JORNALISMO

Violência contra jornalistas cresce 150% em Mato Grosso do Sul

Relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) revela que Mato Grosso do Sul é o segundo estado com maior número de agressões aos profissionais no Centro-Oeste

Jenifer Alves, Felipe Dias, João Barbosa Marques 6/05/2021 - 20h31
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A violência contra jornalistas e ataques à liberdade de imprensa aumentou 150% em Mato Grosso do Sul de 2019 para 2020, conforme relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, publicado pela Federação Nacional de Jornalista (Fenaj). O estado concentra o segundo maior número de atentados à imprensa na região Centro-Oeste, atrás apenas do Distrito Federal, com cinco casos de violência registrados, aumento de três ocorrências quando comparado ao ano 2019. A descredibilização da imprensa foi a violência mais frequente entre os acontecimentos.

Para a diretora de Comunicação do Sindicato de Jornalismo do Mato Grosso do Sul (SINDJOR MS), Caroline de Almeida Carvalho as constantes agressões do atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro aos profissionais de imprensa são a razão para o crescimento dos ataques aos jornalistas. “Isso sem nenhuma dúvida é o reflexo direto da política neofacista implantada pelo governo de Jair Bolsonaro, eles tentam a todo instante descredibilizar e desqualificar o jornalismo profissional porque querem de certa forma serem a única fonte de informação, não aceitam outros vieses, outras narrativas”.

De acordo com a pesquisa realizada pela Fenaj, o Mato Grosso do Sul também foi um dos dois estados com maior número de assassinatos de jornalistas. Lourenço Veras, conhecido como Léo Veras, foi morto a tiros em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia na fronteira com Ponta Porã. Veras era responsável pelo ciberjornal Ponta Porã News, atuava profissionalmente nas duas cidades, na qual denunciava o crime organizado na região, e por esse motivo é citado no relatório da Fenaj.

Marcos Ermínio/MidiamaxO impedimento ao exercício profissional também configura como violência (Foto: Marcos Erminio/Midiamax)

A repórter de uma emissora local, Camilla Jovê foi alvo de críticas e agressões verbais por parte de manifestantes em frente à Prefeitura de Campo Grande, em 25 de março deste ano. A equipe da emissora aguardava o encerramento de uma reunião na Prefeitura sobre o decreto estadual que intensificava as medidas restritivas no estado, momento no qual foi agredida. “Foi durante um protesto na prefeitura, e não era para cobrir o protesto nem para falar nada sobre o assunto pelo qual eles estavam lá. Eu fui apenas para cobrir outra matéria, fazer uma entrevista sobre um outro assunto que eu precisava, e gritaram comigo e com o meu cinegrafista”.

Para Caroline Carvalho trata-se de um tipo de violência simbólica, com tentativas de desqualificar e de chamar de fake news desde o primeiro instante, o que acaba por legitimar violências mais diretas a jornalistas. Camilla Jovê destaca que durante o exercício de sua profissão é comum o sentimento de medo e retaliação. “A gente não pode reagir, porque tem 50 pessoas gritando com você e qualquer coisa que você vá dizer ninguém vai prestar atenção, eles só vão ver que você está reagindo, então vão reagir mais ainda”.

 

A diretoria do SINDJOR MS auxiliou na identificação dos autores e ofereceu assistência jurídica necessária à jornalista. Conforme Caroline Carvalho, denúncias de casos como o citado são comuns. “É comum chegar este tipo de denúncia ao sindicato e atuamos muito fortemente para coibir esses ataques. Os nossos encaminhamentos são primeiramente prestar orientação jurídica para a vítima dessa violência, mostrar como ela deve se portar, como ela deve denunciar e estamos presentes em todas as etapas”. A instituição atua por meio de de notas públicas, manifestações de repúdio e com o apoio de outras entidades e instituições competentes.

Segundo o jurista Marco Henrique Pereira é importante entender que os jornalistas exercem uma importante função social relacionada aos direitos da liberdade de expressão e da liberdade de informação. “A liberdade de imprensa é um conjunto de direitos que vêm previstos na Constituição, além de vários tratados de direitos internacionais dos quais o Brasil é signatário. Então quando ocorrem violações à liberdade de imprensa podemos estar diante de violações de direitos humanos, e nesse caso o Ministério Público deve ser comunicado para que este órgão tome as providências cabíveis”.

O presidente da República lidera o número de ataques, seguido por servidores públicos e políticos entre os que mais atentaram contra a liberdade de imprensa. Os profissionais que atuam no formato televisivo foram os que mais sofreram agressões diretas. De acordo com um levantamento feito pela organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras, o Brasil corresponde ao 111º no ranking de liberdade de imprensa, uma queda de quatro posições em relação ao levantamento de 2020.

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