A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) suspendeu o curso de Letras-Licenciatura com Habilitação em Português e Literatura no campus de Três Lagoas, para cada dez vagas ofertadas pelo curso ao ano, se formam menos de dois estudantes. De acordo com a Resolução nº 85, 18,6 alunos se evadem por ano e a ocupação média é de 67,4%, o que torna o curso insustentável. O principal motivo para a suspensão é o ingresso e a permanência de alunos e o gasto com a manutenção do curso.
O documento considerou o plano de ação do curso e o relatório de avaliação da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças (Proplan) do período de 2013 à 2017. A resolução aprovada pelo Conselho Universitário menciona que a taxa média de diplomação é resultado da desocupação, da evasão e da retenção.
Segundo o documento, o corpo docente e a estrutura física são projetados para atender trinta e cinco estudantes por turma e período. De acordo com a Resolução, a manutenção do curso é injustificável porque atende um número reduzido de estudantes. As disciplinas do último período possuem, em média, 0,6 estudante matriculado.
Para a acadêmica Beatriz Garcia os números refletem a insuficiência da universidade no apoio aos estudantes. “Acredito que há uma deficiência na assistência estudantil, nós do curso de Letras e de Pedagogia podemos falar com mais propriedade. Nós ficamos isolados no campus I desde a abertura do curso de Letras, enquanto o campus II já oferecia o RU e o auxílio alimentação. Nós ficamos anos sem receber esse suporte, porque nosso campus não tinha estrutura para receber um RU, na percepção da administração, nós não precisávamos de bolsa alimentação também”.
A estudante comenta que a Secretaria de Assistência Estudantil (Secae) tem estrutura insuficiente para atender todos os alunos. “Tem poucos funcionários para um campus tão grande, eles acabam trazendo funcionários de outros campus para auxiliar na época de renovação de bolsas, pois eles não conseguem atender a demanda”.
A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) tem três divisões de atendimento ao estudante, Divisão de Acolhimento e Vivência Estudantil, Divisão de Assistência ao Estudante e Divisão de Integração Estudantil. Os principais auxílios para permanência dos estudantes são auxílio emergencial, auxílio permanência, auxílio alimentação, auxílio creche e auxílio moradia, entre outros, como a bolsa do Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes). Em 2018, a UFMS tem orçamento de 14,9 milhões destinados ao Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).
Segundo o coordenador de Integração e Assistência Estudantil da Proaes, Leandro Sauer a universidade está mais democrática, e permite que pessoas com vulnerabilidade social tenham acesso. “Nós temos, mais ou menos, 1.350 benefícios que a gente paga todo mês. Na lista de espera, nós temos 3500 beneficiados. Então quer dizer, nós teríamos dentro da classificação com renda per capita menor do que um salário mínimo e meio quase 5.000 acadêmicos, dos quais nós estamos atendendo 1.500”.
De acordo com a coordenadora da Secretaria de Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Secom/UFMS), Rose Mara Pinheiro este ano mais de 300 alunos do Câmpus de Três Lagoas recebem algum tipo de benefício da Instituição. Desse total, cerca de 10% são recebidos por estudantes do curso de Letras - Licenciatura, com Habilitação em Português e Literatura.
A seleção dos auxílios destinados aos estudantes é realizada por meio de edital. A acadêmica Beatriz Garcia comenta que falta direcionamento no processo de seleção e políticas mais próximas dos acadêmicos. “Todos os documentos para receber a assistência deveriam ser entregues no campus II, sendo que os dois campus são muito distantes um do outro. Quem vinha pra estudar no campus I e não tinha nenhum tipo de transporte, acabava perdendo os prazos, que são curtos, de entregar a documentação das bolsas e voltando para sua cidade de origem.”
Em outubro de 2017 foram aprovadas mudanças nas formas de ingresso nos cursos de graduação da universidade com objetivo de diminuir as desistências. Em 2018, a UFMS disponibilizou 30% de suas vagas para o vestibular e 70% para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O Programa de Avaliação Seriada (Passe) é outra modalidade, que será concluída em 2020 e irá abranger 20% das vagas. O ingresso ainda pode ocorrer por meio movimentação interna, transferência externa, entre outros meios.
O ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFMS (DCE-UFMS), Ari Ferra Junior se manifestou contra a suspensão do curso e segundo o antigo gestor é dever do estudante lutar contra esse tipo de ação. “Quando a gente suspende um curso, é sempre muito traumático e muito negativo para o estudante, para a cidade e para a universidade, que tem esse papel de propagar o ensino e a formação de melhores cidadãos”.
Para a estudante Beatriz Garcia, a suspensão do curso de Letras é um retrocesso. ”Eles deveriam ser os grandes incentivadores da educação do nosso país, e, ao invés disso, estão retirando um curso com especialização em Literatura, que traz muitas pesquisas para a Universidade e que tem um corpo docente formado só por doutores, o que muitos cursos não possuem”.
De acordo com a estudante, a cobrança da universidade pelo ingresso e permanência de alunos no curso é injustificável. Segundo Beatriz Garcia, a universidade indispõe de meios necessários para que isso ocorra. “Nós não recebemos esse tipo de incentivo, principalmente quando estávamos no campus I, nós não recebíamos nenhum tipo de informação da administração, direção... Se não fosse pelos nossos docentes e pela coordenação do curso, muitos alunos que ainda estão matriculados não estariam mais aqui”.
Rose Pinheiro esclarece que a suspensão não prejudicará a população local de ingressar na UFMS. "Os alunos poderão buscar cursos correlatos que são oferecidos nos câmpus. Em Três Lagoas, por exemplo, é oferecido o curso de Letras com outras habilitações". Além disso, a assessora informa que a instituição oferece uma série de benefícios e incentivos aos acadêmicos para que permaneçam nos cursos, entre eles, restaurante universitário com preço subsidiado, com almoço e jantar e apoio a eventos.