EDUCAÇÃO

Falta de corpos para estudos afeta cursos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Departamento de Anatomia Humana lançou programa de doação de corpos para solucionar a escassez de cadáveres utilizados em laboratórios

Ana Beatriz Rigueti, João Lucas e Marco Antônio15/09/2019 - 19h15
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A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) implantou o programa de Doação de Corpos por meio do setor de Anatomia Humana do Instituto de Biociências (Inbio). A utilização de corpos auxilia nas aulas, estudos e projetos de pesquisa de cursos como Medicina, Ciências Biológicas, Fisioterapia, Psicologia e Educação Física. O programa, lançado no dia 28 de agosto, foi implementado porque a Universidade está sem reposição de cadáveres há quase uma década.

O diretor do Inbio, Albert Schiaveto ressalta que a utilização de cadáveres é comum em outras universidades e é a forma mais indicada para estudar a fisiologia humana. "Tem duas maneiras de você dar aula de anatomia humana. Quando você trabalha com peças sintéticas e quando trabalha com peças naturais. Quanto mais você conseguir trabalhar com peças naturais, melhor. A textura do tecido, o próprio tecido mesmo. Só que isso exige corpos, exige um cuidado maior de manutenção porque você precisa de formol, tanque de formol por exemplo".

Schiaveto explica que a falta de corpos e de estrutura para estudar e dissecar tecidos do corpo humano prejudica o funcionamento dos laboratórios. "Esse tecido tem uma vida útil. Com a manipulação, com a lavagem, ele vai se desgastando e se destruindo. Estamos há muito tempo sem a reposição desses cadáveres. Quantas vezes a gente ia dar uma olhada no corpo que estava lá, só que a hora que o técnico via, realmente não tinha condições. Temos muito problema de preservação, entre o falecimento e a liberação do corpo".

Schiaveto afirma que a solução encontrada para o problema da falta de corpos foi a implementação do programa de doação da UFMS após um período de estudos com assessoria de outras universidades. "Temos o termo legal sanado, temos o convênio com a funerária e a câmara fria nova, com várias gavetas para colocar os corpos até a gente colocar no formol. A gente tinha que vencer a barreira burocrática, tinha que vencer o transporte, já tem o convênio, tinha que ter o programa institucional. Já está aprovado e agora com a câmara é só começar a trabalhar".

A responsável pelo setor de Anatomia Humana do Inbio e coordenadora do programa de Doação de Corpos, Jussara Peixoto declara que o projeto é planejado há mais de 10 anos e só conseguiu ser implantado este ano por questões burocráticas e administrativas. "A Instituição tinha muita dificuldade de entender que esse não é um programa que se assemelha a um projeto de ensino, de extensão, de pesquisa. Ele contribui para que tudo isso possa ser feito, mas ele não é um projeto com nenhuma dessas características, ele é um programa institucional. Só com essa última gestão que houve uma articulação para que a gente pudesse resolver em equipe essas dificuldades".

De acordo com Jussara Peixoto, o programa foi lançado com um ano de atraso pela demora da Corregedoria-Geral e da Associação dos Notários e Registradores de Mato Grosso do Sul (Anoreg-MS) em autorizarem uma prescrição legal. "Do ano passado pra cá a dificuldade foi a questão do provimento, que só saiu no final do ano, depois a gente entrou em reforma no começo do ano e de lá pra cá a gente não pode implementar. Só agora em agosto quando acabaram as obras a gente marcou para esse período porque a gente já tem condições de receber a doação efetivamente. Desde que lançou o programa no dia 28 nós já tivemos três doadores".

O pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte e responsável pela administração do projeto, Marcelo Fernandes afirma que o acordo firmado com funerárias para serviço de transporte é importante para o novo programa de doação de corpos. "Administrativamente é difícil, você não pode 'por um corpo' aí, você tem que fazer um documento, que a gente chama de acordo de cooperação, que não envolve dinheiro e é uma parceiria entre instituições. Envolve os cartorários, porque você tem que registrar o corpo. Sobre a funerária Pax Mundial, eles ganham apenas o marketing porque é uma parceiria sem custos para a Universidade".

De acordo com Schiaveto, a campanha para doação de corpos pretende conscientizar a população sobre a importância do uso dos cadáveres em prol de estudos e pesquisas. "É muito importante que as pessoas saibam que existe essa pauta, de doação de corpos, e que é muito importante pro desenvolvimento da ciência. Então basicamente a gente se conscientizar que isso existe e, tendo permissão em vida, e deixar os familiares conscientes de que alguém possa ter interesse e que isso é importante para a ciência". 

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