EDUCAÇÃO

Acadêmicos do curso de Medicina da UFMS entram em greve devido à superlotação nas turmas

Estudantes do câmpus de Três Lagoas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul reivindicam revisão dos critérios adotados para a ocupação de vagas ociosas que priorize a equivalência de disciplinas e contingente de alunos

Fernanda Venditte, Julia Renó, Mara Machado27/11/2018 - 09h33
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Estudantes do curso de Medicina no Campus de Três Lagoas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CPTL/UFMS) entraram em greve estudantil no dia 19 de novembro, após manifestações contra a superlotação das turmas e atual capacidade de infraestrutura do curso. Os acadêmicos solicitam melhorias nos processos de ocupação de vagas remanescentes adotados pela instituição, principalmente os de mobilidade interna, que afetam diretamente a qualidade da formação e torna os procedimentos de laboratório inviáveis. A instituição considera, para o cálculo de vagas ocupadas e ociosas, os números do curso, sem avaliar o quantitativo das turmas.

De acordo com o presidente do Centro Acadêmico de Medicina Dercir Pedro de Oliveira (Camdpo), Fabiano Rocha o método utilizado pela UFMS gera má distribuição no contingente numérico de alunos. “Para eles não importa se a gente tem uma turma de 76, e uma turma de 37 alunos, o que importa é que a soma total para eles resultem 240 alunos, que seria o previsto para acordado para quatro turmas”. Segundo a chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social e Científica (Secom-UFMS), Rose Pinheiro o curso tem capacidade para 240 estudantes e, atualmente, atende um total de 223 alunos.

 

 

O curso de Medicina do câmpus de Três Lagoas (CPTL) foi criado em 16 de abril de 2013, pelo Conselho Universitário (Coun) da UFMS, por meio da Resolução nº 28/2013-Coun, com 60 vagas de ingresso no segundo semestre de cada ano e duração de seis anos, e em 2015, em acordo entre a UFMS e o Ministério da Educação (Mec) um adicional de 20 vagas, o que totaliza 80 vagas anuais. Rocha explica que a infraestrutura municipal é insuficiente para a quantidade de alunos e desfavorece a interação do aluno com usuários e profissionais de saúde. “Quando a gente eleva esse número para a casa de 70 e 80 acaba tornando todo o processo de práticas inviáveis, tanto nos laboratórios da universidade, quanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nas Estratégia Saúde da Família (ESFs)”.

De acordo com o presidente do Camdpo, o Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, de Três Lagoas, compromete a qualidade das atividades de ensino, devido à estrutura física e recursos humanos insuficientes. A parceria com o hospital e com a Comunidade Educa foi firmada em 2018 pela UFMS e objetiva proporcionar um espaço de estágio para os estudantes. Segundo Rose Pinheiro, além destes espaços, o curso possui prédio próprio, inaugurado em outubro de 2016, que oferece salas de aula, laboratórios, uma nova biblioteca, anfiteatro e herbário.

Ações estudantis

A UFMS iniciou, no dia 19 de novembro, o processo de movimentação interna para 2019. As inscrições são para os acadêmicos que desejam mudar de curso na UFMS e o ingresso será no primeiro semestre letivo do próximo ano. As vagas são destinadas para os alunos que desejam migrar para um curso de mesmo nome oferecido em unidades ou turnos diferentes, para outro desde que os cursos sejam da mesma área de conhecimento ou para os que desejam mudar de modalidade, bacharelado ou licenciatura.

De acordo com o presidente do Camdpo, é necessária uma revisão dos critérios de mobilidade que priorize a equivalência de disciplinas e o ingresso em turmas que possuam déficit na quantidade de alunos no semestre letivo correspondente. Segundo Rocha, a turma que ingressará em 2019 terá problemas com o contingente de, aproximadamente, 81 alunos, devido a movimentações e reprovações. No Edital Prograd nº 286, foram destinadas para mobilidade interna 10 vagas no curso de Medicina do Campus de Três Lagoas. Segundo Rose Pinheiro, se houver turmas com número maior de alunos por motivos como retenção e trancamento, é da competência do coordenador do curso a abertura e distribuição de turmas.

Manifestação dos acadêmicos de Medicina de Três Lagoas no dia 20 de novembro (Foto: Julia Renó)

Rocha ressalta que a diretoria e a coordenação de campus têm poder limitado na atual gestão da reitoria. O presidente do Camdpo afirma que é necessário que os próprios estudantes mobilizem esforços com objetivo de resolver o problema. Os membros do Camdpo estiveram em Campo Grande no dia 20 de novembro para reunião do Conselho de Graduação (Cograd) e realizaram Assembléia Geral no dia 26 de novembro.

O Camdpo também tem apoio do Centro Acadêmico de Medicina (Camed) do câmpus Cidade Universitária, em Campo Grande. A coordenadora de Relações Externas do Camed, Amanda Rezende explica que a ação objetiva aprimorar os processos de mobilidade da instituição. “Não é contra a ocupação das vagas ociosas, mas a gente quer que essas vagas sejam ocupadas realmente pelas turmas que tem essas vagas. É importante elaborar critérios que possam solucionar essa questão”.

A greve dos acadêmicos do curso de Medicina em Três Lagoas se estendeu por uma semana, em razão do aproveitamento do semestre. O movimento solidário estabeleceu ações como doação de sangue e aferição da pressão arterial. Amanda Rezende explica que ações solidárias representam o movimento grevista e que o principal objetivo é atender à população. “A superlotação vai prejudicar a própria população que vai precisar desse atendimento médico posteriormente, por que infelizmente não vai ter formação digna e de qualidade com esse tanto de gente ocupando uma ou duas turmas”.

O acordo feito com a instituição melhora o campo de prática dos alunos. Segundo Rocha, os acadêmicos poderão realizar estágio em Paranaíba e Nova Andradina. Além disso, estarão disponíveis para as atividades uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o Centro de Especialidades Médicas e o Hospital Cassems. O movimento também colaborou para que fosse liberada uma verba para construção de um ambulatório no câmpus 1, previsto para junho de 2019.

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