Daniely Proença explica que as farmácias e drogarias prestam atendimento especial à pessoas que possuem doenças crônicas, devido a necessidade do uso contínuo de medicamentos. A conselheira ressalta que os profissionais também devem supervisionar a automedicação e a compra desregulada dos fármacos. “A nossa maior preocupação é com os pacientes de problemas crônicos. A gente sempre foca em diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, porque a pessoa que tem pressão alta não pode interromper o medicamento dela, da mesma forma a pessoa que tem diabetes. São medicamentos que tem que estar na cesta de atendimento e na cesta que a pessoa tem em casa. A gente tem batido em cima do uso racional de medicamentos, na automedicação e na compra descontrolada, porque às vezes o paciente vai em uma drogaria sabendo que lá tem cinco caixinhas e quer comprar as cinco para garantir que o tratamento dele não seja interrompido. Só que às vezes ele nem precisa de tudo aquilo”.
De acordo com a economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Andreia Ferreira a inflação do país foi o componente com maior peso na fórmula de reajuste criada pela Cmed. Ela explica que a fórmula considera a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e é utilizada para organizar como e quais valores devem ser aplicados nesse reajuste anual. “A partir desse índice, é deduzida a produtividade da indústria farmacêutica, chamada nessa fórmula de Fator X, e a qual são somados os custos de produção não captados pelo IPCA, como variação cambial, variações de tarifa de energia elétrica, de preços de insumos e que, nessa equação, são chamados de Fator Y”.
Infografia: Ayanne Gladstone
Andreia Ferreira afirma que o último segmento da fórmula, chamada de Fator Z, promove a concorrência nos segmentos do mercado farmacêutico. Ela esclarece que em 2022 o Fator X e Z foram equivalentes a zero, o IPCA foi de 10,54% e o Fator Y de 10,33%. “Esse cálculo resultou então em um reajuste de 10,89% no preço anual dos medicamentos”.
A podóloga Ana Claudia Rodrigues, 41 anos, realiza tratamento contra Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) há 14 anos. Ela realiza tratamento contínuo pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e compra a hidroxicloroquina, medicamento que atua na queda de cabelo, feridas na pele e dores nas articulações. Ana Claudia explica que pagava R$ 62,00 pelo fármaco e que, após ele receber um reajuste de 17% na farmácia onde é cadastrada, começou a pagar R$ 78,00. “No momento, só preciso comprar esse, mas não sei se amanhã vou precisar de outros remédios no tratamento. Tudo já está mais caro, né? E qualquer valor já pesa no orçamento”.
A diarista Vera Lucia de Lima Andrade, 56 anos, toma medicamentos para tratar a endometriose há mais de 10 anos e explica que o preço do fármaco utilizado em seu tratamento mensal teve um aumento de R$ 10,00. Ela explica que o medicamento está indisponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). “Antes do reajuste, já era difícil comprar, agora está mais difícil ainda. Não é só com medicamento que eu gasto. Eu também preciso arcar com o aluguel da minha casa, com as contas de água, gás, mercado. Como eu vou separar meu pagamento para cada uma dessas contas e fazer sobrar dinheiro pra cuidar da minha saúde? Não dá”.
Serviço
O Programa Farmácia Popular distribui medicamentos gratuitos para a população que possui cadastro, e possibilita descontos de até 90% em diversos remédios. É necessário apresentar a Carteira de Identidade (RG) e a receita prescrita pelo médico. Os medicamentos prescritos devem estar na lista dos produtos com desconto disponibilizada pelo programa.