MEIO AMBIENTE

Rodovia MS-040 registra 289 atropelamentos de animais silvestres em seis meses

Monitoramento realizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas aponta que mamíferos são maioria das vítimas

Dândara Genelhú, Pâmela Machado e Stefanny Azevedo31/08/2018 - 13h16
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O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) por meio da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab) divulgou um levantamento que contabilizou 289 atropelamentos de animais silvestres na rodovia MS-040. O monitoramento ocorreu entre fevereiro e julho de 2018 e registrou mortes de animais que estão em risco de extinção, dentre eles tamanduás-bandeiras com o quarto maior número de mortes. Os atropelamentos impactam negativamente na fauna e, de acordo com publicação realizada pelo IPÊ, causam danos ambientais. 

O IPÊ é uma organização não governamental que promove a educação ambiental por meio de estudos e pesquisas. O Incab é um programa desenvolvido no Instituto para Preservação da anta-brasileira, com foco em Mato Grosso Sul. Em reunião realizada em fevereiro deste ano, pesquisadores do Incab e Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS) discutiram meios de minimizar impactos ambientais dos atropelamentos de animais. Em agosto, o portal do IPÊ divulgou em publicação o monitoramento e do total de 289 animais mortos, 209 eram mamíferos, 68 aves, 11 répteis e um anfíbio.

O professor e doutor em Zoologia, Marcelo Oscar Bordignon afirma que esses atropelamentos constituem formas de impacto na fauna, principalmente quando atingem espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e a anta. Em casos de animais de médio e grande porte, geralmente os atropelamentos ocorrem por caminhões ou carretas. “Geralmente, o atropelamento, quando não ocorre vítima humana, é feito pelos caminhões, porque não se encontra no local do acidente pedaços de carro. Então, possivelmente, foi um veículo de grande porte que bateu em um animal desse”. Segundo o professor, alguns animais são mais afetados pelos atropelamentos por aspectos biológicos como visão e agilidade do animal. 

Segundo Bordignon, a conscientização do motorista é a alternativa mais adequada para reduzir os atropelamentos, além de medidas de contenção de velocidade, lombadas eletrônicas e quebra molas. Bordignon afirma que essas barreiras físicas são inseridas de acordo com resultados de pesquisas. "Você tem que detectar os locais de maior nível de atropelamento, dados estatísticos. Muitas vezes, a Polícia Rodoviária tem esses dados e eles conseguem estimar trechos que são mais adequados a diminuição da velocidade".

O tenente-coronel da Policia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul e doutor em Ecologia, Ednilson Paulino Queiroz alerta os motoristas para evitar esses atropelamentos. Além do respeito à velocidade estabelecida para a via, a atenção é um dos pontos primordiais. "À noite, se ele ter bastante atenção, consegue enxergar a claridade dos olhos dos animais. Então, se tiver cuidado, consegue evitar o atropelamento. Tem que pôr na cabeça que o ser pensante é ele, o animal pode atravessar a qualquer momento". Queiroz adverte os motoristas para quais atitudes tomar em casos de atropelamento.

Queiroz afirma que os atropelamentos podem aumentar conforme a quantidade de rodovias que atravessam áreas rurais com reservas ambientais. “Nessas reservas você tem uma quantidade maior de fauna e os atropelamentos vão acontecer”. Segundo o Relatório Parcial do IPÊ, publicado em julho de 2016, o aumento do número de rodovias causa alteração no ecossistema e impactos ambientais negativos.

Para a zootecnista e coordenadora da Unidade de Fauna do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), Ana Paula Felício é necessário a aplicação de medidas mitigadoras, ou seja, ações tomadas com o objetivo de minimizar impactos negativos no meio ambiente como proteção da fauna. A Lei 6.938, prevista no código da Política Nacional do Meio Ambiente, garante a preservação dos ecossistemas brasileiros. “As medidas mitigadoras, de qualquer forma são sempre necessárias na hora de se avaliar uma pavimentação ou a construção de uma nova rodovia”.

   O número de animais atropelados é maior onde há mais fluxo de veículos
   (Foto: Dândara Genelhú)

Essas medidas objetivam anteceder, minimizar ou eliminar eventos adversos que causam prejuízos ao meio ambiente. Algumas destas medidas podem ser encontradas na MS-040 e na BR-262. Na MS-040 foram feitas passagens específicas para gado, com o intuito de atender às fazendas que se localizam nas proximidades. São pontos de passagem também para espécies silvestres. Na BR-262, rodovia que atravessa o Pantanal foram instalados radares para diminuir os atropelamentos de animais silvestres como medida mitigadora.

 A coordenadora da Unidade de Fauna do Imasul, Ana Paula Felício descreve algumas etapas do licenciamento de rodovias. “O Imasul faz o licenciamento das atividades, um dos componentes dentro de um licenciamento são os planos básicos ambientais e os planos de automonitoramento. Faz parte do processo do licenciamento que é cobrado das empresas que normalmente  que ganham as licitações para fazer as estradas ou a pavimentação de alguma já existente”.

O técnico em Agropecuária Marcelino Pereira Ribeiro utiliza a MS-040 mensalmente no trecho de Campo Grande à Santa Rita do Pardo e se depara, em média, com três animais mortos por atropelamento durante uma viagem. Ribeiro observa que os animais silvestres mais comuns são antas, tamanduás-bandeiras e tatus, que ficam à beira da estrada, no acostamento. A atual situação da rodovia é um problema para o motorista. “A sinalização existente é insuficiente, precisa ser melhorada”.

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