EDUCAÇÃO

Estudantes e professores da Capital vão às ruas protestar a favor da revogação do Novo Ensino Médio

Os alunos relataram prejuízos no aprendizado após a implementação da nova estrutura curricular, que ocorreu em 2022 e aumentou o tempo mínimo de permanência dos discentes nas escolas em disciplinas como Projeto de Vida

Clara Farias, Maria Eduarda Schindler e Rafaella Moura22/03/2023 - 14h54
Compartilhe:

Estudantes e professores das redes públicas de ensino se reuniram para protestar pela revogação do Novo Ensino Médio. A mobilização, de caráter nacional, aconteceu no dia 15 de março em Campo Grande, a concentração foi na Praça do Rádio Clube e percorreu a avenida Afonso Pena até a Praça Ary Coelho. O Ato em Campo Grande foi organizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e por integrantes dos Centros Acadêmicos Organizados (CAO) e teve o apoio da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS).

A atual política do Ensino Médio, Lei 13.415/2017, foi aprovada em 2017 e entrou em vigor em 2022 a partir da regulamentação das novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O novo modelo regulamenta o tempo mínimo anual do ensino regular 200 horas a mais que o previsto antes da mudança, de 800 horas passa a ser cobrado 1000 horas, enquanto no ensino integral, o tempo mínimo passou para 4.500 horas anuais. A modificação tem como objetivo padronizar as aulas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e de Itinerários Formativos. A distribuição curricular do Novo Ensino Médio é de responsabilidade das secretarias estaduais de Educação, que podem reduzir ou até extinguir, em alguns casos, a carga horária de disciplinas como Literatura e Sociologia.

Estudantes produziram cartazes durante a concentração do AtoEstudantes produziram cartazes durante a concentração do Ato - (Foto: Clara Farias)

O professor de Literatura da Rede Estadual de Ensino e atual coordenador do Fórum Estadual de Educação, Onivan de Lima relata que as disciplinas do itinerário formativo, como o empreendedorismo e projeto de vida, prejudicam professores e alunos. "Os professores estão perdidos, o que ministrar como empreendedorismo para um aluno de ensino médio? Com esse modelo, os alunos de escola pública não possuem nem chance de chegar ao Ensino Superior”. Segundo Lima, a redução da carga horária das disciplinas consideradas como núcleo comum implicam na construção do senso crítico do aluno.

O acadêmico do curso de Direito da Unigran, Pedro Thiago Falcão destaca que grande parte dos universitários presentes no Ato estão matriculados em cursos da área de Licenciatura e se consideram prejudicados com a nova Lei. “Nós só estaremos em paz quando o novo Ensino Médio não estiver mais aqui, quando nós fizermos uma nova reforma pois o que está posto não atende e nunca atendeu os nossos sonhos”. Segundo Falcão, a defesa de um Ensino Médio "emancipador" foi outro motivo que levou os acadêmicos de Ensino Superior a participarem ativamente das movimentações contra o Novo Ensino Médio.

Primeira Notícia · Estudante de graduação Pedro Falcão relata que é preciso fazer uma nova reforma, mas com diálogo

O estudante do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Elvira Mathias de Oliveira, Antônio D'Ávila compartilha da insatisfação do novo modelo de ensino durante o período noturno. "Temos aulas das 18h20 às 23h30, sendo uma hora online, mas a escola não está preparada para isso pois nos dias de atividade remota não temos nada para fazer”. O aluno indica uma possível inviabilização do ensino no período noturno, uma vez que a Lei do Novo Ensino Médio prevê que as escolas se tornem integrais durante o dia. “Eu pretendo fazer um curso profissionalizante durante o dia, com o aumento da carga horária está acontecendo muita evasão no noturno, como vou estudar se fechar?”.

Antônio D'Ávila foi ao ato para reivindicar a revogação do Novo Ensino MédioAntônio D'Ávila foi ao ato para reivindicar a revogação do Novo Ensino Médio - (Foto: Rafaella Moura)

O estudante de Ensino Médio e membro do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Padre José Scampini, Paulo Phelipe Brandão relata que a adaptação com o novo modelo de ensino foi desagradável para os estudantes da sua instituição.“Na minha escola o novo ensino médio foi adaptado sem nenhum preparo, tanto de professores quanto da coordenação, ninguém sabia como funcionava os Itinerários Formativos, nós chegavamos a ir embora depois do recreio por não saber o que fazer”. De acordo com Brandão, os alunos foram surpreendidos com a implementação do Novo Ensino Médio e o despreparo dos professores.

Primeira Notícia · Estudante Paulo Phelipe ressalta as dificuldades de adaptação ao NEM e o aumento da evasão escolar

Para a docente da Faculdade de Educação (FAEd) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Maria Lima existe uma "problemática" no ingresso nas universidades públicas. "Chegamos perto de 80 universidades públicas durante os mandatos do presidente Lula, mas mesmo assim isso não conseguiu absorver a demanda de vagas que existe para esse nível de ensino". Maria Lima relata que há interesses de privatização do ensino público com o novo modelo implementado.

As entidades que representam professores e alunos secundaristas aliados a acadêmicos de ensino superior se articulam em comitês estaduais para promover audiências públicas e futuras manifestações de rua. Os organizadores do ato em Mato Grosso do Sul solicitaram aos estudantes e manifestantes que utilizassem as redes sociais nos próximos dias no intuito de provocar o Ministério da Educação. A FETEMS e o Sindicato dos Profissionais da Educação Pública de Mato Grosso do Sul (ACP) indicaram a instalação do Comitê Estadual pela Revogação do Novo Ensino Médio, no dia 28 de março, e uma audiência pública na Câmara Municipal de Campo Grande, em abril.

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também