AUTISMO

Lei que beneficia autistas entra em vigor no mês de outubro

Legislação inclui pessoas autistas à lista de prioridade em filas preferenciais

Beatriz Camargo, Isabelly Melo e Natália Oliveira18/09/2017 - 11h14
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A inclusão de autistas à lista de pessoas com prioridade em estabelecimentos comerciais, permitidos a usar as filas preferenciais foi aprovada em lei publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 11 de setembro. A Lei nº 5.054, que entra em vigor no dia 11 de outubro, obriga as empresas a fixarem o símbolo representativo da causa autista junto às imagens de gestantes, idosos e outros. A legislação, proposta pelo deputado estadual Paulo Siufi (PMDB/MS), é uma alteração da nº 3.530, de 24 de junho de 2008 e o descumprimento poderá acarretar em advertência escrita e, em caso de reincidência, multa de 50 Unidades Fiscais Estaduais de Referência de Mato Grosso do Sul (Uferms).

Símbolo obrigatório nos estabalecimentos (Fonte:SouES)

Associação de Pais e Amigos do Autista de Campo Grande - MS (AMA) realiza o diagnóstico e o acompanhamento de crianças, adolescentes e adultos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Campo Grande desde 1988. A Associação recebe doações para manter a sede, inaugurada em abril de 2016, em parcerias com o Estado, Município e com os pais dos alunos. O atendimento é realizado por psicólogos, pedagogos, educadores, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e um musicista, atualmente, atende 105 pessoas de 3 a 39 anos.

 A AMA desenvolveu uma carteira de identificação para que os portadores de TEA comprovem o autismo. O documento com o nome e foto do autista será emitida pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS). 

A vice-presidente da AMA, Mara Rubia Gamon, 53, afirma que a AMA realiza o acompanhamento e a avaliação gratuitamente e para conseguir uma vaga, é necessária uma análise de um grupo de profissionais. Três especialistas fazem essa avaliação - uma fonoaudióloga, uma psicóloga e uma pedagoga. Mara Gamon explica que esse "tripé" faz com que o diagnóstico seja preciso e rápido. 

Mara Gamon, que é mãe de uma menina autista, esclarece que os portadores do TEA possuem transtornos no desenvolvimento do cérebro, diferentemente de uma doença "o tratamento é terapêutico e não medicamentoso. A criança que nasce autista, morre autista". A instituição também utiliza a música na terapia. De acordo com a vice-presidente, cada indivíduo tem suas particularidades, e uma delas é o aprendizado com sons.

A pedagoga Maria Bonifácio Quinhonez, 49, é uma das profissionais encaminhadas pelo Estado. Ela é responsável pelo atendimento educacional especializado criado em 2016 pela Instituição, que abrange crianças de 5 a 12 anos, desde o espectro leve ao severo. Maria Bonifácio faz uma avaliação que revela as objeções e estabelece vínculo com o aluno antes dele ser atendido. “O autista apresenta essa dificuldade de ter vínculo com o outro, porque se você falar sobre algo que ele não tem interesse, ele vira a costas e vai embora”. O tratamento termina quando o aluno resolve todas as dúvidas ou se a família opta por desvinculá-lo.


O processo do acompanhamento é feito com o portador do TEA e a família. A assistente social Divina Marcia Oruê acompanha a família do aluno desde a avaliação. Ela trabalha na Ama há 10 meses e diz que o serviço social é o primeiro contato com a instituição, ao realizar as triagens sociais após a avaliação da fonoaudióloga, psicóloga e pedagoga. Divina Oruê atende 35 alunos.

A assistente social considera importante divulgar os estudos sobre o assunto com frequência e relata que o cenário no início de sua carreira e a dificuldade em obter material didático acessível mudaram. “Hoje as redes sociais facilitam bastante. Antes, as pesquisas eram mínimas na área, hoje não, a literatura está ampla, tem uma bibliografia vasta. Hoje, não lê quem não quer”.

A assistente convive com os alunos da instituição, além das conversas com a família. A área social é responsável pela solicitação à isenção do vale transporte, à retirada de documentos e, quando necessário, o direcionamento à defensoria.

As visitas domiciliares feitas antes do primeiro atendimento na instituição têm o objetivo de verificar as condições da estrutura domiciliar e o comportamento da família. Segundo a assistente, essa conversa com os pais ressalta a importância de apoiar o avanço do filho.

Daniela Maria Ribeiro, 41, relata que seu filho Carlos Roberto Rocha, 6, está na Ama há três anos. Foram quatro meses para que o menino conseguisse ingressar na instituição, devido ao processo de avaliação. O menino foi diagnosticado com grau leve do transtorno, cientificamente chamado de Asperger.

Daniela Ribeiro aguarda o filho no atendimento
(Foto:Natália Oliveira)

Daniela Ribeiro relata que o filho é "extremamento metódico" e que crises acontecem com mudanças nos hábitos diários. “Ele sempre cheira a comida antes. Esses dias eu comprei uma chipa em outra padaria, porque estávamos atrasados, daí ele cheirou e não quis comer”. De acordo com ela, o apoio familiar nesses momentos é "essencial".  

Carlos Roberto Rocha é aluno da rede municipal e estuda com o apoio de professora auxiliar para adaptar o conteúdo das aulas. O menino também recebe acompanhamento terapêutico, pedagócio e psicológico da Ama;entre as atividades propostas, ele aprende a escrever o próprio nome, a desenvolver a leitura e melhorar a fala.  

De acordo com a mãe, o aluno também utiliza medicamento controlado três vezes ao dia; pago e sem distribuição pelo Sistema Público de Saúde.

 

 

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