DIFERENÇA

Preço dos medicamentos tem diferença de até 470% em Campo Grande

Relatório anual da Superintendência do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul aponta aumento em 99 dos 170 medicamentos analisados

Giovanni Dorival, Gustavo Bonotto e Letícia Monteiro22/05/2021 - 13h30
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Relatório anual da Superintendência do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul (Procon/MS) constata diferença de preço em até 470% nas principais redes de drogarias de Campo Grande. O levantamento realizado em abril mostra que 99 medicamentos ficaram mais caros comparado ao mesmo período de 2020. A comparação verificou 170 tipos de drogas conhecidas, como analgésicos, antibióticos, anti-inflamatórios, imunossupressores e corticoides.

O anti-inflamatório Ácido Mefenâmico, indicado para cólicas menstruais crônicas foi o medicamento com a maior variação de preço. Uma caixa de 500 miligramas com 24 comprimidos é comercializada a partir de R$7,90 até R$45,05, o que resulta na diferença de 470,2% entre os preços. A menor variação é 5,26% do Citrato de Colina, aminoácido indicado para o tratamento de distúrbios metabólicos hepáticos e que pode ser encontrado por R$1,90 e R$2,00 a cápsula de 50 mililitros.

Medicamentos conhecidos como o antidepressivo Fluoxetina tiveram queda de 113% no preço final ao consumidor. Uma caixa de 20 miligramas com 30 cápsulas varia entre R$ 16,47 até R$ 52,53. A Tadalafila, indicada para dores na próstata, teve alta de 40,15% em relação ao mesmo período em 2020.

Em abril, o Governo Federal aprovou o reajuste de 10,08%, autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) em produtos farmacêuticos. A justificativa do aumento corresponde à inflação e a classe de produção de cada medicamento. No mês seguinte, o Senado aprovou por unanimidade o projeto de lei nº 939/2021, que suspende o reajuste. A proposta foi encaminhada para a Câmara de Deputados.

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF/MS), Flávio Shinzato o aumento nos preços está diretamente ligado demanda. “O índice aumento é de toda a produção, pois os insumos tiveram aumento e com isso as indústrias precisam pagar mais por isso, o que encarece o produto a ser vendido aos empresários, que precisam repassar também ao consumidor final”.

Segundo Flávio Shinzato, as vitaminas, analgésicos, antitérmicos e medicamentos do “kit-covid”, como Ivermectina, Azitromicina e Hidroxicloroquina, tiveram maior procura. “O preço dos medicamentos sobe devido ao fato da grande procura por parte da população de medicamentos que, supostamente, fazem prevenção a Covid-19, por exemplo. Isso provoca desabastecimento, desde a fase de matéria prima nas indústrias, e afeta toda a cadeia de produção”.

A orientação do presidente do CRF é evitar a automedicação. “Se precisar realmente de uma medicação que seja por orientação médica ou farmacêutica. Muitas vezes a pessoa faz uso desnecessário de um medicamento, e além de causar malefícios à saúde, causa também malefícios ao meio ambiente. Logo o farmacêutico deve ser procurado sempre para orientar a sociedade tudo que for relacionado aos medicamentos. O que é? Pra que serve? Se posso usar? Por quanto tempo? Se causa efeito colateral? Tem complicações se usar com outro remédio? Com que eu tomo? Água ou leite? Ou seja, todas essas dúvidas que podem influenciar na vida da pessoa".

Para a confeiteira Thauane Arruda, de 29 anos, a alta procura pela Hidroxicloroquina afeta o controle do lúpus. Uma caixa de 400 miligramas e 30 comprimidos é encontrada por R$94 e R$123,90 em Campo Grande, uma variação de 98%. “Antes, eu pagava cerca de R$60,00. Depois começou a aumentar, e já fiz orçamentos de R$400,00, R$500,00. Um absurdo.”

Thauane Arruda teve que recorrer a Casa da Saúde, projeto estadual que atende mais de 60 mil sul-mato-grossenses e distribui medicamentos de difícil acesso para pacientes carentes. “Corri atrás de ajuda. Mas também gastei quase mil reais na documentação para conseguir a medicação. A Azatioprina, imunossupressor corticoide essencial no acompanhamento, ainda tento comprar. Pedindo ajuda ali, pedindo ajuda aqui... Está saindo muito caro.”

Grizelda e seus medicamentos diáriosGrizelda Carvalho busca promoções para economizar  (Foto: Letícia Monteiro)

Grizelda Gualberto de Carvalho, de 66 anos, toma cinco remédios por dia, como vitaminas, imunossupressores para o coração e controle da pressão. Segundo ela, as variações no preço desses medicamentos demandam uma pesquisa em várias drogarias. “Em um estabelecimento é um preço, noutro é outro, no próximo o remédio estava em falta. Só neste mês, fui a três farmácias. A minha peregrinação é constante".

Após três infartos, Grizelda Carvalho passou a utilizar o antiplaquetário Somalgin Cardio. “É um remédio muito caro e que não encontro no Sistema Único de Saúde (SUS). Sou diabética e hipertensa, a medicação é essencial e contínua. Não dá para interromper, isso faz parte da minha vida. Um aumento anual afeta meu dia-a-dia. Deixo de comer uma mistura para comprar remédios. Vou comer só arroz e feijão? Mas vou levando”.

Serviço

A sede do Procon/MS em Campo Grande é localizada na Rua 13 de Junho, 930.
Denúncias são realizadas pelo canal do WhatsApp no (67) 98469-1001 e no telefone fixo (67) 2020-1236.

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