EDUCAÇÃO

Exame Nacional do Ensino Médio tem 25,1% de abstenção no Estado

Grupo de 17 mulheres da comunidade quilombola Furnas do Dionísio, localizada no município de Jaraguari, a 45 km de Campo Grande, se deslocaram para a capital para realizar o Exame

JOSÉ CÂMARA, MARIANA MOREIRA E RAFAELA MOREIRA 3/11/2019 - 21h20
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O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou que 70.396 pessoas realizaram a inscrição para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no estado. Mais de 17 mil inscritos se ausentaram no primeiro dia de avaliação em Mato Grosso do Sul. O índice de abstenções no estado representa 25% no número de inscritos, porcentagem superior a média nacional que é de 23% .

As provas de Linguagens e Ciências Humanas, com 90 questões e a redação, que teve como tema “democratização do acesso ao cinema no Brasil” foram aplicadas no dia três de novembro. A segunda fase do Exame acontece no próximo domingo, 10 de novembro e serão realizadas as provas de Matemática e Ciências da Natureza. O exame, criado em 1998, é uma das principais formas de ingresso às universidades públicas e privadas do país. O Enem têm como objetivos avaliar o desempenho dos estudantes e viabilizar o acesso ao ensino superior. 

A professora da disciplina Língua  Portuguesa, Fabiana Nascimento diz que o tema da redação do Enem foi uma surpresa. Segundo ela, vários professores esperavam que a temática fosse sobre meio ambiente. “Esse tema foi uma grande surpresa, apesar de ser um tema bem fácil de dissertar, eu cheguei a abordar esse assunto com meus alunos. Espero que os candidatos tenham se preparado o suficiente também, essa prova representa um passo importante para o futuro”. 

A professora do Cursinho UFMS, oferecido pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Mariana Santana diz que manter a tranquilidade durante a prova é essencial. “O que eu recomendo agora, é que durante a próxima semana os alunos revisarem o que for possível e descansarem na véspera do exame, nós professores tentamos passar essa tranquilidade para eles durante a preparação para a prova no decorrer do ano, o importante agora é relaxar". A professora ressalta que os conteúdos do Exame neste ano foram abordados durante as aulas, e reforçados nas disciplinas de Português e Matemática. Para Mariana Santana, os cursos mais procurados pelos alunos do Cursinho são Engenharia Civil, Ambiental e Elétrica, e Medicina. 

Alunos da Escola Estadual Waldemir Barros da Silva (EEWBS), localizada no bairro Moreninha I, participaram do Exame realizado na sede da Faculdade Anhanguera próximo ao terminal rodoviário de Campo Grande. O grupo de 12 alunos, entre 16 e 18 anos chegou ao local da prova às 9h40,  uma hora e vinte minutos antes da abertura dos portões da Faculdade. A estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Gabrielly da Silva fazia parte do grupo e afirmou que é a primeira vez que participa da prova, a estudante pretende fazer a graduação no curso de Artes Cênicas. “Eu estou muito nervosa. Minha família me aconselhou a manter a calma. Eu guardei a ansiedade e agora preciso focar na prova”. 

Entre os alunos da Escola Estadual Waldemir Barros da Silva, estavam os estudantes Elias Vilalva e Maria Eduarda Mendes, ambos cursam o terceiro ano do Ensino Médio. Vilalva destaca que o Enem é a prova que definirá seu futuro. “Eu já pensei em fazer vários cursos. Jornalismo foi uma das opções, mas hoje eu quero fazer Fisioterapia. Essa prova pode definir meu futuro". 

A estudante Maria Eduarda Mendes quer ser médica, ela disse que sua rotina de estudos foi intensa, ela estudou de segunda à sábado. “Como eu quero fazer medicina, eu tive que me esforçar bastante. Medicina é um dos cursos mais concorridos. Minha rotina foi intensa, estudava todos os dias de manhã até à noite e aos sábados fazia cursinho pela manhã". 

O estudante João Carlos Souza participou  do exame pela segunda vez. Ele afirma que a prova é muito extensa e cansativa, por isso se preparou durante todo ano em curso pré-vestibular, em período integral e simulados aos finais de semana. “Essa fase de vestibulares e Enem é muito cansativa, a rotina é puxada, mas me esforcei durante todo ano. Espero que tenha bons resultados”. 

Mulheres representam a maioria no Exame

As mulheres representam 59,5% dos inscritos no Exame, segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicadas na Internet. Um grupo de 17 mulheres, com idades entre 16 e 51 anos, da comunidade quilombola Furnas do Dionísio, localizada no município de Jaraguari, a 45 km de Campo Grande, se deslocaram para a capital para realizar o Exame. As estudantes foram incentivadas a realizarem a prova pelos professores do curso de Educação no Campo da UFMS.  

Grupo de mulheres da comunidade Furnas de Dionísio viaja até Campo Grande para o ENEM - Foto: Vera Rodrigues

Participar do Exame Nacional do Ensino Médio é um pré requisito para as estudantes iniciarem o curso de Educação no Campo. O coordenador da Escola Estadual Joaquim Murtinho, Izadir Francisco de Oliveira explica que buscou alternativas para ajudar as alunas a terem um bom desempenho na prova. “Na minha percepção haviam ali pessoas que estavam cinco, dez anos sem pisar em uma sala de aula, era uma realidade difícil para essas alunas voltarem a estudar e prestar o exame”.

Oliveira ofereceu a comunidade a possibilidade de montar um curso preparatório aos sábados de manhã na comunidade. “No Joaquim Murtinho nós já tínhamos um projeto de cursinho voluntário para os nossos alunos, nós só ampliamos esse projeto já existente para atender a comunidade de Furnas”. O curso ocorreu durante o ano todo, sem qualquer apoio financeiro ou suporte externo, os próprios professores voluntários arcaram com as despesas de deslocamento para a comunidade e com os materiais utilizados nas aulas. 

O coordenador garante que a parceria com a comunidade vai continuar no ano que vem, e que o objetivo é capacitar as estudantes para que elas possam auxiliar na educação formal da população de Furnas. “Tudo começou com a possibilidade do curso de Educação no Campo, mas pelo o que eu tenho visto, muitas já pensam na licenciatura e em outras áreas para ajudar a comunidade”.

A ajudante de cozinha Declair Santana da Silva participou das aulas do curso organizado para moradoras da comunidade Furnas de Dionísio. Ela explica que o curso preparatório a preparou para realizar o Exame. “O cursinho foi muito importante. Eu tinha muita dificuldade com a redação, aí o cursinho ajudou a gente a desenvolver essa redação. Hoje eu me senti bem a vontade para fazer a prova, foi bem legal”.

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