Acidentes de trabalho nas despesas previdenciárias
Conforme os indicadores do SmartLab, entre 2012 a 2022, morreram 503 trabalhadores no exercício de sua atividade laboral em Mato Grosso do Sul, com uma taxa de mortalidade de 10 óbitos a cada 100 mil vínculos de emprego no mercado de trabalho formal. Os dados também demonstram que os acidentes de trabalho impactam diretamente nos gastos previdenciários do INSS. Conforme último dado disponibilizado, em 2021 foram mais de 36 milhões de reais em despesa com auxílio-doença em Mato Grosso do Sul e 90 milhões apenas com aposentadoria por invalidez por acidente de trabalho. No acumulado desde 2012, são 324,7 milhões gastos com o auxílio no estado e 609,3 milhões em aposentadorias.
De acordo com a economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Andreia Ferreira os números indicam que há uma divergência entre as práticas adotadas pelas empresas e os dados estatísticos de acidentes de trabalho. Para a economista, "nos deparamos com uma visão limitada por parte de muitos no setor empresarial brasileiro, para os quais o investimento em saúde e segurança dos trabalhadores reduzirá sua margem de lucro e esse pensamento é histórico". Andreia Ferreira destaca que “o empregador já costuma olhar o trabalhador como custo no seu empreendimento. No caso do acidente, em que a responsabilidade desse evento muitas vezes é atribuída totalmente ao trabalhador, parte mais frágil da relação de trabalho, isso não é diferente. As investigações, quando feitas, devem ir além da aparente falha humana, mas considerar o quê, nos processos de trabalho, pode ter contribuído para ocasionar o acidente. Infelizmente, os negócios, independentemente de qual natureza ou setor, têm se concentrado no custo dos seguros do empreendimento”.
A plataforma SmartLab apresenta também uma perspectiva da duração de benefícios previdenciários e revela o número de dias perdidos de trabalho. A soma da duração de cada benefício concedido em 2022 revelam mais de 383 mil dias perdidos. Para Andreia Ferreira, são perdas humanitárias e familiares, e também econômicas, que afetam a produtividade de empregadores e da economia em geral. A economista ainda ressalta a alta no preço dos alimentos, combustíveis, energia elétrica e transporte, que exercem pressão no custo de vida das pessoas e "tende a se agravar no caso dos trabalhadores que tiveram um acidente de trabalho".
Segundo a advogada previdenciária Ana Caroline Lima Monteiro, os empregadores têm a responsabilidade de fornecer equipamentos de proteção individual aos seus funcionários e cumprir normas trabalhistas para que se evite acidentes de trabalho. A advogada explica que assim que o acidente acontece o trabalhador deve comunicar a empresa para, então, ser emitida uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). “A CAT tem a finalidade de notificar a previdência social sobre o fato ocorrido e atestar que houve acidente ou doença ocupacional. A comunicação permite que o INSS preste assistência ao trabalhador. A partir dela, o trabalhador também consegue acesso a vários procedimentos trabalhistas e previdenciários, inclusive acionar a empresa judicialmente para requerer indenização por danos morais”.
Segundo a procuradora Claudia Noriler, entre as causas mais comuns de acidentes de trabalho estão a falta de atenção, o descumprimento de normas de segurança e o uso inadequado de equipamentos de proteção individual. Para a procuradora, as ações de prevenção devem ser priorizadas pela empresa por meio de um estudo dos riscos a que os trabalhadores estarão submetidos e adotar as medidas necessárias para eliminá-los. Claudia Noriler destaca que "do mesmo modo, o trabalhador deve se informar sobre os riscos a que a atividade a qual desempenha está exposta, utilizar os equipamentos de proteção individual e coletiva, além de adotar as posturas adequadas para que se evitem acidentes. Desta forma, a responsabilidade é dupla, tanto do empregador quanto do empregado".