ASSÉDIO NA EDUCAÇÃO

Programa do Governo do Estado disponibiliza 348 cirurgias plásticas para jovens vítimas de bullying

Programa "MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila" visa combater a evasão escolar decorrente de humilhações e agressões nas unidades de ensino que registraram 142 casos de bullying no ano de 2022

Idaicy Solano, Felipe Dias e Rafael Pereira 20/06/2023 - 19h15
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O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio do do programa “MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila”, realizará cirurgias plásticas reparadoras de mama e orelha para pré-adolescentes e jovens em idade escolar. O objetivo é diminuir a evasão escolar decorrente de episódios de agressões e humilhações ocorridos em salas de aula. O programa disponibilizará 348 vagas de “Cirurgias Preventivas de Bullying” aos alunos da Rede Estadual de Ensino (REE).

O governo, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Secretaria do Estado de Educação (SED), investiu R$ 45 milhões de recursos próprios e R$ 7,9 milhões de recursos federais em consultas, exames e cirurgias à população de Mato Grosso do Sul. O programa vai encaminhar 30 pessoas em lista de espera para correção de estrabismo. O estado registrou 142 casos de bullying nas escolas, no ano de 2022.

A psicóloga da Secretaria de Atenção a Saúde do Estudante da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Danielle Silveira da Cunha argumenta que o programa adotado pelo governo não está previsto nos procedimentos de combate ao bullying. Segundo a profissional, é necessário estimular o respeito e acolhimento às pessoas, independente da aparência física. “Existem algumas práticas para prevenir o bullying, como já acontece, e as cirurgias plásticas não estão nesse rol de procedimentos. De um modo geral, a Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda cirurgias plásticas para crianças". 

A profissional explica que o bullying prejudica o desenvolvimento social na fase da infância e adolescência, em que a socialização é necessária para a aprendizagem dos alunos. A prática desencadeia doenças psicólogicas, como depressão, ansiedade e suicídio. “Para que o bullying não aconteça precisa ter uma cultura de paz onde a gente ensine para as pessoas que elas precisam respeitar o direito das outras, que elas precisam de um ambiente de convívio saudável, independente da aparência do outro”. 

O Assistente de Relacionamento Maxsuell Almada, 25 anos, cursou o ensino médio na rede pública entre os anos de 2014 e 2016 na Escola Estadual José Barbosa Rodrigues e relata que recebia insultos dos colegas de sala de aula e era constamente repreendido pelos professores. "Acreditavam que eu não estava prestando atenção nas aulas. Quando eu estava falando com alguém, a pessoa pedia para prestar atenção, sendo que estava olhando para ela. Me chamavam de quatro olhos, de olho de garrafa”.

Almada relata que as agressões verbais dificultavam na aceitação da própria aparência. “Por conta dessa violência sofrida, eu tinha muita vergonha do meu olho. Eu achava o olho de todo mundo normal e o meu não. E eu queria ser igual a todo mundo, e isso me magoava muito”. 

Primeira Notícia · Maxsuell Almada relata o bullying que sofria durante época da escola

De acordo com a superintendente de Políticas Educacionais da SED, Adriana Buytendorp foram registrados 31 casos de bullying nas unidades escolares da Rede Estadual de Ensino, no ano de 2023. A superintende explica que as unidades são orientadas a desenvolver projetos interdisciplinares por componentes curriculares ou áreas de conhecimentos que abordem o bullying como medida de prevenção e conscientização dentro das escolas. “O propósito é desenvolver junto à comunidade educativa, principalmente aos estudantes, a problematização do fenômeno da violência na sociedade e sua implicação na vida social, nos arranjos coletivos e, consequentemente, no espaço escolar”. 

A Secretaria de Educação desenvolve o Programa de Serviço Especializado de Apoio ao Processo Educativo e suas Interfaces (Seap/SED) nas unidades escolares da Rede Estadual de Ensino, constituído por profissionais de psicologia escolar e serviço social. A equipe multidisciplinar tem profissionais da educação para atender ao programa. De acordo com a superintendente, a Seap presta apoio à equipe pedagógica no atendimento às demandas relacionadas à aprendizagem dos estudantes, sem abranger o atendimento clínico, assistencialista ou encaminhamento à rede de proteção e garantia de direitos. 

A SED mantém parceria com instituições de ensino superior, que acolhem as demandas de alunos que precisam de atendimento especializado. Há convênios estabelecidos com a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Anhanguera/Uniderp e na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Conforme explica a superintendente de Políticas Educacionais da SED, Adriana Buytendorp “os convênios são para possível atendimento dos estudantes que venham necessitar de atendimento nos aspectos emocionais e de saúde mental, em decorrência da violência sofrida”. 

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