CRIMES VIRTUAIS

Crimes cibernéticos financeiros crescem 11% em Campo Grande

Os métodos de estelionato incluem disseminação de softwares maliciosos por meio de páginas de Internet, e-mails e anúncios fraudulentos que o criminoso utiliza para acessar os dispositivos das vítimas

Luiza Vonghon, Marcus Gonçalves, Mariana Piell e Mariana Brito16/08/2023 - 14h02
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Os delitos contra o patrimônio realizados virtualmente aumentaram 11% em Campo Grande, de janeiro a agosto de 2023, comparados ao mesmo período no ano anterior. Os crimes de estelionato virtual representaram 36,79% dos casos totais de estelionato registrados em 2022 em Mato Grosso do Sul. A capital teve 1.544 casos este ano, entre estelionato, fraudes eletrônicas e furtos.

Mato Grosso do Sul teve mais ocorrências do que o registrado no mesmo período do ano passado. A maioria dos ataques inclui a disseminação de softwares maliciosos por meio de páginas de Internete-mails e anúncios fraudulentos que o criminoso utiliza para acessar os dispositivos das vítimas. O criminoso consegue os dados pessoais do usuário para vendê-los ou utilizá-los em golpes futuros.

O bacharel em Sistemas de InformaçãoRoger Nascimento explica que na década de 90 a Organização Internacional de Normalização (ISO) estabeleceu uma padronização na Europa para a Segurança da Informação. “Mesmo que eu diga para você não passar suas senhas e informações quando eu te ligar, e você passar, a falha é compartilhada. Na verdade, ela é muito mais sua do que minha que sou gestor da empresa”. Segundo Roger Nascimento, um dos principais problemas é o fato de que as empresas frequentemente não conseguem controlar as interações pessoais dos usuários no ambiente digital.

Nascimento explica que os golpes são aplicados a partir da utilização de técnicas de Engenharia Social,  que consiste em estratégias aplicadas pelos criminosos cibernéticos para "manipulação das emoções e o uso de truques para enganar as vítimas", com o objetivo de conseguir senhas de banco, gerar cliques em páginas da Internet maliciosas ou executar ações que comprometam a segurança das informações das vítimas. Nascimento evidencia que a Inteligência Artificial é utilizada para praticar golpes, principalmente por sua gratuidade, e por ser acessada de qualquer lugar.

Roger Nascimento explica como os golpes virtuais são aplicadosRoger Nascimento explica como os golpes virtuais são aplicados (Créditos: Mariana Brito)

O advogado especialista em Direito DigitalRaphael Rios Chaia afirma que os debates jurídicos sobre proteção de dados são recentes, uma vez que até 2010 não existiam leis específicas de proteção de dados. Havia o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que aborda o Direito do Consumidor de forma ampla. A Lei n°13.709, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), regulamenta a proteção e das informações privadas dos usuários compartilhadas na Internet desde 2020. 

modus operandi dos golpistas se alterou com a popularização do Pix e a instantaneidade das transações. A aprovação imediata dos pagamentos impossibilita o ato de contestação dos clientes nos casos chamados de "golpe do Pix". Chaia afirma que a regulamentação dos bancos em relação a crimes cibernéticos são insuficientes para garantir a segurança dos usuários. “Se o banco não quer se dar ao trabalho de poder autenticar as operações, ele deve assumir a responsabilidade de ter que arcar com o prejuízo que eventualmente acontecer”. 

A funcionária pública Meire Falco foi vítima de estelionato virtual em 2021, após desembolçar R$900,00 em um ar-condicionado à vista em uma falsa página da Internet. A vítima explica que a página da Internet tinha muitos detalhes, que todas as mercadorias estavam em promoção e percebeu ser um golpe após verificar que e o código de rastreio era inexistente. "O site era perfeito, totalmente montado, com imagens, descrição de produtos, não tinha como se enganar”. A professora procurou uma delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência e fez uma denúncia na Internet sobre o ocorrido.

Pedro Silva* relatou que o golpista entrou em contato pelas redes sociais e, depois de ambos afirmarem terem mais de 18 anos, trocaram fotos íntimas. A falsa paquera retomou a conversa após duas semanas, quando o golpista informou a Pedro ser um menor de idade. O criminoso cometeu os crimes de extorsão ao cobrar um valor pelo sigilo das fotos íntimas da vítima e falsidade ideológica ao se passar por uma autoridade. “Recebi mensagens de um suposto delegado que falou que eu deveria prestar esclarecimento porque minha conversa foi pega no telemóvel do garoto. Me enviou também prints dos perfis no Facebook dos meus parentes”. 

A auxiliar de aeroporto e modelo Jamile Rodrigues teve sua conta no instagram invadida e utilizada por criminosos para aplicação do “golpe do pix” por meio da rede social Instagram. Os hackers criaram uma conta falsa da agência de modelos da qual Jamile é uma das agenciadas para conseguir os dados da modelo. “Eu conferi e dei uma olhada na página do Instagram. Nela tinha um link que dava acesso para o site oficial da agência. Então eu confiei”. Os golpistas, por meio dessa conta, convidaram Jamile Rodrigues para participar do sorteio de um ensaio fotográfico. A modelo acessou um link enviado pela "agência" de modelos para concorrer ao prêmio e, assim, os invasores conseguiram acessar os dados pessoais da vítima.

A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul disponibiliza uma cartilha de orientações para informar a população sobre formas de prevenção contra golpes e fraudes. No documento há a descrição dos tipos de golpes mais comuns, como a criação de falsos boletos e a divulgação de anúncios de vendas enganosos. A cartilha instrui sobre como denunciar atividades suspeitas as autoridades competentes.

*Nome fictício para proteger a identidade da fonte

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