PRODUÇÃO DE LEITE

Valor do litro de leite cru pago ao produtor rural diminuiu em Mato Grosso do Sul

A desvalorização no preço médio do litro de leite cru foi registrada no terceiro trimestre deste ano, após aumento de importações, baixa demanda de consumo interno e diminuição nos custos de produção

Luiza Vonghon, Marcus Gonçalves, Mariana Brito e Mariana Piell21/09/2023 - 16h00
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O preço pago aos produtores rurais pelo litro de leite spot (cru) diminuiu em Mato Grosso do Sul no terceiro trimestre deste ano. A baixa demanda de consumo interno, aumento do número de importações, e a diminuição nos custos de produção provocaram a queda no preço pago aos produtores. O preço do leite teve uma variação de -4,99% em relação ao mês de julho de 2023.

A alta dos preços é causada pelas alterações de temperatura e à baixa umidade do ar, características do período de inverno. O aumento dos preços pagos aos produtores durante o período de entressafra é recorrente, os locais disponíveis para as pastagem diminui e o preço dos da matéria prima utilizada aumenta. O valor pago aos produtores por litro de leite em Mato Grosso do Sul em julho de 2023 era de R$2,69, número que representa diminuição de 38,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior. 

Segundo o secretário executivo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Orlando Serrou o período de seca, a importação de leite de outros países, o grande estoque nas prateleiras e o baixo consumo da população local provocaram a diminuição do preço do leite pago aos produtores. “Essa variação e redução do preço pago ao produtor vem acontecendo mês a mês, menos 1%, 0,5% e até 4% dependendo de como está o mercado. Atualmente, nosso mercado interno tem essa variação muito em função de não sermos exportadores. Mais de 90% do que produzimos é consumido aqui mesmo”.

Orlando Serrou explica que os municípios em que há grande produção de leite no Mato Grosso do Sul são Itaquiraí, Campo Grande, Iguatemi e Paranaíba. Serrou destaca que a importação de leite de países do Mercosul, como a Argentina e o Paraguai, é um dos fatores que influenciou no valor pago ao produtor. “Outro fator além da importação e da seca é o consumo. O consumo de leite do estado tem caído um pouco. Como o valor do leite aumentou muito no final do ano passado e a renda do consumidor continuou o mesmo, o consumo dele não aumentou. E com o volume maior de leite no começo do ano isso influenciou no preço”.

Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) mostram que as empresas do agronegócio investiram mais de 509 milhões de dólares em leite cru e em pó importado até o mês de setembro deste ano. A vice-presidente da Cooperativa Agrícola Mista da Pecuária Leiteira e de Corte e da Agricultura Familiar (Cooplaf), Lucilha de Almeida relata que a compra de leite e derivados lácteos estrangeiros dificultou a comercialização dos produtos de produtores e indústrias locais. “O maior desafio aí, neste ano, é a questão da entrada de bebidas e leite de outros países, uma vez que isso trouxe um grande problema para nós da cadeia produtiva do leite e para as indústrias também”.

Lucilha de Almeida enfatiza que o aumento no valor pago por litro de leite aos produtores costuma ocorrer no segundo semestre. De acordo com Lucilha de Almeida, a importação de produtos importados da Argentina e Paraguai comprometeu a demanda de compra de leite nacional esperada por empresas de pasteurização. “A gente percebeu a dificuldade na negociação com o laticínio no momento que o leite era para estar subindo devido aos altos momentos da seca, que tem uma dificuldade maior de produção”.

O economista Eduardo Matos explica que o aumento do valor pago aos produtores locais fortalece toda a cadeia produtiva do leite. “O aumento no ganho do produtor pode gerar novos investimentos na propriedade rural e aumento da produção. Esse aumento da produção pode gerar crescimento de empregos e de renda de maneira indireta na cadeia, seja na venda de insumos, seja na aquisição, e até na arrecadação do estado por meio de tributos”.

Eduardo Matos enfatiza que o valor do leite é definido por expectativa e demanda, que representa a quantidade de leite necessário para suprir as necessidades do consumidor. “Em primeiro lugar, eles se norteiam por expectativas, visto que eles estão decidindo produzir hoje para vender futuramente. Em segundo lugar, esse mesmo lapso de tempo pode fazer com que os produtores cheguem atrasados para colher bons frutos das altas dos preços, ou seja, até que eles consigam vender esse leite a demanda do público pode diminuir”.

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