EDUCAÇÃO INFANTIL

Campo Grande tem 35% das crianças de zero a três anos matriculadas em creche

A escassez de vagas na Rede Municipal de Ensino provoca diminuição nas matriculas registradas e prejudica a socialização e o desenvolvimento de habilidades emocionais da criança na faixa etária de zero a três anos

Felipe Machado, Fernanda Sá, Geovanna Bortolli e Maria Gabriela Arcanjo25/08/2024 - 21h23
Compartilhe:

Campo Grande tem baixa taxa de adesão de matrículas de crianças de zero a três anos nas creches na capital. A escassez de vagas na Rede Municipal de Ensino é um dos motivos para a queda nas matriculas registradas. O baixo número de matrículas provoca prejuízos no desenvolvimento escolar, e também nas relações com outras crianças da mesma faixa etária.

Dados do Educação Já Municípios, realizado pela ONG Todos Pela Educação, mostram que 35% das crianças entre zero e três anos estão matriculados em creches em Campo Grande. A procura por vagas em creches é três vezes maior em relação à faixa etária de quatro a cinco anos. A média de alfabetização adequada, de acordo com o Ministério na Educação nas capitais brasileiras, é de 46%, número que está abaixo da média nacional de 55%.

Principais dados revelados na pesquisaPrincipais dados da pesquisa "Educação Já Municípios" - Crédito: Fernanda Sá

Segundo a psicóloga infantil Roberta Rohden, crianças que têm baixa frequência nas creches podem apresentar dificuldades na adaptação ao ambiente escolar, "o que torna o processo de transição para educação infantil ainda mais desafiador". Roberta Rohden afirma que as creches possuem um "papel fundamental" para o desenvolvimento do comportamento e na garantia de autonomia para as crianças matriculadas. "Em uma creche, as crianças aprendem a seguir regras, horários e a realizar tarefas adequadas à sua idade, o que contribui para a formação de hábitos saudáveis e para a construção da autoconfiança". A psicóloga diz que a baixa frequência na creche dificulta a transição para educação infantil e "provoca o apareciento de problemas como ansiedade, falta de socialização, e no seguimento das regras do ambiente escolar".

Roberta Rohden afirma que os responsáveis devem proporcionar aos filhos a existência de um ambiente familiar de interações sociais, cognitivas e emocionais a partir da aplicação de técnicas utilizadas para compensar a ausência do acesso à Educação Básica. "Estabelecer uma rotina diária com horários regulares para refeições, brincadeiras, sonecas e outras atividades ajudam a criança a se sentir segura e organizada". A psicóloga destaca que a convivência com outras crianças ajuda na socialização e no desenvolvimento de habilidades emocionais, e a participação ativa dos pais em "atividades e brincadeiras é algo fundamental, fortalecer o vínculo entre responsáveis e filhos e promover um ambiente de aprendizagem contínuo". 

O secretário de Educação de Campo Grande, Lucas Henrique Bitencourt explica que a Secretaria Municipal de Educação (Semed) busca ampliar o sistema de ensino infantil para diminuir o déficit de oito mil crianças que aguardam na lista de espera. Bitencourt explica que o principal motivo pela procura dos familiares pelas creches é pela ausência de uma rede de apoio que auxilie nos cuidados com as crianças. Bitencourt destaca que a Semed busca expandir os números de vagas e creches na capital como iniciativa para reduzir o número de famílias que aguardam por vagas nas escolas. 

PRIMEIRA NOTÍCIA · Secretário De Educação De Campo Grande - Lucas Henrique Bittencourt

A diretora do Colégio de Educação Infantil Tic Tac, Daniela Penrabel explica que o ambiente da creche impacta positivamente no desenvolvimento de habilidades comunicativas das crianças. Daniela Penrabel afirma que as habilidades motoras e cognitivas são desenvolvidas no ambiente escolar por meio de atividades interativas, como rodas de conversas, histórias contadas e brincadeiras. Segundo a diretora, essas práticas "trabalham o meio social, já que exercitam a convivência, com as divisões, frustrações e com outros colegas que tenham valores diferentes dos seus, o que contribui também para o desenvolvimento social e emocional logo na primeira infância".

Daniela Penrabel afirma que a falta de confiança dos pais na segurança oferecida pelas creches é um dos motivos que impede a inserção das crianças no ambiente escolar. A manicure Vera Lucia Ferreira é avó de uma criança de um ano e 10 meses e esteve presente no processo de matrícula da neta em uma creche. O trabalho de Vera Ferreira  impossibilitava o atendimento à neta."Quando a vaga saiu, ficamos com mais receio ainda de mandar ela para creche, já que quando vimos onde ela foi matriculada, descobrimos que anos atrás havia sido registrado uma ocorrência em que uma criança perdeu um dedinho". 

Vera Lucia Ferreira afirma que a família encontrou dificuldades para garantir uma vaga para matricular sua neta em uma creche pública."Tivemos dificuldades em conseguir uma vaga pra ela e mesmo quando conseguimos, a creche era bem distante da minha casa". Vera Lucia Ferreira afirma que a neta permaneceu pouco tempo matriculada na instituição de ensino em decorrência de dificuldades de adaptação no ambiente escolar. "De início ia tudo bem, ela adorava ir à creche. Entretanto, ela começou a voltar chorando pra casa e a creche reclamou que ela não estava se adaptando e então decidimos tirar". A família optou pela contratação de uma babá para que a neta de Vera Lucia Ferreira "recebesse os devidos cuidados de maneira segura".

Criança indicada na imagem está entre as 35% que frequentam a crecheCriança na faixa etária de três anos que constitui os 35% que frequentam a creche - Foto: Geovanna Bortolli

A terapeuta ocupacional e psicopedagoga Marilene Petrarcha afirma que a ausência da criança na convivência diária com seu familiares apresenta consequências no processo de trocas emocionais e sensoriais, nas experiências vivenciadas entre pais e filhos, além da imposição de regras e limites. "Os pais, na minha opinião, que não puderem levar à creche ou optarem por fazer assim, devem investir na qualidade do tempo com as crianças. Fazer uma rotina diária com parquinho, brincadeiras e jogos próprios da faixa etária. Evitar o uso prolongado de telas para as crianças se distraírem".

Marilene Petrarcha afirma que as atividades produzidas pelas creches nos dias atuais "podem ser prejudiciais para o futuro da criança", uma vez que priorizam tarefas mais complexas ao invés de promover brincadeiras simples, como bonecas, carros de brinquedo e pinturas. "Hoje observamos que a cada ano, menos as crianças brincam nas creches e escolas de educação infantil. A ausência do brincar se fará presente na criatividade, no pensamento imaginativo e consequentemente na aquisição dos próprios conteúdos pedagógicos. Brincar é a tarefa mais importante para as crianças de até pelo menos 5 anos. E brincar não é ver vídeo, jogar no computador ou celular, é pegar materiais e transformar em carros, casas, enfim, o que o imaginário sugerir".

A mãe e jornalista Alicia Miyashiro destaca que é importante matricular sua filha em uma creche para que a jornalista possa cumprir com a sua jornada de trabalho, sem a necessidade de deixar a sua filha sob os cuidados de outros familiares. Alicia Miyashiro afirma que a matrícula de sua filha em uma creche representa uma "alternativa para minimizar as dificuldades enfrentadas para cumprir com a dupla jornada de trabalho. Alicia Miyashiro afima que "a maternidade é sinônimo de cansaço", uma vez que seu "tempo livre é dedicado integralmente aos cuidados com a sua filha".

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também