O Conselho Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em debate sobre os aspectos do programa de educação Future-se, decidiu se manter sem posição pró ou contrária ao projeto. O Conselho se reuniu no último dia sete de novembro no auditório da Secretaria Especial de Educação a Distância e Formação de Professores (Sedfor) para discutir o relatório do grupo de trabalho constituido para avaliar os pontos do Future-se. Os conselheiros, professores, técnicos e estudantes da UFMS participaram da reunião que apresentou alterações feitas no texto-base do projeto apresentado pelo Ministério da Educação (MEC).

A reunião ocorreria inicialmente no dia 27 de setembro e foi adiada pelo reitor da Universidade, Marcelo Turine. A decisão desagradou o corpo técnico e docente da UFMS e resultou em paralisação nos dias 2 e 3 de outubro como protesto. Alguns estudantes também se manifestaram por meio da ocupação do Bloco 6 da Universidade para exigir um posicionamento do reitor. O projeto Future-se é uma proposta do ministro da Educação, Abraham Weintraub que afeta diretamente a administração e os recursos financeiros das universidades públicas. Algumas instituições se posicionaram contra e a UFMS ainda sem posicionamento em relação ao projeto.
A pró-reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças (Proplan) da UFMS, Dulce Maria Tristão leu algumas alterações feitas no projeto durante a reunião e ressalta que o programa dá autonomia a Universidade e acesso gratuito para os alunos ingressarem nos cursos. “O texto atual não cita aplicação de penalidade para quem sai do programa, ele prevê que a participação seja de até quatro anos [...] o fim do concurso público não está neste texto”.
A professora da Faculdade de Computação (Facom) da UFMS e membro do Conselho Universitário, Liana Duenha esteve na reunião e salienta que é melhor esperar a versão final do projeto para posteriormente formar um posicionamento, e que optar por fazer assembleia no momento prejudicaria a Universidade. “Assim que tivermos uma proposta clara, já discutida no Congresso, partiríamos para discussões mais objetivas dentro das universidades”. A professora ressalta que as alterações feitas preenchem algumas lacunas deixadas na primeira versão do projeto. “Só dessa primeira versão para a segunda versão já houve tantas alterações que eu acho que a gente ficar discutindo sobre algo que ainda não está fechado é muito desgastante para a universidade”.
O professor do curso de Artes Visuais da UFMS e membro do Coun, Paulo Duarte Paes explica que o fundamento do Future-se continua com problemas após as alterações realizadas no texto-base. "A essência continua sendo um projeto mercantil, a pesquisa para eles [Governo] não é a pesquisa de base, eles só enxergam a pesquisa atrelada ao interesse de ter alguma empresa que pague”. Paes explica que os cursos nas áreas de Ciências Humanas serão mais afetados pelo projeto, por deixarem de se adequar às demandas dos cursos de Licenciatura. “Não considera a pesquisa na área de humanas, então nós das ciências humanas e das licenciaturas não acreditamos que esse projeto serve para nós”.
Segundo Paes, é possível identificar as falhas do projeto, e proporcionar debate nas universidades é importante. Paes relata que o uso de indicadores de qualidade que atendam ao financiamento externo das universidades é uma das falhas do Future-se. “É uma falha seríssima, esses indicadores ainda não foram feitos, vão ser baixados pelo MEC e sozinhos vão ser traçados”. O professor ressalta que adiar os debates sobre o projeto tornará a situação difícil para os alunos e para a educação. “Depois que a lei estiver feita vai ser muito mais difícil, nós temos que debater agora, eles já tem uma força que é o lobby, é grana no sistema financeiro”.