EDUCAÇÃO

Reorganização na Rede Estadual de Ensino exclui Literatura da estrutura curricular

A resolução surpreendeu alunos e educadores de escolas públicas e privadas

Gabriela de Castro, Juliana Cristina e Pedro Baasch14/02/2017 - 16h38
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A disciplina de Literatura foi excluída da estrutura curricular na Rede Estadual de Ensino pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul (Sed/MS). A resolução foi publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 31 de janeiro deste ano, e adotada para o ano letivo de 2017. A disciplina será integrada ao ensino de Língua Portuguesa. 

De acordo com a coordenadora de Políticas para Educação Básica da Sed/MS, Fabiana Cáceres Borges  foram feitas pesquisas em outros estados e somente Mato Grosso do Sul e Amapá possuíam Literatura como componente separado. Para Fabiana Borges, esta mudança significa um avanço.

O gestor do Núcleo de Ensino Médio da Sed/MS, Joseley Ortiz explica que foi feita uma análise sobre os critérios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e foi encaminhada ementa com recomendações para que os professores das instituições saibam como abordar a Literatura na disciplina de Língua Portuguesa. “Nós tivemos aqui no estado momentos em que essa discussão chegou até as escolas, teve um momento em que toda a instituição parou os professores, para que eles conhecessem a proposta da base, e essa proposta ela já trazia Literatura dentro de Língua Portuguesa”.

Segundo Ortiz foi disponibilizado no portal do Ministério da Educação (Mec) uma plataforma para sugestões sobre a proposta da BNCC. “No comitê criado para fazer a análise para trabalhar com a discussão da base, nós tínhamos diversas universidades participando, então foi algo discutido em âmbito nacional”.

Lescano explica o impacto da integração (Foto: Pedro Baasch)   

O professor de Literatura, Edgar Silveira Lescano explica que o aluno da rede privada possui duas aulas de Português, duas de Redação ou Produção Textual preparatória para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e duas aulas de Literatura. Na rede pública, o aluno possui quatro aulas de Língua Portuguesa. “Acredito que colocar a disciplina de Literatura, diminuindo uma aula de Língua Portuguesa não é interessante. Seria diminuir, compactar. E a Língua Portuguesa assim como a Literatura não se pode compactar. Os alunos têm que ter contato. Tem que adquirir o conhecimento”.

Para Lescano, a reforma da estrutura curricular é necessária. “Na verdade, deveria aumentar o número de aulas de Língua Portuguesa e de Literatura, até porque o nosso conteúdo é muito extenso”.

A professora de Literatura, Ivana Bakargi afirma que é contra a integração da disciplina com a de Língua Portuguesa. “São matérias distintas, requerem professores especializados e acredito que os professores de Literatura serão prejudicados, mesmo que a Secretaria de Educação diga que irão remaneja-los para a disciplina de Português, afinal, o remanejamento será parcial e terá redução de carga horária”.

Ivana Bakargi ressalta que a Literatura é compreendida como algo de pouca ou nenhuma importância. “Não há por que 'gastar tempo com ela!', ouve-se por aí. Ocorre também o fato de que, embora seja a instituição escolar um dos contextos onde a Literatura mais deva estar, é onde em primeiro plano buscam rebaixar a matéria”.

O integrante da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), Henrique Medeiros acredita que há um problema na retirada da disciplina de Literatura do ensino estadual. "A Literatura é internacional, mas capaz de retratar o universo regional. Outro grande absurdo é a redução de carga horária ministrada em sala de aula, criando abismos ainda maiores entre o ensino público e o privado. Esta é uma grande decisão nacional que o MEC quer implantar, mas que o estado de Mato Grosso do Sul já se antecipou".

A técnica Pedagógica de Linguagem da Sed/MS, Ana Cláudia Gautu explica que a Língua Portuguesa é dividida em quatro eixos, Prática de Leitura, Oralidade, Análise Linguística e a Produção de Texto. “Essa proposta é ideal para que o professor volte a trabalhar esses quatro eixos para que o aluno não fique pensando na linguagem, na própria leitura como algo separado. Não tem como separar, quando você pega para trabalhar um texto literário você vai trabalhar linguagem, variação linguística, elementos da narrativa, então não tem como dissociar da Língua Portuguesa”.

Ana Gautu afirma que essa integração facilita o trabalho com a Língua Portuguesa e a Literatura, porque não restringe o conhecimento. “O professor se agarra no histórico e esquece que muitas vezes o texto literário tem muito mais a oferecer, como meu conhecimento, meu contraponto com a realidade, é o que torna o texto literário mais interessante. O professor não precisa se limitar, ele pode abrir esse campo, pode trabalhar Literatura internacional, Literatura mais atual contrapondo com uma clássica, a ideia que nós queremos, é que o aluno seja um leitor”.

De acordo com Fabiana Borges, a proposta da Sed/MS é incentivar a autoria, pesquisa, construir a aprendizagem com o estudante, e o professor de Língua Portuguesa precisa ser criativo para aproximar a Literatura das suas propostas.

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