DESPERDÍCIO

Descarte de alimentos na Ceasa de Mato Grosso do Sul soma 24 toneladas por dia

Ceasa aponta que 45% dos alimentos são perdidos na etapa de produção e 5% os comerciantes entregam a associações

Danielle Matos, Rafaela Flôr e Thiago Rezende 3/09/2018 - 10h21
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Na Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul (Ceasa) diariamente são descartadas 24 mil toneladas de alimentos. Ao todo, 18 mil toneladas de frutas, legumes, verduras e ovos são comercializados na Central,  de acordo com o diretor de abastecimento, Cristiano Chaves. Segundo determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), supermercados são proibidos de realizarem doações dos subprodutos para associações de trabalho voluntário ou organizações não governamentais. 

Associação Brasileira de Supermercados (Abras) contabilizou, de acordo com a 18ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro de Supermercados, o prejuízo de três bilhões de reais nas seções de açougue, frutas, legumes e verduras, padaria e peixaria em 2017. As principais causas de perdas registradas em 2017 pelos empresários são quebra operacional (36%), furto externo e erro de inventário (15%), e furto interno (10%).

Centro de Comercialização da Agricultura Familiar (Cecaf), anexo à Ceasa, enfrenta problemas com a destinação do que é impróprio para consumo ou venda. O gerente de comercialização do Cecaf, Nei Salviano afirma que as instituições possuem convênios para tentar diminuir o que é desperdiçado. "Aqui também há desperdício, mas a gente fez uma parceria com o programa Mesa Brasil e doamos pra instituições carentes". 

O diretor de abastecimento da Ceasa, Cristiano Chaves afirma que a perda de produtos ocorre mais na etapa de produção do que na de comercialização. "O comerciante quase não tem perda, vai perder 5% que é o descarte que ele vai entregar para as associações. Já o produtor perde bastante, da colheita até a mesa do consumidor a gente estima mais ou menos 45% [de perda] na produção". Chaves aponta que os principas fatores que influenciam no desperdício são o clima, embalagem, transporte e distância. 

Em quatro anos, mais de 200 produtores foram cadastrados para montar seus boxes no pavilhão anexo ao Ceasa. O gerente de comercialização do Cecaf, Nei Salviano ressalta que as altas temperaturas do estado e a demora na venda são fatores que influenciam na quantidade do que é desperdiçado e que as doações dos subprodutos são feitas periodicamente. "São jogadas de quatro a cinco toneladas [de alimentos] nos containers e os 'catantes' cadastrados vão no pavilhão das 8h às 11h para retirar, ou direto nos boxes, porque quem trabalha lá já conhece e deixa separado".

O gerente de desenvolvimento agrário da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Araquem Midon afirma que há perda de 10 a 30% da produção na lavoura de agricultura familiar. "Existe formas de você diminuir essa perda, pegar produto e agregar valor nele. Nós trabalhamos em um eixo chamado formação e capacitação. Estamos levando assistência técnica em capacitação e treinamento para aproveitar esses produtos e não deixar perder, para não ter desperdício".

Existem quase 1.300 lojas de hiper, super, mini mercados e mercearias no estado de Mato Grosso do Sul. De acordo com a Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados (Amas), 600 delas estão localizadas em Campo Grande. O presidente da Amas, Edmilson Verati afirma que produtos vencidos nos supermercados são descartados. A resolução nº 126, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proíbe a doação de produtos industrializados com data de validade vencida a entidades de reaproveitamento. 

Verati explica que, para o descarte correto, deve haver uma empresa cadastrada no município que faça a coleta dos produtos, envie as embalagens para reciclagem e o "produto final" para a compostagem. Para ele, o descarte de alimentos é incoerente. "Produto vencido não quer dizer que é impróprio. Por questão legal tem que por data de validade, o produto está excelente para consumo, mas já expirou a validade devido a sua embalagem, esse produto tem que ser descartado, jogado no lixo, porque não se pode fazer doação e reaproveitamento desse produto, uma incoerência em um país onde existe muita gente passando fome". 

A Amas tem parceria com o programa Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (Sesc), que recolhe alimentos para reaproveitamento e distribuir para entidades sociais cadastradas ou pessoas em situação de vulnerabilidade social e nutricional. Segundo dados do Mesa Brasil SESC, de janeiro a junho de 2018, aproximadamente 1,4 milhão de pessoas foram atendidas por dia e 22 milhões de quilos de alimentos distribuídos. O programa é realizado em 534 cidades brasileiras.  

   Mesa Brasil SESC atendeu, em 2018, um milhão de pessoas
   (Foto: Thiago Rezende)

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que o desperdício de 22 bilhões de calorias em alimentos no Brasil seria suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais de 11 milhões de pessoas. Aproximadamente 6% das perdas totais de alimentos no mundo estão concentradas em países da América Latina e Caribe. As etapas que mais desperdiçam são a da produção e consumo, com 28% cada, seguidas da distribuição, com 22%.

 

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