ECONOMIA

Idosos mantêm trabalho informal após aposentadoria em Mato Grosso do Sul

Estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Diesse) de Mato Grosso do Sul aponta que 73% dos aposentados contribuem com 50% ou mais da renda do próprio domicílio

Ayanne Gladstone, Débora Oliveira, Mariely Barros e Patrick Rosel 2/04/2022 - 14h17
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Estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2021, aponta que 24,4% dos 443 mil idosos entrevistados de Mato Grosso do Sul se mantiveram no mercado de trabalho após a aposentadoria. Os dados indicam que o Estado se manteve acima da média nacional, que é de 18,5%. O estudo informa que 73% dos aposentados contribuem com 50% ou mais da renda do próprio domicílio.

O levantamento aponta que 86% moram com outras pessoas e 26% receberam auxílio emergencial destinado a cidadãos em situação de vulnerabilidade socioeconomica durante a pandemia de Covid-19. Dos entrevistados, 61% afirmam ter comorbidades e 28% possuem plano de saúde. A pesquisa entrevistou 37,7 milhões de pessoas acima de 60 anos que são denominadas idosas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) divulgada pelo Dieese, as altas mais expressivas no valor da cesta básica ocorreram em Campo Grande (2,78%), Curitiba (2,57%), Goiânia (2,59%) e Porto Alegre (3,40%). O valor do produto apresentou em 12 meses uma variação que oscilou entre 23% na capital. A porcentagem compromete 60,51% do salário mínimo líquido, que é de R$1.212,00. 

Maria Helena Guedes, 64 anos, é aposentada e começou a vender pão de queijo para complementar a renda. Ela mora sozinha há cinco anos e declara que, com o aumento no preço da cesta básica, a aposentadoria é insatisfatória para cobrir os custos com alimentação. "Eu vendo pão de queijo para ajudar um pouco mais, porque as coisas estão muito difíceis agora. Para nós, que somos aposentados e ficamos em casa, é difícil. Antes eu preparava bolos de pote, mas parei. Hoje em dia eu vou no mercado e só de comprar cinco itens o dinheiro não cobre mais".

De acordo com a economista do Programa de Extensão Universidade Aberta à Pessoa Idosa (UnAPI) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Luciene Cristina Carvalho um salário mínimo é insuficiente para atender as necessidades do idoso na fase da aposentadoria. “Para muitos idosos, apesar de entrar em situação de aposentadoria, acaba não sendo vantajoso financeiramente para eles e precisam permanecer tralhando”.

Segundo Luciene Cristina Carvalho, prever um valor adequado para cobrir as necessidades de vida do idoso é complexo. Os dados do Observatório da Economia (OBECON) da UFMS referente a janeiro de 2022 informam que, para uma família composta de dois adultos e duas crianças, o custo médio de alimentação seria de R$ 1.980,33. “Esse valor cobre só a alimentação básica. Já as outras necessidades como médico, remédio e atividades para manter a qualidade de vida, com certeza, ultrapassam esse valor”. 

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Deoclides Bezerra, 66 anos, é aposentado e trabalha como segurança há três anos. Ele afirma que o serviço informal é uma forma de complementar a renda e manter a saúde, porque deseja ser independente do benefício. Bezerra esclarece que a maior parte do seu benefício é atribuído às despesas da casa. “Antigamente minha compra era de R$ 300,00 a R$ 400,00. Agora chega a quase mil reais por mês. Sobra uns troquinhos e eu tenho que depender de comprar remédio também. Se não fosse essa renda de fora, alguma coisa ia faltar”. 

O psicólogo e ex-funcionário do Centro de Convivência Edmundo Scheuneman, na Vila Piratininga, Douglas Teixeira explica que os idosos têm interesse em fazer parte do mercado de trabalho informal quando possuem uma boa condição física e mental. Ele informa que o idoso volta a se sentir produtivo e parte da sociedade ao se manter ativo no mercado. "O que eu tenho orientado para alguns idosos é fazer um meio termo. Não precisam voltar a trabalhar 44 horas semanais. O resultado que a gente tem obtido, generalizando em sua maioria, é que quando eles voltam para o mercado de trabalho, eles gostam de se sentirem produtivos e integrados a sociedade".

Maria de Fatima, 62 anos, que preferiu manter seu sobrenome em sigilo devido às normas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), afirma que entrou na informalidade no ano passado. Ela explica que destina mais de 70% de sua renda para as despesas de casa. “Minha filha começou a fazer faculdade no ano passado e, como ela recebe pouco, eu tento de tudo para ajudar ela a continuar estudando e melhorar de vida”. Ela realiza trabalho extra como passadeira a cada 15 dias e recebe R$ 250,00 de diária e vale-transporte. Ela afirma que retornar ao mercado de trabalho foi bom para sua saúde mental. "Eu trabalhei de doméstica muito tempo. Com 12 anos, minha mãe me trouxe da fazenda para trabalhar como doméstica, depois trabalhei alguns anos como ambulante, mas nunca consegui me aposentar porque não sabia que precisava pagar o INSS". 

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