Estudantes que ingressaram no ensino superior em 2021 foram impactados pelo ensino remoto. Os alunos iniciaram a o ano letivo sem qualquer contato com a universidade, professores e colegas devido a pandemia e a suspensão das atividades presenciais. Os novos acadêmicos relatam uma interferência negativa na aprendizagem e na socialização por consequência do método remoto de ingresso.
A inserção do ensino remoto ocorreu em maio do ano passado por intermédio do Decreto nº 14.189, e instituições de ensino superior da capital optaram por continuar com o ensino via meios digitais neste ano. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) realizou todo o processo de ingresso dos novos estudantes, como a matrícula e recepção, de forma virtual. A Agência de Comunicação Social e Científica da UFMS publicou um Guia com orientações sobre as atividades da instituição para auxiliar os estudantes. A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) também recepcionou os alunos de forma virtual, por meio das Atividades Virtuais de Início de Semestre (Avis).
Para o estudante do curso de Direito da UCDB, Eluan Akamine as relações com os professores e colegas de turma é conturbada devido ao ensino remoto. Ele relata que se sente desconfortável ao estudar pelo computador em frente à câmera. “A única recepção que tivemos foi uma conversa com os veteranos pelo Google Meet e Whatsapp. A maioria dos colegas deixam as câmeras fechadas durante a aula, se eu conheço dez pessoas do curso é muito.”
De acordo com a doutora e professora do curso de Psicologia da UFMS, Thaize Reis até o sentimento de pertença a universidade fica prejudicado para estes alunos que ingressaram de forma remota. “A entrada na universidade já representa uma ruptura no modo de ensino que os alunos estavam acostumados no ensino médio pela universidade exigir uma maior autonomia desse estudante. Isso já gera uma dificuldade inicial de adaptação e o ensino remoto é outro complicador desta fase.”
Segundo a estudante do curso de História da UFMS, Rebeca Ribeiro o contato com a universidade ficou restrita a produções ou trabalhos das disciplinas, sem qualquer vínculo com a instituição após a semana de recepção dos novos estudantes. Rebeca Ribeiro relata que deixou de ter contato com os alunos de outros semestres, e a conversa com seus colegas é apenas para fazer trabalhos avaliativos. “A gente tem que ficar com a câmera desligada, porque senão a internet cai, e isso faz com que a troca com o professor não aconteça. Só a câmera do professor fica ligada.”
A estudante do curso de Jornalismo da UFMS, Bianca Campos destaca que foi difícil conciliar as novidades do ensino universitário com as aulas remotas. Ela relata que estava cansada dos meios virtuais de interação com os colegas e professores por estar há um ano utilizando estas ferramentas diariamente. “A troca com os professores acontece de uma maneira rasa. No início eles foram mais abertos a escutar a gente porque estávamos chegando e estávamos animados. Com o passar dos meses tudo ficou automático e as interações diminuíram."
Para o professor dos cursos de Geografia e Jornalismo da UFMS, Marcelino de Andrade que ministra aula para os estudantes do primeiro semestre do curso de Jornalismo, a aula online é mais impessoal e que dos 52 alunos matriculados, apenas quatro abrem as câmeras. “Eu não tenho contato visual com 95% dos meus alunos do curso de jornalismo, mesmo mediado pela tecnologia. Apesar das possibilidades desse meio, é muito ruim porque a interação é quase inexistente.”