A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) oferece aulas de português gratuitas para migrantes e refugiados. O projeto é realizado pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa em Português para Estrangeiros (NEPPE/UEMS), responsável por ações voltadas aos imigrantes e refugiados de Campo Grande. As aulas são ministradas todas as quartas-feiras na Casa da Assistência Social e Cidadania. As salas de aula e os materiais didáticos são cedidos pela Secretária de Estado e Cidadania (Sedhast) e o local onde são ofertadas as aulas também oferece apoio com a documentação dos imigrantes e refugiados. O curso de português para estrangeiros objetiva o acolhimento e a inserção dessas pessoas na sociedade e no mercado de trabalho.
Os professores e auxiliares do curso são voluntários. O projeto é sem fins lucrativos e recebe auxílio do governo do Estado e dos cursos de Letras e de Turismo da UEMS. A ação é semestral e acontece desde abril de 2017. A quarta turma teve início em agosto deste ano e a previsão do término das aulas é para o mês de novembro.
O coordenador e professor do NEPPE, João Fabio Sanches Silva é o idealizador da ação social. De acordo com ele, o projeto surgiu após a observação de que os campo-grandenses precisam acolher social e culturalmente os migrantes e refugiados. “Eles necessitam aprender a língua portuguesa para agirem funcionalmente na nossa sociedade. É um público que conhece as línguas que advém do seu país de origem, mas que carece de conhecimentos em língua portuguesa para viver com qualidade aqui”.
Segundo João Fabio, 40 pessoas frequentaram as aulas entre 2017 e 2018. “Os alunos têm idade entre 18 e 50 anos. As nacionalidades entre eles são diversas. Haitianos, paquistaneses, tunecinos, guineenses, bolivianos, venezuelanos.”
O formato das aulas ofertadas pelo NEPPE é diferente das aulas de português ministradas em escolas comuns. João Fábio Silva afirma que as aulas voltadas aos migrantes e refugiados abordam várias características do idioma. "Trata-se de ensinar além da fala e grafia correta do idioma. Eles também aprendem sobre a linguagem informal. Eles precisam compreender frases coloquiais”.
A assistente social vinculada ao projeto, Antônia Raquel Zottos ressalta que as aulas são divididas em temáticas como saúde, política e música. "Quando o assunto é saúde, então são duas aulas falando sobre saúde e no contexto da saúde é inserido elementos da língua, como a gramática, adjetivos e verbos. Com essa metodologia a todo momento pode entrar aluno novo porque toda aula tem começo e fim nela mesma".
Antônia Raquel Zottos afirma que o aluno têm a possibilidade de frequentar o curso pelo tempo que for necessário para aprender a se comunicar de maneira satisfatória. "Por mais que as aulas sejam semestrais, eles podem se rematricular. Temos alunos há mais de um ano que comparecem à aula, pois o tempo que cada um precisa para aprender outra língua é relativo e individual". Ela comenta que ensinar comunicação para uma pessoa que foi alfabetizada em outro idioma é mais difícil que ensinar um indivíduo a se comunicar em seu próprio país. "Eles foram alfabetizados em outros costumes e cultura. Aqui ensinamos uma outra língua em um contexto diferente do que eles foram acostumados no seu país de origem. Por isso eles podem apresentar dificuldades no aprendizado". Antônia Raquel Zottos ressalta que o acesso ao idioma possibilita a cidadania.
O estudante do curso Julian Magno é formado em jornalismo e trabalhava como jornalista na República da Guiné. Atualmente está desempregado e afirma que deseja aprimorar o seu português para conseguir emprego em breve. O guineense mora no Brasil há cinco anos com sua esposa e filha. Ele relata que frequenta as aulas há cinco meses no NEPPE. “Essa aula é muito importante para mim, porque ao morar no Brasil, eu preciso me comunicar com os brasileiros. E também preciso aprender como a cultura funciona no Brasil. Porque a cultura daqui é diferente da cultura da República do Guiné". Julian Magno fala fluentemente inglês e francês. “Preciso falar português para arrumar emprego. Estou aprendendo o idioma para trabalhar".
A aluna do NEPPE, Florinda Padilha, dona de casa, é natural da Bolívia. Há cinco anos mora no Brasil. Ela frequenta as aulas de português desde o ano passado e comenta que quando chegou ao Brasil, evitava qualquer tipo de comunicação com os brasileiros por timidez. Florinda Padilha aprendeu a socializar mais e a comprrender melhor as pessoas ao seu redor após frequentar as aulas. “O projeto me deu esperança, uma oportunidade de voltar a estudar, de ir para a universidade. Porque quando eu saí do meu país o meu sonho era entrar na faculdade". Ela afirma que o projeto foi uma forma de ela encontrar forças recomeçar sua vida. “Para eu poder estudar eu preciso dissertar, preciso falar. Preciso aprender o idioma local para tudo. Até para ir ao mercado fazer compras". Florinda Padilha ressalta que o curso de português é importante para que ela consiga entrar no mercado de trabalho.
De acordo com João Fábio Silva, o objetivo é que mais pessoas se envolvam no projeto. “Queremos capacitar mais professores de português para atuarem neste contexto. Também estamos preparando um modo de avaliar o aprendizado comunicativo desse público, para que eles possam requerer a cidadania". O curso continuará em 2019 e é possível fazer inscrição pelo telefone da Casa de Assistência Social e Cidadania.
O projeto precisa de novos voluntários. Antônia Raquel Zottos afirma que qualquer pessoa maior de idade pode ser voluntára. "Se a pessoa já dá aula, é ótimo. Mas não é pré requisito." O NEPPE oferece treinamento para os interessados em colaborar com a ação.
Serviço
Casa da Assistência Social e Cidadania
Telefone: (67) 3321-3228
Rua Marechal Rondon, 713, Bairro Amambaí.