Deficientes auditivos e visuais têm dificuldades para se manterem informados pela mídia. O consultor em organizações não-governamentais (ONGs), João Marcos Tavares, deficiente visual, exemplifica que a televisão possui barreiras, com informações inacessíveis para o deficiente visual. A professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Elaine Aparecida, deficiente auditiva, recorre a internet para melhor compreender as notícias.
O professor da UFMS e jornalista Marcelo Câncio percebeu o interesse dos deficientes auditivos nos telejornais e a pouca compreensão que tinham das notícias. Destacou que produziu uma reportagem que focou nesse público com a utilização da linguagem de sinais para facilitar a compreensão dos deficientes auditivos.
A Lei de Inclusão de Pessoas com Deficiência (13.146/2015) no artigo 67 estabelece que os meios de comunicação devem utilizar recursos como a audiodescrição, intérprete e legenda para que a informação alcance a todos de forma unânime.
A importância de produzir informação para pessoas com deficiência visual motivou o trabalho realizado pela jornalista e aluna de mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Daiana Carpes que apresentou pesquisa sobre o jornal laboratório audiodescritivo Revista Unicom no 13º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR), que aconteceu na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), entre os dias 4 a 6 de novembro.
Carpes explica que seu interesse em trabalhar com audiodescrição surgiu de uma necessidade. "Um acadêmico da Unisc havia ficado cego e não tinha domínio com a leitura em braile, então fiz as audiodescrições de todas as imagens e textos do jornal impresso e entreguei a ele em um CD”. Segundo a pesquisadora, o tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi motivado pela produção da audiodescrição do jornal laboratório, o que resultou na página www.jornalismoemaudiodescricao.com.br, finalista do concurso de acessibilidade na internet - Todos@Web, em 2014.
De acordo com Daiana Carpes, a informação é ferramenta para o desenvolvimento da opinião do indivíduo e deve ser acessível. “Uma comunicação sem barreiras seja ela em braile, audiodescrita, libras ou até mesmo em sites acessíveis, promove a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade”. Segundo a pesquisadora, a audiodescrição exige dedicação de tempo, o que dificulta esse tipo de acessibilidade em jornais diários, com a facilidade de transpor o conteúdo para internet, o jornalista pode realizar o trabalho de audiodescrição. Carpes sugere mudanças, “para as matérias de telejornalismo é necessário manter uma distância razoável do microfone, para que os surdos possam fazer a leitura labial do repórter”.
O consultor e fundador da Federação Inclui Brasil (FIB-MS), João Marcos Tavares, que é deficiente visual e trabalha com a inclusão de deficientes, afirma acompanhar sempre que possível programas informativos e humorísticos pela TV e rádio, além de escanear jornais impressos em um software de leitura para cegos, como por exemplo o NVDA.
Ele aponta dificuldades no acesso à informação, que nem sempre é passada de forma adequada ao deficiente visual. “É muito frequente ouvir algumas coisas como ‘Muito bem, você pode entrar em contato conosco neste momento, o telefone está na tela’. Para nós, deficientes visuais, morreu ali a comunicação. O que se deveria falar? ‘Está na tela, mas eu vou falar para você o número, anote aí’. Isso aí vai onerar alguma coisa? Não, mas acontece que as pessoas não estão preocupadas em passar a informação completa para todos”.
Tavares trabalha com projetos de inclusão social
O consultor sugere que o profissional deva ser preparado desde a universidade com disciplinas que trabalhem a inclusão social e a busca de informações sobre esse público. “É preciso saber quem é o Tavares e qual é o nível dele, identificar o público, depois conhecer tudo sobre o público, sobre braile, sobre impressão braile, tecnologia, o que é ser cego, o que é a bengala, o que é esse mundo do cego, para você começar a pensar na produção de alguma coisa, é importante mapear a necessidade de cada indivíduo por nível escolar, por cultura”. Tavares afirma que os profissionais de comunicação, muitas vezes, tomam uma postura preconceituosa em relação às pessoas deficientes e sugere que os jornalistas devem melhorar a forma como denominam os deficientes. "Muitos fazem afirmações preconceituosas como, por exemplo, ‘Tavares, deficiente há 20 anos, convive com a sua triste deficiência visual’, eu já vivo com isso e tem que ser triste? Não precisa enfatizar a parte trágica, a parte negativa”.
A professora de Letras/Libras da UFMS, Elaine Aparecida, deficiente auditiva, explica que consegue compreender o contexto das novelas e programas pelas expressões corporais, mas que acompanhar as legendas e as cenas é algo complicado. Segundo Aparecida, com a internet as informações jornalísticas ficam mais acessíveis. "Quando eu me interesso por algum tema, procuro no Google, por exemplo, os ataques terroristas que aconteceram na França, eu li os sites e soube que foi em um bar. Então, o texto e a tv no closed caption me ajudam, mas o melhor mesmo é o interprete que está dentro do meu conforto linguístico". A professora afirma que com algumas modificações na produção da comunicação, as dificuldades dos deficientes auditivos em receber a informação podem ser superadas.