RURAL

Mato Grosso do Sul registra aumento de 41% na produtividade da pecuária leiteira

Pesquisa do IBGE mostra que mesmo com a redução do rebanho da pecuária em 24,8% a produtividade cresceu cerca de 41%

Amanda Franco, Ana Karla Flores e Lethycia Anjos24/09/2018 - 23h29
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Produtores de leite de Mato Grosso do Sul obtiveram aumento de 6,4% em 11 anos. A produção passou de 383,8 milhões para 408,5 milhões de litros por ano. Os dados fazem parte do Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados no 21º Encontro Técnico do Leite, realizado na Expo MS Rural no mês de agosto. A pesquisa mostra que mesmo com a redução do rebanho da pecuária em 24,8% a produtividade cresceu cerca de 41%.

A analista técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eliamar Oliveira explica que houve um investimento maior no rebanho produtivo. “Nós tivemos aumento de produção e uma redução do número de vacas ordenhadas. Então é como se houvesse um investimento maior, uma substituição de rebanho, no caso, rebanho menos produtivo por rebanho mais produtivo. Isso fez com que aumentasse a produção de leite no estado”.

boletim rural da Famasul de julho de 2018 aponta que a captação de leite tem diminuído no estado. Nos estabelecimentos sob Inspeção Federal (SIF) e Inspeção Estadual (SIE), o volume recolhido no primeiro semestre de 2018 foi de 101,4 milhões de litros, valor 21,9% inferior ao do mesmo período de 2017, em que foram recolhidos 129,9 milhões de litros. O coordenador do Conselho Paritário de Produtores e Indústrias de Leite (Conseleite MS), Wilson Igi ressalta que em três anos a produção total de leite por ano reduziu em 35%. “Em 2014, Mato Grosso do Sul produziu 364 milhões litros de leite. Em 2015, 337 milhões. Em 2016, 269 milhões. Em 2017, 237 milhões. E a previsão para 2018 é de 190 milhões de litros de leite”.

O Conselho elabora diretrizes para definir o valor de referência da matéria-prima, calculado a partir de pesquisas do custo do produtor, da indústria e do preço de venda do leite. A instituição é composta por representantes da bancada rural e dos laticínios indicados, respectivamente, pela Famasul e pelo Sindicato da Indústria de Laticínios de Mato Grosso do Sul (Silems). Os valores finais de referência do produto em agosto de 2018 variaram de R$1,18 à R$1,35 em média mensal de 100 à 1000 litros de leite por dia, entregues pelos produtores rurais.

Igi destaca que a comercialização do leite se caracteriza como um processo dificil para o produtor. “Na verdade, o produtor não vende leite. Ele entrega o leite sem saber quando vai receber. Só depois que a indústria fecha a conta, o fluxo de caixa, que ela paga o fornecedor”. 

O aumento da produtividade traz um aumento do leite produzido por lactação da vaca, fator que pode causar doenças como a mastite, caracterizada pela inflamação do ubre do animal. Igi relata que a doença reduz muito a produção no estado. “A mastite clínica é facilmente detectável porque quando você faz o teste da caneca, você vê os grumos de pus no leite. Então qualquer um consegue identificar uma mastite clínica. O que não se consegue identificar é a mastite subclínica, que necessita de exame laboratorial.”

Mato Grosso do Sul possui atualmente 23.785 produtores de leite. Para a analista técnica da Famasul, Eliamar Oliveira a organização é um dos desafios do setor. “É importante que o produtor possa se associar, estar cooperado. Assim ele consegue ter uma escala de produção ou ter poder de negociação da indústria. Pelo fato de produzir em cooperativa, você agrega pequenos produtores e acaba tendo um volume maior, então isso facilita a negociação”.

 

 

O produtor rural Altamiro Nogueira Barbosa produz leite em sua propriedade de 20 hectares "Rancho São Gabriel", próxima ao distrito de Rochedinho. Ele também é coordenador da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite de Mato Grosso do Sul, órgão que objetiva sugerir medidas para propiciar o crescimento e a melhoria das atividades do setor. 

Na propriedade de Barbosa são produzidos 400 litros de leite por dia. A média diária de cada animal é de 14 litros e atualmente apenas 30% do rebanho gera leite. O proprietário explica que o produto é vendido a R$ 1,40 o litro para o Laticínio Flori, empresa local que comercializa em Campo Grande e região. “Os nossos custos ficam na faixa de R$ 1,15, R$ 1,20. Então nós temos 10%, 15% de lucro, o que acaba não se tornando uma margem líquida porque desses valores ainda tem uns descontos, fora os investimentos”.

   Barbosa utiliza ordenha mecânica
  (Foto: Ana Karla Flores)

Barbosa afirma que os maiores desafios do setor são a capacidade de investimento, dificuldade de integrar a família no negócio, falta de investimento público e equilíbrio entre as "cadeias produtivas, que caracteria o produtor, indústria, mercado e consumidor". O produtor ressalva que “as empresas que têm grandes produções, têm conseguido fazer investimentos. Nós dependemos muito de financiamento público. As taxas de juros são caras e possuem prazo de pagamentos curto”. Barboi explica que o setor supermercadista, atacado e varejo ficam com as maiores margens de lucratividade na cadeia produtiva. “O produtor sofre um pouco mais, por não ter um sistema organizado de colocar preço naquilo que vende. Ele vende pelo preço que a indústria coloca e a indústria coloca o preço pelo valor que vende no supermercado”.

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