EDUCAÇÃO

Escola estadual em Campo Grande atenderá 140 alunos em período integral com novo modelo de ensino

O novo modelo de ensino dispensa avaliação por nota e dá maior autonomia ao estudante

Cassia Modena19/02/2016 - 12h15
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A Escola Waldemir Barros da Silva, no bairro Moreninhas I, em Campo Grande, é uma das duas instituições da rede estadual que atenderá parte dos estudantes em período integral a partir deste ano com um modelo de ensino diferenciado. Nesse formato o aluno possui autonomia de escolha em relação às áreas do conhecimento nas quais deseja se aprofundar, sem avaliação de aprendizagem por nota. Foram abertas 140 vagas para essa modalidade na escola, que ainda está em reforma para atender a demanda.

De acordo com a diretora, Ernangela Calixto, na estrutura curricular dos novos alunos há aula, pesquisa, orientação e atividades físicas e lúdicas. Cada estudante poderá formular e reformular o próprio cronograma a cada seis meses. "Os resultados e possíveis ajustes do novo modelo de ensino serão discutidos em reuniões entre professores, Secretaria de Estado de Educação e diretores, que devem acontecer com frequência".

Segundo Calixto, o desafio é oferecer educação integral nos últimos anos escolares, algo que não é comum na rede de ensino pública. "Acreditamos que teremos êxito, apesar de a educação integral no país ser voltada para o ensino fundamental e ser concorridíssima. Temos o entendimento que o adolescente que está no ensino médio também precisa de ensino integral".


Fachada da escola receberá nova pintura antes do início das aulas - Foto: Cassia Modena

As aulas começam na próxima semana, no dia 29. Os alunos iniciam as atividades às 7h00 e terminam às 16h00, de segunda a sexta-feira.

Passar nove horas na escola impossibilitará que o estudante ingresse no mercado de trabalho como menor-aprendiz, como é o caso de diversos adolescentes que estudam em horário regular na mesma escola do bairro Moreninhas. Por causa disso, a escola decidiu oferecer aos alunos de uma das salas de aula o ensino integral aliado à educação profissional. Conforme explica a diretora, "será mais voltada para a tecnologia e mercado de trabalho. O aluno também poderá escolher a própria grade, de acordo com suas preferências".

Ensino integral diferenciado

O sistema de ensino integral da escola Waldemir Barros da Silva é diferente do adotado pelas outras sete instituições estaduais de período integral, cujos currículos seguem diretrizes comuns. Ele será trabalhado pelos dirigentes da instituição de maneira contínua e com a participação dos alunos.

O mesmo modelo foi implantado também na Escola Estadual Manoel Bonifácio Nunes da Cunha, localizada no bairro Jardim Tarumã, em Campo Grande. Os alunos matriculados no período integram cursarão o 8º e 9º ano do ensino fundamental e os três anos do ensino médio.

A professora e coordenadora de ensino integral da Secretaria de Estado de Educação, Maria Sakate, afirma que o novo modelo é um experimento. E explica que, inicialmente, "será implantado em escolas que ofereciam ensino regular. O Governo do Estado investiu recursos financeiros para a adequação física dos prédios e para a formação contínua de 76 professores da rede".

O consultor da Secretaria de Estado de Educação, professor doutor Pedro Demo afirma que a equipe da Secretaria, junto aos dirigentes das escolas, irá "recriar, reconstruir, pesquisar e transformar o currículo em problemas interessantes para os alunos pesquisarem e produzirem".


Haverá outras salas de estudo além da biblioteca - Foto: Cassia Modena


Novos kits para laboratório serão utilizados - Foto: Cassia Modena

Segundo Demo, os alunos irão "aprender como autores" e serão avaliados pelo que  produzirem, essas são duas das principais bases da proposta. "Toda boa aprendizagem é uma autoaprendizagem. O estudante é avaliado todos os dias, não pararemos para avaliar com provas. Criaremos diagnósticos ao decorrer da produção do aluno, que participará mais ativamente do processo de aprendizagem como pesquisador e autor". 

Mais tempo na escola

A estudante Vitória de Oliveira, de 16 anos, mora a uma quadra da escola. Ela desconhece que a escola oferece vagas em ensino em tempo integral e diz que pretende conversar com a avó para pedir que a matricule no próximo ano, assim terá mais chances de ingressar na universidade por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "É bom porque é como um curso, a gente aprende mais coisas. Estou preocupada com o Enem já, mas também penso em trabalhar como aprendiz no tempo livre porque quando você tem muita liberdade, não tem muita responsabilidade".

A jovem está matriculada no 9º ano de outra escola estadual do bairro Moreninhas II, a Arlindo Sampaio Jorge. Ela reprovou dois anos letivos, teve problemas familiares e até começou a trabalhar informalmente em um salão de beleza enquanto não estudava.

A moradora do bairro, Jussara Santos tem um filho que ainda estuda o primeiro ano do ensino fundamental e ressalta a importância da escola integral. "Tenho casa própria aqui, não pretendo me mudar desse bairro. Tomara que todas as escolas daqui tenham opção de estudar o dia todo. É melhor porque as crianças estudam ao invés de entrar nos caminhos errados".

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