EDUCAÇÃO

Paralisação contra programa Future-se reúne comunidade da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Alunos e profissionais da UFMS mobilizaram atividades nos dias 2 e 3 de outubro para protestar contra programa do Governo que cria uma dependência de recursos privados pela instituição

Guilherme Correia e Izabela Piazza 3/10/2019 - 19h08
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Professores, técnicos e estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) organizaram paralisação das atividades letivas durante os dias 2 e 3 de outubro, em protesto contra o programa Future-se. O ato teve várias atividades na UFMS com objetivo de discutir o projeto apresentado pelo Governo Federal, e mostrar o posicionamento dos servidores e estudantes, como Rodas de conversa, aulas públicas, júri simulado e manifestações foram realizadas para a comunidade acadêmica e público externo.

A paralisação teve participação da Associação de Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Adufms), do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Institutos Federais de Ensino de Mato Grosso do Sul (Sista-MS) e do movimento estudantil Eu Defendo a UFMS.

O Future-se é alvo de críticas pela falta de esclarecimento sobre como funcionaria a gestão (Foto: Izabela Piazza)

O Future-se é uma proposta do atual ministro da Educação, Abraham Weintraub e objetiva oferecer autonomia administrativa e financeira às universidades públicas por meio de financiamento de Organizações Sociais (OS), que criam uma dependência de recursos privados pela instituição. O reitor da UFMS, Marcelo Turine adiou votação, decidida pelo Conselho Universitário da UFMS (Coun), que estabelece adesão ao programa pela Universidade, de 27 de setembro para 31 de outubro.

No primeiro dia de manifestação foi realizado um júri simulado aberto à toda comunidade com a participação de professores e alunos do curso de Direito da UFMS. O objetivo da atividade foi debater o programa Future-se por meio de julgamento em que o projeto era representado por um réu, realizada no Complexo Multiuso da UFMS.

O professor do curso de Direito da UFMS, Rogério Mayer participou como defensor no júri e explica que por meio dessa atividade foi possível esclarecer o projeto que impacta diretamente as universidades públicas. “Foi um ganho de discernimento, o tribunal do júri é uma estratégia fictícia onde trazemos informações as pessoas, quanto mais informações tivermos a respeito disso teremos também mais inclusão social”.

O estudante do curso de Direito da UFMS, Pedro Dias Marques esteve no júri e relata que a experiência foi positiva e proporcionou um ambiente de discussão aberto aos estudantes, servidores e à população em geral. “Eu senti que quem tinha dúvida pôde perguntar, quem era a favor ou contra pôde falar também, e foi tudo bem tranquilo, gerou esclarecimento e discussão”. Marques participou da organização da atividade e sugere que os estudantes devem se informar sobre o projeto. “Uma coisa até que o professor [Rogério Mayer] falou é verdade, a comunidade universitária, e eu me incluo nisso, precisa parar, ler e pensar o que está escrito para ter uma ideia melhor do projeto”.

A estudante do curso de Pedagogia da UFMS, Agnes Viana representou a juíza durante a simulação do julgamento. Agnes Viana explica que é importante estabelecer diversas formas de diálogo com os estudantes e servidores da educação para gerar senso crítico sobre o projeto. "O Future-se não atinge apenas nós estudantes do movimento estudantil, ou os professores que se engajam no sindicato e técnicos também, mas sim diz respeito a forma como a universidade vai funcionar”.

A segunda atividade do dia 2 foi a roda de conversa, com o tema “Educação em tempos de crise”, realizada na Concha Acústica da UFMS. A professora, doutora em Educação a UFMS, Maria Dilneia destacou que é  importante os movimentos, sindicalistas, e manifestações estudantis para garantir uma instituição de ensino de qualidade e acessível. A roda de conversa teve participação de estudantes, professores e técnicos. O objetivo foi relatar as atividades do movimento estudantil na UFMS. Maria Dilneia ressaltou que reivindicações de movimentos sociais auxiliaram na promoção de ensino gratuito e acessível.

O ato “Grito em defesa da Universidade pública” ocorreu no segundo dia com participação do movimento estudantil e sindicatos. A concentração começou em frente a Biblioteca Central às 8h. Estudantes, líderes do movimento sindical e professores tiveram um momento para discutir o impacto do projeto Future-se para a UFMS e a importância dos movimentos para protestar a favor da educação. Os manifestantes realizaram uma passeata em locais da Universidade com grande movimentação de pessoas, para chamar a atenção de outros estudantes, professores e técnicos.

O professor do curso de Artes Visuais da UFMS, Paulo Duarte Paes esteve no ato e explica que a manifestação é a favor da educação e contrária às ações que dificultam o avanço das universidades. “Há um interesse de setores conservadores de que o conhecimento não chegue até o povo e a universidade é hoje com certeza o maior instrumento público de fazer com que o povo tenha acesso a ciência”. Paes ressalta que a universidade tornou-se mais acessível à comunidade e as ações do projeto Future-se representam um retrocesso à esses direitos garantidos.

A estudante do curso de Ciências Sociais da UFMS, Camila Ajara também esteve na manifestação e explica que o ato tem objetivo de marcar o posicionamento em relação ao projeto e pressionar o Conselho Estudantil para recusar o Future-se. "A gente sabe que tem outros projetos de alternativa tramitando no congresso, são projetos que não punem tanto a educação pública e visam melhorar as contas da universidade". Ela esteve presente no momento em que o reitor saiu da Faculdade de Medicina e Zootecnia (FAMEZ) e menciona que existe uma falha de comunicação no esclarecimento do projeto e nas atitudes do reitor. “Depois de uma caminhada de quase uma hora tentando falar com o reitor, para que ele escutasse os estudantes e prestasse atenção, ele saiu fugido, 'rampou' um quebra-mola para não dialogar com os estudantes”.

O professor do curso de Ciências da Computação e presidente da Adufms, Marco Aurelio Stefanes relata que os dias de paralisação mostraram o posicionamento referente ao projeto e aos cortes de verbas na educação. O professor ressalta que o reitor discordou em estabelecer diálogos com a comunidade acadêmica. “Ele simplesmente evadiu do local, nós entendemos que é importante o diálogo para a universidade, não é se fechando em gabinete que vamos resolver os problemas, e o Future-se é um grande problema”. Stefanes elogiou a participação dos estudantes, que fortalece o movimento e contribui para melhorias na educação.

A última atividade foi uma aula pública com o tema “A quem interessa o desmonte da educação pública?”, que aconteceu no Complexo Multiuso com a participação da professora do curso de Pedagogia, Maria Lima. Segundo ela, a produção de conhecimento nas universidades tem retorno à sociedade, e cumpre uma função social. "Ao participar dessa atividade eu estou colocando todo o conhecimento investido da própria sociedade a serviço de quem gostaria de ter acesso a esse conhecimento”. Ela relatou que governos anteriores ao de Bolsonaro foram danosos à educação e que o atual pode direcionar mais ataques à educação pública. "O ataque a educação é antigo e agora chegou em uma situação agravante que necessita de estudo por parte dos próprios movimentos para que eles não enfraqueçam as próprias lutas".

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