai ser em vão. Então a ideia era proporcionar esse resultado em tempo real”. 

O integrante da equipe de pesquisa e professor da Faculdade de Computação (Facom) da UFMS, Wesley Nunes Gonçalves explica que o software é desenvolvido a partir do treinamento de um computador e de acordo com o problema que deve ser resolvido. Fotos são mostradas, no caso da soja, para que o software reconheça a presença e os tipos de doenças encontradas na planta. “É como se fosse uma criança mesmo. A gente mostra exemplos de coisas que eu quero que ele aprenda, e por trás disso tem um algoritmo que vai entendendo por inteligência artificial. E a partir do momento que ele aprendeu, a gente pode embarcar dentro de um drone. Ai ele vai tirando uma foto e já vai reconhecendo o que ele aprendeu”.

Gonçalves destaca que todo esse processo é feito por produção livre e que ter um computador de qualidade para treinar o sistema é a única necessidade. “Uma vez treinado, qualquer pessoa pode usar o software. Os algoritmos de reconhecimento têm uma precisão muito próxima da que o ser humano atinge. Nesse projeto, a gente já testou quatro tipos de doenças, as mais comuns daqui do estado, e chegamos a uma porcentagem muito próxima do que o ser humano faz”.

De acordo com Marcato, a parte mais cara na produção de um drone é o sistema Real Time Kinematic (RTK), um tipo de GPS que proporciona o reconhecimento em tempo real de coordenadas precisas, por meio do uso de dados transmitidos por satélites. “Por exemplo, aqui tem um problema, mas se errarmos 10 ou 20 metros em relação ao problema, acaba sendo ruim. Então o RTK já tem um custo maior, mas consequentemente eu consigo identificar o problema com poucos centímetros de erro. É a principal vantagem, e o que encarece hoje, mas nem tanto. Vamos colocar o custo em torno de R$ 12 mil, R$ 13 mil”.

Agro 4.0

O mundo globalizado e conectado é uma realidade, o uso da tecnologia relacionada às atividades do agronegócio ficou cada vez mais comum e se tornou um ponto importante para o avanço da agricultura brasileira nos últimos anos. Nesse contexto, surgiu o conceito da Agricultura 4.0, também chamada de agricultura digital, que faz referência à Indústria 4.0, e integra a agropecuária de precisão com a automação e a robótica agrícola.

A agricultura digital faz uso técnicas de big data e de recursos como conectividade entre dispositivos móveis, rede de sensores, comunicação máquina para máquina e computação em nuvem. Essas práticas contribuem para o aumento nos  índices de produtividade e da eficiência do uso de insumos, além de diminuir os impactos no meio ambiente, e melhorar a segurança e qualidade do trabalho.

 
Modelo 3D feito por meio da captura de imagens com a utilização do drone do Projeto Vantagro (Imagem: Henrique Siqueira)
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