Problemas ambientais
Siqueira explica fatores externos que afetam a saúde dos rios (Foto:Mylena Fraiha)
De acordo com o biólogo e presidente da Organização Não-Governamental Ecologia e Ação (Ecoa), André Siqueira, atualmente a qualidade da água dos rios é mais afetada pelas ações de outros setores, como o agronegócio, do que pela prática da pesca propriamente dita. "Hoje nós temos uma situação bem mais grave de uso e ocupação do solo da bacia, por não respeitarem a mínima legislação que nós temos hoje. Como é o caso da pecuária, que hoje acessa os principais rios da bacia. Temos também a questão dos agrotóxicos, a presença das barragens, o desmatamento de matas ciliares e assoreamento. Então, existe uma série de fatores que realmente geram um impacto irreversível dentro dos rios, muito mais do que você ter a presença de 4.000 pescadores profissionais em um território gigantesco como o Pantanal".
Siqueira ressalva a necessidade de desenvolver um estudo sobre o impacto do decreto em níveis econômicos e sociais. "Primeiro, precisa ter todo um estudo de quanto isso vai impactar uma economia que é pujante e riquíssima. A pesca é segunda atividade que mais gera emprego e renda no Pantanal, só perde para a pecuária. Então, precisa ser muito bem avaliado, porque as pessoas que sobrevivem da pesca hoje, não possuem nenhum capital”.
Falta de diálogo
Para o presidente da Associação dos Pescadores de Isca Artesanal de Miranda-Apaim, Lieze Francisco Xavier, a elaboração do decreto deveria ter incluído os outros agentes envolvidos no ciclo da pesca. “Ele (governador) deveria antes ter convidado os pescadores de colônia e associações, outros pescadores profissionais, vários amadores, os empresários das iscas, os empresários das peixarias, os biólogos, as universidades, a Embrapa. Colocado todo mundo na mesa para discutir. A pesca não é só o pescador, envolve muita gente”.
Segundo Xavier, a medida tomada pelo governo foi precipitada e sem embasamento científico. “Se é para o meio ambiente, que faça a coisa certa. Façam pesquisas e tragam dados reais. Nesse cota zero, não apresentaram nenhum dado científico até hoje”. Xavier, com experiência de 36 anos de profissão, destaca outros problemas, como o desmatamento, têm afetado a situação dos rios e a reprodução dos peixes. “O que tá morrendo é o nosso rio. Nosso rio tinha poço de 20 metros de profundidade, agora ele está ficando assoreado por causa de desmate irregular. Além disso, tem também as toneladas de agrotóxico que chegam nos rios e afetam os peixes”.
Turismo de pesca
Segundo o diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, Bruno Wendling, a implantação da cota-zero deveria ter sido tomada antes, para se alinhar às novas práticas do turismo de pesca e ambiental. Para Wendling, assim como os pecadores, existem outras categorias profissionais que estão envolvidas no circuito econômico do turismo de pesca e que devem se reestruturar e buscar novos tipos de organizações. “Eles, os pescadores, terão que se readequar. Aqueles que não acreditam que a cota-zero é o melhor modelo deve entender que os números mostram que é, eles naturalmente terão que se organizar de forma a atender um novo perfil de turista, aquele que vem buscar destinos que respeitem os seus ativos naturais.”
De acordo com Wendling, caso a cota-zero deixasse de ser implantada, haveria a necessidade de melhorar a situação de turismo de pesca no estado, para qualificar e atender as demandas do mercado. Segundo Wendling, a lei é um passo para a melhoria na qualidade do turismo de pesca no estado. “A pesca é muito importante em termos de imagem do estado, ela pode crescer ainda mais se se trabalhar com turismo responsável, turismo de pesca e solte, esportiva, então acho que pode agregar ainda mais o nosso produto, que já é bem conhecido nacional e internacionalmente.”