De acordo com a pesquisa “Mulheres no Jornalismo” divulgada pela Abraji em 2018, 65% das mulheres alegaram haver mais homens nos espaços de poder do jornalismo, 41,3% das mulheres alegaram trabalhar em várias editorias e 4,6% informaram trabalhar na editoria de esportes. O especialista em Questões de Gênero Marcelo Victor da Rosa explica que diferentes fatores influenciam nos espaços de trabalho que as mulheres ocupam no jornalismo esportivo. “Negativamente, receber menos executando a mesma função do homem. Ela pode ser apresentadora, trabalhar na edição, e receber menos, muitas vezes podem ser convidadas, mas recebem menos que os homens, sendo valorizadas negativamente, de forma inferior”.
A jornalista esportiva Danielle Mugarte relata que em Mato Grosso do Sul são poucas as mulheres que trabalham com jornalismo esportivo. “A gente conta em uma palma da mão quem cobre esporte, quem faz esporte hoje”. O estudante do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Luiz Carlos relata que nunca acompanhou narrações feitas por mulheres.“Ter poucas mulheres no jornalismo esportivo, acho que é porque está intrínseco na cultura de que futebol é um esporte masculino, né? Então, é complicado quebrar algo que está há tanto tempo assim no cerne do ser humano, na cultura. Mas para mim, a copa do mundo feminina teve muitas pessoas acompanhando, tanto homem quanto mulher (...) Então, é uma coisa que está crescendo sim e que tende a ocupar mais espaço.”
A prática esportiva feminina no Brasil foi proibida por lei no ano de 1941, conforme o Art. 54 do decreto de lei nº 3.199 que constava que “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Letícia Ávila explica que esse fato histórico ainda afeta a sociedade brasileira. “Muito disso ainda é visível hoje de achar que o futebol não é lugar para mulher e sim o ballet, por exemplo”.
Da Rosa esclarece que os estereótipos são as imagens pré concebidas e que estão presentes também nos esportes. “Os comportamentos que reforçam os estereótipos geralmente possuem uma natureza biológica, são naturalizadores. Eles olham para as mulheres como ‘mulheres que simplesmente tem vagina’, com um olhar biológico e não no sentido construção de ser mulher, parece um dado pronto e este dado pronto as colocam “tem vagina, logo é mulher” e se é mulher as afastam do mundo esportivo, por exemplo de esportes de combate, contato. E logicamente, no caso das jornalistas, elas também não ficariam muito próximas desse tipo de esporte”. Isabelly Melo reforça que sempre houve mulheres que trabalharam com jornalismo esportivo. “As mulheres até falavam sobre esporte, só que era muito limitado, ela tava ali às vezes só pra enfeitar, ser o rostinho bonito. Hoje vejo as mulheres tendo mais espaço para falar com propriedade, sendo comentaristas”.