Estudantes e profissionais da educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) mobilizaram-se, entre os dias 25 e 27 de setembro, contra o projeto de educação Future-se, proposto pelo Governo Federal. O programa apresentado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub objetiva oferecer autonomia financeira às instituições de ensino federais por meio de parcerias público-privadas. A proposta educacional foi discutida pelos reitores das universidades públicas durante reunião com a Comissão de Educação, Cultura e Esporte no Senado Federal e provocou protestos na comunidade acadêmica.
O reitor da UFMS, Marcelo Turine esteve na reunião e explicou que o investimento na educação necessita de uma ação imediata e responsável. “Faço um destaque estratégico. É importante pensar no futuro, em ações a curto, médio e longo prazo, em relação à educação superior, mas temos responsabilidade com o hoje. Avaliamos que há necessidade de um plano de ação emergencial com o Ministério da Educação (MEC)”. Turine prorrogou a reunião para 31 de outubro, em resolução publicada no Boletim Oficial da UFMS. A votação para adesão ao projeto Future-se ocorreria na reunião do Conselho Universitário da UFMS (Coun) marcada para o dia 27 de setembro.
O reitor ainda defendeu a autonomia da UFMS na reunião da Comissão de Educação do Senado, em Brasília-DF. Turine destacou que “minha fala é sempre em defesa da autonomia universitária, com muito diálogo e com muito respeito, de modo que qualquer adesão ao programa ou a um contrato junto à universidade, que tenha potencial para restringir ou comprometer a autonomia, não receberá guarida nos seios da comunidade universitária”.
A coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Fundação UFMS e IFMS (Sista-MS), Cleodete Gomes explica que o sindicato é contrário ao Future-se. “O Sista já tem sua posição, nós somos contra, mas a base ainda precisa de mais esclarecimento sobre o projeto”. Ela ressalta que a discussão do projeto foi fomentada junto à Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituição de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra). “Já tivemos uma discussão em Brasília durante a plenária da Fasubra sobre o Future-se, e de lá saiu um ‘não’ para esse projeto. O Sista continua acompanhando a deliberação da nossa federação”.
Cleodete Gomes ressalta que a privatização da UFMS afeta os técnicos-administrativos. “O fato de privatizar, entregar para uma organização é inaceitável. O projeto é inconstitucional, privatizando acaba com a carreira do servidor público e com a universidade pública, além de afetar diretamente a nós servidores e a população em geral”. A coordenadora do Sista-MS afirma que os membros do sindicato protestarão contra o posicionamento da reitoria em relação ao projeto. “Estamos trabalhando para tentar convencer a reitoria pelo que a gente tem lutado aqui”.
O Sista-MS reuniu técnicos administrativos para discutir, em Assembleia, as medidas do Governo Bolsonaro nas universidades públicas. Aproximadamente 40 servidores participaram e, após votação, foi aprovada a paralisação nos dias 2 e 3 de outubro. “Também foi aceita a campanha com o slogan ‘Fora Bolsonaro’, um ato de protesto contra as medidas que afetam a educação”.

O técnico-administrativo da UFMS, Luis Gustavo Freitas aponta que há necessidade de uma greve unificada. “Ela precisa ser construída. Já deveria estar [construída] há no mínimo três meses, temos de correr atrás do prejuízo”. Ele critica a fragmentação dos atos que enfraquecem o movimento. “Esses movimentos 'picados' mais atrapalham do que ajudam. A pessoa vai em vários, é tudo bonito, mas não acontece nada de mudança. Têm quase um milhão de habitantes na cidade e não vão nem mil nestes movimentos”.
O ex-técnico-administrativo Adilson da Costa Oliveira, presente na Assembleia, afirma que a greve é importante para o trabalhador. “Eu aprendi que greve é o último recurso que o trabalhador tem para fazer valer alguma coisa que ele quer conversar com o empregador”. Ele contesta o posicionamento de alguns técnicos-administrativos durante as paralisações. “Nesses anos todos, os elementos que entraram na carreira de técnico-administrativo não tiveram a inteligência de olhar e serem conscientes de que eles são da classe trabalhadora. Eles são individualistas”.
O professor do curso de Ciências da Computação da UFMS e presidente da Associação dos Docentes da UFMS (Adufms), Marco Aurelio Stefanes ressalta que é necessário amplo debate sobre o projeto para a comunidade acadêmica. "Solicitamos para a reitoria um debate na universidade, uma assembleia universitária, para debater o Future-se, mas esse encaminhamento foi negado. A comunidade universitária não foi consultada sobre o projeto, apenas uma consulta pública a posteriori, que aliás foi muito direcionada".
Stefanes avalia que as universidades possuem o menor índice de corrupção entre instituições federais e serão prejudicadas pelo programa. "O Future-se abre brechas para corrupção, os organismos federais são quem tem menor índice [de corrupção] nas suas atividades. Esse projeto abre as portas para fazer acordos de quem vai poder ser diretor ou reitor, por exemplo. Essas escolhas passarão por critérios que a instituição privada vai fazer". A Adufms organiza para os dias 2 e 3 de outubro uma aula pública e um ato em defesa da universidade, a agenda completa terá a participação de técnicos-administrativos e estudantes da UFMS.