Victório afirma que o marco regulatório foi planejado para que a próxima geração de jornalistas tenham melhores condições de trabalho. “Nossa esperança é essa, embora tenha todo um contexto atual das mídias sociais que estão restringindo um trabalho nosso, porque há uma insatisfação geral na sociedade, tanto na questão política quanto econômica, e quem acaba sofrendo com isso é o bom jornalista”.
O subsecretário explica que Mato Grosso do Sul será pioneiro na criação do marco regulatório da mídia. “Quando você propõe uma mudança dessa, no qual rompe com uma relação de muitos anos, vai ser uma ruptura muito traumática, no qual teremos que pagar o preço por isso. Nós estamos nos espelhando na presidência da república e vamos nos adaptar a nossa realidade. Já faz um ano que estamos conversando sobre o assunto, e para isso precisamos de aprovação da Assembleia”.
Paulo Yafusso explica que municípios precisam de jornalistas qualificados (Foto: Evelyn Mendonça)
O editor-chefe da Subcom, Paulo Yafusso explica que a mídia está concentrada nos grandes centros, e que os municípios menores carecem de profissionais qualificados. “Se você analisa os municípios de menor porte, eles ficam atrelados justamente à criação de sites e réplica de notícias que outros sites produziram. O bom jornalismo está restrito aos grandes centros”.
Yafusso ressalta que os conteúdos de muitos cibermeios jornalísticos são publicados pelos proprietários dos veículos, o que dificulta as vagas de emprego para profissionais formados na área. “Existem muitos sites que hoje quem monitora é o próprio dono, e com isso, não se gera mais empregos. Então, o site é abastecido por material das assessorias. Não tem um jornalista para trabalhar na apuração no qual analisa os dois lados, produzir uma matéria com uma avaliação mais crítica, ou até uma maior contextualização do assunto”.
De acordo com último censo realizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS), 65,6% dos jornalistas estavam desempregados em 2017 e menos de 30% eram sindicalizados. O presidente do Sindicato, Walter Gonçalves explica que o novo censo possui pontos mais aprofundados do que o anterior, e aborda questões de gênero e assédio para ter um perfil próximo da realidade da profissão no estado. O antigo censo contou com 308 participantes e foi realizado de 21 de maio a 31 de junho. O presidente diz que espera um número maior de respostas para a edição de 2019.
Semana Acadêmica de Jornalismo
A Semana Acadêmica de Jornalismo (Semajor) organizada pelo curso de Jornalismo da UFMS marcou a comemoração de 30 anos do curso na Universidade, fundado em novembro de 1989. O tema central foi “Desafios editoriais e novos modelos de negócios” para o jornalismo. A programação teve palestras que debateram a situação atual do mercado profissional e a relevância da produção do jornalismo local.
O jornalista e editor responsável pelo projeto Atlas de Notícias, Sérgio Spagnuolo foi palestrante do evento e participou do debate sobre jornalismo local e novos modelos de negócios. Ele afirma que as mudanças no jornalismo refletem em novos desafios para os antigos e novos profissionais. “Existe uma crise no modelo de negócio que está realocando o jeito que as redações empregam e também refletem nas condições de trabalho. Não quer dizer que está bom, ruim ou melhor, quer dizer que tem mudanças”.
Spagnuolo explica que o surgimento de novos empreendimentos no jornalismo pode se associar às mudanças ocorridas na organização do mercado jornalístico. “Se todo mundo que é jornalista abrir uma iniciativa jornalística, nós vamos ter 150 mil iniciativas jornalísticas. O empreendedorismo nessa questão é um pouco mais útil para percebermos essa mudança de paradigma no modelo de negócios do jornalismo”.
A jornalista e co-fundadora da Énois, agência de produção jornalística que desenvolve projetos sociais na periferia de São Paulo, como a Escola de Jornalismo para jovens dessas localidades, Nina Weingrill também participou da mesa redonda sobre jornalismo local e explica que a análise das redações de jornais devem ser pensadas em contextos. “O interessante é entender que nos grandes jornais, não mais tão grandes, há uma grande perda do número de correspondentes. O conceito de ‘deserto de notícias’ [regiões com ausência ou baixa presença de veículos de jornalismo] é muito interessante, porque precisamos pensar em como esses veículos estão cobrindo esses espaços que basicamente foram deixados à mercê do nada. É preciso haver um trabalho complementar entre os pequenos e grandes veículos”.
Nina Weingrill ressalta que espera uma distribuição melhor dos profissionais e proximidade com o público para o futuro do jornalismo. “Eu gostaria para o futuro do jornalismo que todas as pessoas conhecessem um jornalista pessoalmente. Que todo cidadão pudesse ter a oportunidade de ter o telefone de um jornalista, de poder se comunicar com ele".