A evolução da tecnologia trouxe desafios para o jornalismo. Com o crescimento do acesso às notícias pela internet, o trabalho do jornalista precisa acompanhar o público que está mais conectado às plataformas digitais. Segundo o relatório Mídia Dados 2015 e MDi do Grupo de Mídia São Paulo, o Brasil é o 4º país do mundo com o maior número de usuários de internet com 109,8 milhões. Em comparação com 2014, o número de usuários cresceu 10,5%. Dados da Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal (SECOM) apontam que 67% dos brasileiros estão em busca de informações. O crescimento indica que os brasileiros buscam sempre mais informações, notícias pela internet, nos cibermeios jornalísticos.
O jornalista, pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Rede JorTec, Rodrigo Botelho, diz que muitos dos sistemas de publicação utilizados em jornalismo ainda não são totalmente adequados, pois além de não economizar tempo, pouco aproveitam as potencialidades que a internet oferece. Hoje, um bom jornalista precisa ser "multifuncional", ou seja, conhecer os sistemas presentes nos meios de comunicação virtuais, como códigos HTML, software Java, bancos de dados entre outros. O jornalista precisa compreender essas tecnologias, saber operá-las e saber quem são os profissionais que dominam esses meios.
Para Botelho, deve-se encontrar uma nova forma de fazer jornalismo. "Uma nova forma de agregar e de oferecer informações noticiosas, mas que tenha qualidade e que venha agregada a outros valores. Nós vamos ter que operar sistemas e tecnologias para criar novos formatos, novas linguagens, novas narrativas". As novas tecnologias são aliadas do jornalismo e é importante que o profissional esteja mais atento e disposto a trabalhar com esses novos processos de criação.
O assunto foi discutido na oficina "Sistemas de Publicação em Cibermeios", no 6º Simpósio de Internacional de Ciberjornalismo, realizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) nos dias 1, 2 e 3 de junho. Com o tema "Performance em Ciberjornalismo: tecnologia, inovação e eficiência", uma das principais discussões do Simpósio este ano foi a evolução das tecnologias digitais e dos meios de comunicação e como podem contribuir para o desenvolvimento do ciberjornalismo.
A acadêmica de Jornalismo da UFMS, Nayla Brisoti, participou da oficina e disse que se sentiu "ultrapassada". A oficina fez com que a estudante percebesse como a internet oferece possibilidades de trabalho. "Eu me senti bem ultrapassada por nunca ter me atentado, como jornalista em formação, à importância de ser ter um meio para divulgação de ideias, como os blogs, por exemplo." A estudante afirma que a experiência permitiu entender a forma com que o conteúdo jornalístico é publicado na internet e descobrir a existência de novas tecnologias interativas.
As plataformas de comunicação são convergentes, ou seja, um único dispositivo acumula diversas funções que antes não tinha. Um smartphone, por exemplo, é um dispositivo que possui diferentes funções de comunicação, entretenimento e computação. Botelho também ressaltou a contribuição que a interatividade trouxe para o jornalismo. A notícia na internet é participativa e pode se reconfigurar e se atualizar de acordo com a contribuição das pessoas.
Rodrigo Botelho ressalta a importância da formação acadêmica e dos estudantes buscarem o que é oferecido além da universidade. "O jornalista precisa ter uma formação sólida do ponto de vista humano que lhe permita ter senso crítico com o que acontece no mundo, ao mesmo tempo que tenha a destreza e a habilidade de lidar com as tecnologias para poder operá-las nesse novo espaço que é o ciberjornalismo".
Segundo Botelho, o diferencial do jornalista será criar novas formas de contar histórias e aprofundar as informações que expliquem e contextualizem o fato. "Não vai ser mais noticiar o fenômeno e sim explicar, dar elementos para que o leitor possa compreender melhor. Isso demanda investimento em tempo, recursos humanos e tecnológicos. Eu imagino que esse é o papel do jornalista do futuro".